Está a tornar-se claro que tanto o optimismo como o pessimismo em torno do potencial da Inteligência Artificial têm sido muito exagerados.
Depois de tanto entusiasmo e de triliões de dólares de investimento, a bolha da IA parece estar finalmente a rebentar. Grande parte da queda do mercado que ocorreu no princípio de Agosto concentrou-se nas empresas tecnológicas, todas elas profundamente investidas nesta área tecnológica. O maior perdedor foi a famosa empresa de chips Nvidia, que “perdeu um trilião de dólares de avaliação, 30% do total, desde o seu máximo em 2024”.
Entre as razões para o descalabro estão o excessivo entusiasmo por parte de gurus da IA como Sam Altman, o esgotamento dos consumidores, que agora se sentem desiludidos com os produtos que utilizam IA, e investidores impacientes, como a inevitável Goldman Sachs, que pretendem um retorno mais rápido do seu investimento. Assim, como a maioria das bolhas, as empresas de IA prometeram demais e entregaram de menos, fazendo com que o mercado se corrigisse.
Felizmente, a degradação do valor das tecnológicas de inteligência artificial não fica por aqui. A tecnologia parece estar a bater num muro. Como muitos observaram, os servidores de dados de IA consomem quantidades colossais de energia, colocando uma enorme pressão sobre as redes eléctricas e fazendo explodir os custos de operação. Exigem também quantidades igualmente colossais de capital (na ordem dos biliões de dólares) e financiamento contínuo – para referência, estima-se que o ChatGPT custe à OpenAI 700.000 dólares por dia, para funcionar (estupidamente).
Pior ainda, os programas de IA ficaram rapidamente sem matéria prima, e quanto mais vasculham na internet, mais a internet está repleta de um corpo de trabalho disfuncional produzido por IA – degradando o produto final. Inicialmente, um Modelo de Linguagem de Grande Dimensão (LLM) como o ChatGPT podia analisar a vasta quantidade de conteúdos produzidos por humanos na Internet e utilizar esses dados para produzir um ensaio único que satisfizesse os parâmetros dos seus utilizadores. Mas agora, há tanto conteúdo online gerado por IA que qualquer produto gerado por um modelo LLM se tornará cada vez mais derivado, defeituoso e incompreensível. Lixo feito a partir de lixo que produz mais lixo.
Na origem de todas estas questões está um profundo mal-entendido colectivo sobre a IA. Apesar do problema ser óbvio, tem sido difícil de enxergar, especialmente pelos os génios de QI elevado de Silicon Valley: A ‘inteligência’ artificial não é inteligência humana. Durante demasiado tempo, os tecnólogos falaram da IA como se fosse um cérebro sintético que reflecte as funções dos cérebros humanos. Assim, descrevem os computadores que aprendem, comunicam e executam tarefas administrativas como se fossem trabalhadores conscientes.
E, se dermos ouvidos a tecno-optimistas como Marc Andreessen e Amjad Massad, a IA pode até fazer o trabalho de jornalistas, professores e psicólogos. Andreessen previu que
“cada criança terá um tutor de IA que é infinitamente paciente, infinitamente compassivo, infinitamente conhecedor e infinitamente prestável. O tutor de IA estará ao lado de cada criança a cada passo do seu desenvolvimento, ajudando-a a maximizar o seu potencial com a versão máquina do amor infinito”.
A IA não só compreende os seres humanos, como os compreende infinitamente melhor do que os seres humanos se compreendem a si próprios e uns aos outros. Uma “máquina de amor infinito”. Que conceito tenebroso.
Juntamente com esta interpretação incorrecta e distópica da IA está a ideia errada de que as mentes humanas são simplesmente computadores orgânicos com uma programação deficiente. A alma é geralmente reduzida a pedaços de dados que podem ser descarregados ou carregados. Sem dúvida, Andreessen imagina os estudantes sentados aos pés dos seus robôs instrutores, aprendendo calmamente com eles da mesma forma que um computador instala uma nova aplicação.
Devido a estas analogias imperfeitas, muitos presumiram que a IA substituiria a maioria dos trabalhadores de colarinho branco e acabaria por assumir o controlo das organizações – afinal, para quê ter mortais falíveis ao leme quando se pode ter um mestre de silicone infinitamente sábio e competente a tratar de tudo? O verdadeiro desafio, segundo os especialistas, era lidar com as massas deslocadas e desempregadas que inevitavelmente se tornariam obsoletas e garantir que os robôs continuassem a ser simpáticos para os seres humanos. Neste aspecto, a única diferença real entre o optimista e o pessimista era que um acreditava que a IA iria criar uma utopia, enquanto o outro acreditava que a IA iria criar uma distopia.
É agora claro que nenhuma destas possibilidades é verdadeira, porque a IA não tem a capacidade de substituir as pessoas, nem nunca teve. Na melhor das hipóteses, é uma ferramenta poderosa que tem mais em comum com uma aplicação de correcção ortográfica e gramatical ou um motor de busca, ou um panfleto de propaganda soviética, do que com o mais estúpido dos seres humanos.
É por isso que a utilização da IA para ganhar dinheiro tem sido um fracasso tão grande. Os empregadores pensavam que podiam ter um programa de IA para fazer o trabalho dos seus empregados de forma mais eficiente por uma fracção do preço. No entanto, os inputs e a formação necessária para completar até as tarefas mais básicas são avassaladores. Em vez de aprender a programar operações complexas num robô, a maioria dos gestores estaria melhor se simplesmente dissesse aos seus trabalhadores o que fazer e confiasse na sua capacidade de cumprir essas tarefas.
O mesmo se aplica à utilização da IA para curar a actual epidemia de solidão. Talvez algumas almas desesperadas não se importem com a companhia de um sistema operativo, mas isso só vai alimentar os piores aspectos daqueles que lutam para formar relações significativas. Em vez de servir como prática para uma interacção real, reforça os hábitos anti-sociais que tornam uma pessoa solitária. Em vez de fazer sacrifícios e desenvolver empatia, o utilizador solitário está a ceder a ilusões e a cultivar um narcisismo extremo.
Ironicamente, o maior benefício da IA é demonstrar como os seres humanos são especiais e insubstituíveis. Consequentemente, o seu sucesso financeiro e cultural dependerá do facto de conseguir elevar o potencial humano, tornando-se uma ferramenta útil, ou o contrário, tornando-se um fardo dispendioso.
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