Submersos na cultura da contemporaneidade, os jovens rapazes se inebriam na concepção moderna e “desconstruída” da masculinidade. Tomada por um pensamento relativista e por uma hermenêutica de luta, não somente de classes, mas de gênero, onde o ideal de complementaridade foi trocado por uma rivalidade mortal que tem por objetivo o extermínio da figura masculina, já não há mais resquícios culturais que incentivem os jovens a se tornarem homens.
Começando pela recusa e desprezo da figura paterna, passando pela instrumentalização da linguagem para remeter qualquer ato masculino a algo “tóxico” e substancialmente mal, esse processo de eliminação da masculinidade tem, infelizmente, encontrado espaço dentro da ausência de personalidade e ao desinteresse da própria identidade. Por não saber quem é ou quem deveria ser, torna-se o oposto, descaracteriza-se, corrompe-se e morre ontologicamente, na total perda do próprio ser. As características naturais de um bom homem têm sido evitadas e rechaçadas, seja por aqueles que cedem à feminilidade ou pelos que insistem em tentar enxergar masculinidade fora da virtude. Em ambos os casos, o compromisso e a responsabilidade foram substituídos pela ‘pseudoliberdade’ para tudo, o senso de sacrifício e a lealdade pelo comodismo e egoísmo, a bravura, a coragem e a fortaleza cederam espaço para a covardia, a fraqueza e a hipersensibilidade.
Os jovens de hoje são tragicamente moldados por uma sociedade que glorifica a desconstrução sem oferecer uma alternativa sólida de reconstrução. O desmantelamento dos valores tradicionais, outrora considerados pilares da masculinidade, deixa um vácuo preenchido por confusão e insegurança. A masculinidade, outrora celebrada em sua força protetora e ética inabalável, agora é frequentemente associada a nocividades, criando uma geração que se vê perdida entre expectativas contraditórias e ideais fragmentados. A narrativa contemporânea, ao vilificar características tradicionalmente masculinas como ambição, assertividade e liderança, falha em reconhecer que tais qualidades, quando orientadas por virtudes, são fundamentais para a construção de uma sociedade robusta e equilibrada.
A coragem e a bravura, por exemplo, não são meramente traços de guerreiros, mas são vitais para enfrentar desafios cotidianos e defender princípios justos em face da adversidade. A morte simbólica da masculinidade não é apenas uma perda para os homens, mas para a sociedade como um todo. Sem a influência estabilizadora e protetora de homens virtuosos, as comunidades enfrentam um desequilíbrio que afeta todos os membros, independentemente de gênero. É necessário, portanto, resgatar as qualidades essenciais da masculinidade.
A restauração da masculinidade exige um esforço coletivo e uma reavaliação dos valores culturais atuais. É crucial que a sociedade, como um todo, reconheça a importância de figuras masculinas fortes e virtuosas, capazes de inspirar e guiar as próximas gerações. Programas educacionais, representações midiáticas positivas e comunidades de apoio que valorizem a integridade, a responsabilidade e a coragem podem servir como pilares para essa renovação. A verdadeira liberdade, afinal, está enraizada no entendimento e na prática das virtudes que sustentam não apenas a masculinidade, mas a própria humanidade.
O funeral dos homens, portanto, não deve ser um ponto final, mas um chamado à ressurreição de uma masculinidade equilibrada e virtuosa, capaz de enfrentar os desafios do presente sem renunciar às qualidades que, ao longo da história, foram fundamentais para o progresso e a estabilidade da civilização ocidental. Do contrário, as virtudes dos bons homens que construíram o ocidente serão entregues à própria morte, e em marcha nesse funeral, quem carregará o peso dos cadáveres da identidade são os próprios homens, que, perdidos, vagueiam por aí, vazios de si.
PAULO H. SANTOS
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Paulo H. Santos é professor particular de filosofia, bacharel em filosofia (UCP – Brasil) e licenciado em História (UNESA – Brasil). Católico. Escreve em português do Brasil
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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