Segundo a douta opinião do realizador Shaun Peterson, tudo o que sabemos sobre o Presidente Abraham Lincoln está errado. Afinal, Lincoln era um homossexual – porque preferia a companhia de homens – ou assim argumenta o seu novo ‘documentário’, Lover of Men: The Untold History of Abraham Lincoln, lançado a 10 de Julho.

O trabalho de ficção mascarado com traje académico tem uma sinopse peremptória, que reza assim:

“Lover of Men examina a vida íntima do presidente mais importante da América, Abraham Lincoln. Contado por proeminentes estudiosos de Lincoln e com fotografias e cartas nunca antes vistas, detalha as relações românticas de Lincoln com os homens. O filme preenche uma importante lacuna na história americana e desafia o público a considerar porque é que temos uma visão tão limitada da sexualidade humana. Lover of Men não é apenas uma exploração dos papéis de género e da identidade sexual, mas serve também como um exame da intolerância americana”.

Bom deus.

De acordo com Peterson – e, alegadamente, segundo cartas nunca antes vistas de autoria de Lincoln – o décimo sexto presidente americano dormiu com mais homens do que mulheres. O ponto crucial da afirmação de que Lincoln era um homossexual são as cartas que trocou com um amigo de infância, Joshua Fry Speed.

Numa das cartas, Lincoln escreve:

“Querido Speed, vou sentir-me muito só sem ti. Com amor, Lincoln”

E isto implica, de acordo com Peterson, que o carismático Presidente era maricas.

 

 

Não, Lincoln não era homossexual.

Para além de revelar que nada sabe da relação entre homens no tempo da Guerra Civil Americana, Shaun Peterson baseia-se em interpretações falaciosas da prosa de Lincoln, numa biografia de 1926 de Carl Sandburg, que se refere à relação de Lincoln com Speed como tendo “um traço de lavanda e manchas suaves como as violetas de Maio”, e em cartas “encontradas” pelo activista dos direitos dos homossexuais Larry Kramer, em 1999.

É porém líquido, até nas academias mais liberais dos EUA, que Sandberg estava a referir-se apenas à relação de intimidade, vulnerável e sincera entre os dois amigos, que traia a imagem pública de intrépida masculinidade que ambos cultivavam. Não mais que isso.

As cartas supostamente escritas por Lincoln, “detalhando explicitamente a sua homossexualidade”, e ‘encontradas’ por Larry Kramer são um embuste.

Esta é apenas mais uma tentativa de conspurcar a História com a sujidade moral do neo-liberalismo. Como o Contra tem noticiado amiúde, no mundo documental e ficcional das agências de propaganda que servem pressurosamente os poderes instituídos, os saxões eram comandados por duques originários do Caribe, foram os africanos subsarianos que construíram Stonehenge; Newton era mestiço e entre os samurais do século XVII teriam que haver negros, tão negros como Cleópatra; os vikings, para além de serem uma cambada de transexuais, tinham líderes nascidos na Nigéria; Alexandre o Grande foi um general do movimento LGBT, Napoleão tinha medo da própria sombra, o movimento @metoo começou na Idade Média e os pigmeus são originários da Irlanda.

Entretanto, a famosa ‘Força’ que orienta e fortifica os jedis do universo Star Wars tem afinal um fito último: Permite que bruxas lésbicas engravidem sem a contribuição dos homens.

O que é que vão inventar a seguir? Churchill era transsexual, Luis XIV era uma mulher (lésbica), Júlio César era um aborígene australiano (não binário) e o Conde Drácula era feminista.

Vai uma aposta?