“O momento dela”, lemos na capa da mais recente edição da revista Time, enquanto, num retrato a carvão de inspiração estalinista a vice-presidente Kamala Harris olha para o horizonte, num exercício de glorificação de todas qualidades que a senhora não tem.

Em desespero de causa, os media corporativos estão actualmente a tentar fazer de Kamala uma figura política transformadora. Mas, ao mesmo tempo, têm de a apresentar como uma moderada sensata, como uma candidata de consenso. Uma missão quase, quase, quase impossível, só acessível a propagandistas de grande calibre.

Há apenas algumas semanas, antes de Joe Biden desistir da eleição presidencial de 2024, todos estavam de acordo: Kamala Harris era o elo mais fraco, um embaraço nacional, e devia ser ignorada até que desaparecesse da paisagem.

Isso já não é uma opção.

O establishment está de pleno acordo que Trump é uma ameaça à sua própria existência (e quem dera que isso fosse verdade). Por isso, tem de ignorar os defeitos de Kamala e desfazer Trump em pedaços, enquanto tenta entusiasmar as massas com uma candidata que prima pela incapacidade, pela vacuidade, pela idiotia, e que nem um programa eleitoral propôs aos americanos.

Harris vai romper superficialmente com posições e políticas anteriores – como está a fazer em relação à fronteira com o México, que descobriu agora que existia e que está escancarada, apesar de ter sido nomeada pelo seu chefe como czarina da raia – de forma a ganhar o apoio dos eleitores desiludidos com os fracassos de Biden, mas ainda alérgicos à candidatura de Trump.

Os meios de comunicação social continuarão a retratá-la como uma figura de “esperança e mudança”, ao mesmo tempo que dão destaque às suas escassas propostas, geralmente inconsistentes e sem sentido.

Acontece que o povo americano já experimentou viver sob a liderança de Kamala. Os media estão a tentar fazê-los esquecer esse desastre e forçá-los a ficar entusiasmados com alguém que só promete mais do mesmo: uma América a naufragar na sua própria decadência moral e institucional.

A capa da Time é assim um exemplo, gritante e obsceno, de como a imprensa corporativa vai retratar Kamala daqui para a frente: Como uma pessoa que ela não é. Como o inverso da pessoa que ela é. Como sempre fazem os mestres propagandistas dos mais sinistros regimes totalitários da história da humanidade.