Os lucros do gigante automóvel alemão Mercedes caíram a pique na sexta-feira, quando as vendas da sua nova gama de veículos eléctricos (VE) entraram em queda livre. A Porsche abandonou os seus objectivos de vendas de carros movidos a bateria devido à diminuição da procura por parte dos clientes. A Ford está a perder quase 50.000 dólares por cada electrodoméstico que vende, enquanto os lucros da Tesla caíram 45%. Entretanto, os fabricantes de baterias, como a alemã Varta, estão a ser dizimados.
Nos últimos dias, tornou-se claro que a indústria dos VE está à beira do colapso. Centenas biliões de euros, dólares e libras foram injectados nesta indústria pelos líderes políticos e pelos burocratas viciados em subsídios que os rodeiam – e é seguramente altura de serem responsabilizados pelas enormes quantidades de dinheiro dos contribuintes que foram desperdiçadas.
Mas a própria indústria também é responsável pelo descalabro, já que alinhou, desde o momento zero e alegremente, naquele que será o maior fiasco da história universal da mobilidade humana.
Só nos últimos dias, tem havido um fluxo constante de más notícias para os fabricantes. A Mercedes, a empresa fundada por Gottlieb Daimler que foi pioneira nos automóveis a gasolina, está a lutar para reproduzir esse sucesso na versão a bateria. Os lucros líquidos do grupo caíram 21% na sexta-feira, principalmente devido à recessão nas vendas da sua nova gama de veículos eléctricos. No início da semana, a Porsche, a sua grande rival, reduziu os planos para os seus modelos eléctricos.
A Volkswagen, que apostou tudo em criar não apenas veículos eléctricos, mas – como a Tesla – na transformação dos automóveis em aplicações, espalhando-se ao comprido no processo, é capaz de ter arruinado mais que o saldo contabilístico e especula-se até se a marca, que há 15 anos liderava o mercado global, não terá os dias contados.
Do outro lado do Atlântico, a Ford informou que os lucros caíram 35% no último trimestre, devido a perdas na sua unidade de veículos eléctricos. E a Tesla baixou os preços e ofereceu generosos acordos de financiamento para tentar reavivar a procura deficitária.
A situação é ainda pior para os fabricantes de componentes. As acções da Varta, na Alemanha, caíram 70% no último mês, devido a notícias de que a empresa poderá ter de ser salva da falência, depois de ter sofrido grandes prejuízos com as baterias para carros desportivos híbridos. Esta semana, o grupo belga de produtos químicos Umicore anunciou um prejuízo de 1,6 mil milhões de euros, uma vez que os fabricantes alertaram para a diminuição da procura de veículos eléctricos, e adiou os planos para uma fábrica de reciclagem de baterias.
A lista é interminável. Na realidade, o balanço dos VE parece estar a verter tinta vermelha. Não é difícil perceber porquê. Os custos são demasiado elevados, como empresas como a Ford descobriram, sendo a produção de automóveis eléctricos muito mais cara do que a dos seus rivais tradicionais a gasolina, e a escassez de materiais essenciais faz com que os preços subam constantemente.
A capacidade instalada na indústria é excessiva, com as empresas a investirem demasiado em fábricas e centros de distribuição. A procura do produto final começou a desmoronar-se, com os consumidores cada vez mais nervosos com o que pode tornar-se uma tecnologia obsoleta. Os custos de seguro e manutenção estão a revelar-se muito mais elevados do que o esperado, o que se agrava com os problemas de fiabilidade destes ferros de engomar com rodas, bem como os seus crónicos problemas de autonomia.
E tudo isto antes de os chineses entrarem no mercado com uma nova gama de veículos baratos e elegantes. A palavra “banho de sangue” é utilizada com demasiada frequência no jornalismo económico. Mas, neste momento, pode ser a única adequada para descrever o estado da indústria ocidental de veículos eléctricos.
É tempo de as cabeças dos políticos começarem a rolar por causa da catástrofe que se está a desenrolar. Os decisores políticos, sob pressão dos os activistas das alterações climáticas e das elites corporativas, escolheram este cavalo que corre a esteroides e apostaram nele quantias prodigiosas de dinheiro dos contribuintes. Os resultados estão à vista. E são devastadores.
Em 2019, o Presidente francês Macron anunciou pomposamente um plano franco-alemão para dominar a produção de baterias, com 700 milhões de euros investidos pela França e um bilião de euros na Alemanha. A UE gaba-se orgulhosamente de ter investido 80 biliões de euros na “cadeia de valor dos veículos eléctricos” no âmbito do seu ‘Pacto Verde’, mas quando os livros forem finalmente abertos, é pouco provável que sejam alguma coisa para além de desastrosos.
A situação é ainda pior nos EUA. O regime Biden atribuiu recentemente cerca de 2 biliões de dólares em subsídios para ajudar a reiniciar ou expandir os locais de fabrico e montagem de veículos eléctricos em oito estados, o que parece ser uma forma de deitar gasolina num incêndio florestal. Ofereceu dezenas de milhares de milhões em subsídios para que cada veiculo vendido fosse financiado com dinheiro público em mais de 7.000 dólares, e ainda uma quantidade disparatada de dólares na construção de infra-estruturas, incluindo um esquema de 7,5 biliões para a produção de carregadores que acabou na instalação de apenas sete, o que equivale a mais de um bilião de dólares por cada equipamento instalado, sendo que se trata basicamente de uma tomada eléctrica.
Um facto que define, por si só, todo o legado desta administração.
Isto enquanto quase metade dos infelizes proprietários americanos de carros eléctricos se mostram “muito” propensos a optar por um automóvel tradicional a gasolina na sua próxima compra.
No Reino unido, onde a classe política é conhecida por ser excessivamente incompetente para apoiar quaisquer projectos industriais, foram investidos rios de dinheiro no malfadado projecto ‘Britishvolt’, e numa nova fábrica de baterias para veículos eléctricos em Somerset, que quando estiver operacional não terá como escoar os seus produtos que entretanto já ninguém vai querer.
Tanto mais que estudos recentes têm comprovado que os veículos eléctricos têm mais problemas de qualidade do que aqueles movidos a combustíveis fósseis e que nem por isso são benéficos para o meio ambiente.
Há muito que os economistas alertam para o facto do ‘net zero’ constituir uma oportunidade de ouro para o desperdício e a ganância. E até Akio Toyoda, o presidente da Toyota, por acaso o maior construtor mundial de automóveis, já avisou que os veículos eléctricos não são solução para ‘salvar o planeta’, nem sequer um caminho viável para salvar a indústria. Mas as elites neo-liberais optaram por ignorar as evidências, como sempre. Devemos começar a responsabilizá-las. Os grupos de pressão defenderam os subsídios, os funcionários públicos apoiaram-nos e os ministros das finanças fizeram entusiasticamente sinais de virtude com o dinheiro dos contribuintes. Agora que assistimos ao início da carnificina na indústria dos veículos eléctricos, que já está a custar biliões por todo o planeta, que argumentos vão eles tirar da cartola de charlatão para justificar o descalabro?
A verdade é que, como o Contra por várias vezes já sugeriu, se os VE fossem competitivos e apelativos, a indústria não precisava de ser subsidiada para os construir e os consumidores não precisavam der ser subornados para os comprar.
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