A Nasdaq está a impor políticas de identidade às empresas americanas, ao mesmo tempo que isenta a China comunista da sua agenda DEI.

 

Talvez fosse possível, por hipótese absurda, suportar toda a falsa sinalização de virtude em torno da governança ambiental, social e corporativa (ESGEnvironmental, social and governance) por parte da canalhada do capitalismo woke, se essas políticas fossem aplicadas igualmente a todas as empresas. Mas não são. Nem de perto, nem de longe.

Veja-se o que está a acontecer com a Nasdaq, uma grande bolsa de valores que serve a indústria tecnológica. Se o director executivo de uma empresa quer que as suas acções sejam negociadas sem problemas, deve candidatar-se a ser “cotado”, ou seja, a ser negociado numa grande bolsa de valores, como a Bolsa de Valores de Nova Iorque ou a Bolsa de Valores Nasdaq, as duas maiores bolsas deste tipo. O cumprimento das chamadas normas de admissão à cotação da Nasdaq deveria ser um processo normalizado, como a divulgação de lucros, perdas e outras métricas lógicas de governação empresarial, para garantir que a direcção executiva é minimamente competente.

Mas não é bem assim que as coisas funcionam, neste invertido século XXI. Em 2020, a obsessão da Nasdaq com a ESG e a religião woke cresceu a níveis delirantes. A bolsa adoptou uma regra que estabelece cotas de políticas de diversidade, forçando todas as empresas listadas a divulgar perante um conselho de ‘peritos’ as suas políticas de identidade. Os críticos chamaram-lhe um exercício de vergonha pública; as empresas são obrigadas a “explicar por que razão não têm pelo menos dois directores etnicamente diversos, incluindo um que se identifique como mulher e outro que se identifique como uma minoria sub-representada ou LGBTQ”.

Agora adivinhe, gentil leitor, quem está isento deste exercício de maoísmo corporativo? Os chineses, claro. A economia da China está quase a rivalizar com a americana em termos de dimensão. As suas empresas cotam as suas acções em todas as principais bolsas, incluindo a Nasdaq. As corporações chinesas são também algumas das maiores poluidoras do mundo; sendo controladas por um dos regimes mais repressivos do planeta. Reprovariam em quase todas as métricas ESG se também fossem obrigadas a cumpri-las, mas não são, nem pela Nasdaq nem por qualquer outra organização adepta das políticas de identidade empresariais.

Por exemplo, na Oferta Pública inicial da Alibaba, a concorrente chinesa da retalhista online Amazon, a sua pontuação ESG não foi divulgada, apesar da empresa ser tudo menos diversa, não querer saber de políticas woke para coisa nenhuma e estar a borrifar-se para a ideologia de género.

Na verdade, os senhores da Nasdaq permitem que a China corporativa enriqueça enquanto oprime a comunidade LGBTQ e persegue (alguns diriam que comete genocídio) a sua minoria étnica Uyghur. O motivo? É capaz de ter a ver com dinheiro.

A Nasdaq perderia potencialmente milhares de milhões de dólares se estes critérios fossem aplicados de forma igual. O mesmo aconteceria com a Goldman Sachs. A corretora de David Solomon pode canalizar de forma intensa e virulenta a patologia woke para as empresas ocidentais, mas não vira as costas à subscrição de acções de empresas chinesas como a Alibaba.

A Disney também prega algumas das políticas de identidade e ideologia de género mais radicais que se possa imaginar, que se infiltram nas suas produções e nas experiências dos parques temáticos. Mas, ao mesmo tempo, também desculpa as violações dos direitos humanos na China, enquanto procura expandir-se no continente asiático, permitindo até a censura de segmentos dos seus filmes. O mesmo acontece com a BlackRock, líder em ESG nas empresas da sua carteira nos EUA, mas que não utiliza os mesmos critérios quando compra acções chinesas. Se o fizesse, irritaria o governo chinês, que aprovou a recente incursão da BlackRock na venda dos seus fundos à enorme e crescente classe de investidores chineses.

Sim, a BlackRock é a primeira gestora financeira americana a oferecer fundos a investidores chineses, e não será certamente a última. O director executivo do JP Morgan, o insuportável Jamie Dimon, também um defensor de tudo o que é woke, chegando mesmo a ajoelhar-ser publicamente durante a agitação social Black Lives Matter de 2020, também adora o mercado chinês; o JP Morgan está a comprar participações em bancos chineses e a abrir sucursais no país. A empresa também actua como subscritora da Alibaba, ignorando igualmente a ausência de políticas de identidade. A Apple, gigante da tecnologia americana, constrói lá os seus iPhones; a Tesla, está a salvar o mundo com os seus electrodomésticos sobre rodas, mas tem fábricas na China, que é maior poluidor do planeta, de longe.

Mark Cuban, o bilionário empresário tecnológico e proprietário de uma equipa profissional de basquetebol, tenta defender o indefensável, que o woke vende; porque alegadamente a geração mais jovem gosta de justiça social e de produtos que reflictam políticas progressistas. Diz que a NBA está a apostar tudo na justiça social e que o seu sucesso em atrair uma base de fãs mais jovem que em breve dominará as vendas é a prova de que ninguém está a falir por se tornar “woke” (o facto de ter contratado um dos melhores jogadores da actualidade, o esloveno Luka Doncic, é capaz de ser uma variável pertinente para esta questão, mas como Luka é branco e tudo menos politicamente correcto, Cuban prefere omitir o facto).

Mais a mais, a NBA é a única liga desportiva profissional norte-americana que tem negócios com o PCC para transmitir jogos na China. Há tanto dinheiro em jogo para o basquetebol profissional que a NBA é conhecida por disciplinar qualquer executivo que se pronuncie contra a verdadeira opressão no império do meio e a brutal repressão dos manifestantes pró-democracia em Hong Kong, por exemplo.

Perguntada sobre estas óbvias contradições, Adena Friedman, directora executiva do Nasdaq e promotora fundacional das suas insanas regras de cotação, mandou os seus assessores anunciar que o progresso é feito gradualmente; e que por enquanto a Nasdaq fica satisfeita quando  os conselhos de administração das empresas chinesas integram duas mulheres, mesmo que sejam ambas comunistas de primeira linha.

Um antigo funcionário do Departamento de Justiça do governo de George W. Bush, que também faz parte de conselhos de administração de empresas, afirmou que por detrás do esforço da Nasdaq em favor da diversidade está a intenção de passar para o mundo empresarial a ideologia progressista e neo-liberal dos poderes instituídos em Washington. E está a resultar. Desde que as regras do Nasdaq entraram em vigor, a empresa de consultoria McKinsey revelou que 70% de todos os directores nomeados para conselhos de administração de empresas já não são heterossexuais, brancos e do sexo masculino.

Também aqui, no ambiente corporativo, é mais que óbvio que estamos a perder a guerra cultural.