Elon Musk com Thierry Breton em 2022.

 

Bruxelas acusou o seu comissário responsável pelo mercado interno de ter agido sem autorização superior, ao enviar uma carta a Elon Musk, ameaçando-o de penalidades, caso se verificasse que os conteúdos publicados na rede social X colocavam os cidadãos da UE em risco de “danos graves”.

Thierry Breton, o comissário francês, publicou a carta de aviso no X, a plataforma de Musk, horas antes de o bilionário entrevistar o candidato presidencial norte-americano Donald Trump, também no X.

 

 

Na terça-feira, a Comissão Europeia negou que Breton tenha tido a aprovação da sua chefe para enviar a carta, entre rumores de que o gabinete de Ursula von der Leyen reagiu com fúria ao comportamento rebelde de Breton. A porta-voz da Comissão Europeia afirmou em tom crítico::

“O momento e a redacção da carta não foram coordenados nem acordados com a presidente nem com os comissários”.

Um outro funcionário da UE, que pediu para não ser identificado, disse:

“Thierry tem uma forma muito própria de trabalhar e de pensar”.

A Comissão tem vindo a investigar o X, antigo Twitter, desde o ano passado, por alegações de não conformidade com a sua distópica Lei dos Serviços Digitais (DSA) aprovada em 2022, que visa alinhar o poder crescente das plataformas de rede social às expectativas de censura da União Europeia.

Na terça-feira, a comissão acrescentou:

“A investigação sobre a disseminação de conteúdos ilegais e a manipulação de informações está em curso, estamos a analisá-la e, claro, tudo o que acontece na plataforma contribui para esta avaliação. A resposta do X à gestão deste tipo de conteúdos é tida em conta no decurso da investigação”.

A carta de Breton foi enviada num contexto de receios crescentes na Europa sobre a fantasmática propagação de ‘desinformação’ no X. As informações falsas que circulam nas redes sociais são responsabilizadas por alimentar os movimentos da extrema-direita e a propagação dos recentes motins no Reino Unido, enquanto as notícias falsas da imprensa corporativa e a sua relação directa com os distúrbios e a violência gerados por movimentos de extrema-esquerda são desvalorizadas ou completamente ignoradas.

Ao mesmo tempo, os políticos europeus têm estado ansiosos com um potencial regresso à Casa Branca de Trump, que impôs tarifas sobre os produtos europeus durante o seu anterior mandato, que exigiu que os países do velho continente contribuíssem no que lhes é devido para suprir os custos da NATO e que está aparentemente interessado em fazer a paz com a Rússia. Que horror.

Funcionários próximos de Breton afirmaram que a carta já estava planeada há algum tempo e que a entrevista, que, com um bilião de visualizações, bateu os recordes todos da história das audiências, parecia ser um “ponto de partida” adequado para a publicação.

Breton tem poderes para supervisionar a aplicação da DSA e pode comunicar de forma independente com as tecnológicas, mas por alguma razão, von der Leyen não gostou da cartinha pidesca e não, de certeza, por ser pidesca.

Na infame missiva, Breton referiu-se à entrevista com Trump e disse que era “obrigado” a recordar a Musk, enquanto “entidade individual que controla, em última instância, uma plataforma com mais de 300 milhões de utilizadores em todo o mundo, um terço dos quais na UE”, as suas obrigações legais ao abrigo da DSA, escrevendo:

“Isto significa, nomeadamente, garantir, por um lado, que a liberdade de expressão e de informação seja efectivamente protegida e, por outro lado, que sejam tomadas todas as medidas de atenuação proporcionadas e eficazes relativamente à amplificação de conteúdos nocivos. Isto é importante no contexto de exemplos recentes de agitação pública provocada pela amplificação de conteúdos que promovem o ódio, a desordem, o incitamento à violência ou certos casos de desinformação”.

Musk respondeu à carta de Breton com um meme do filme Tropic Thunder, de 2008, que mostrava uma personagem a gritar:

“Dá um grande passo atrás e f*** literalmente a tua própria cara”.

 

 

Um funcionário da UE disse que Breton “tomou nota” da resposta de Musk, mas que ainda estava à espera de uma resposta mais formal. Pode esperar sentado.

Um porta-voz da campanha de Trump também respondeu a Breton, afirmando:

“A União Europeia devia meter-se na sua vida em vez de tentar interferir nas eleições presidenciais dos EUA”.

Mais tarde, Musk escreveu num post do X que também teria “todo o prazer em receber” Kamala Harris, a rival de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, para uma conversa no X. Coisa que vai acontecer no dia de S. Nunca, de manhãzinha.