A cada dia, deparamo-nos mais frequentemente com reflexos sociais de uma lei empírica chamada Lei de Zipf, ou como aqui irei chamar: Lei do Menor Esforço. George Kingsley Zipf formulou essa lei em sua obra “Human Behaviour and the Principle of Least Effort” que afirma a tendência humana universal de tentar obter o máximo resultado com o mínimo esforço. Já na década de 1940, essa lei empírica mostrou-se aplicável em diversos campos, tais como matemática, física, linguística, economia, ciências comportamentais, psicologia, entre outros.
Vivemos em um contexto histórico onde nos foi inculcado que a felicidade se baseia simplesmente em não fazer nada, ou fazer o mínimo possível. No entanto, inúmeras pesquisas comprovam que a longevidade e o bem-estar está associado, em grande parte, à constante movimentação, ao exercício, ao trabalho, aos estudos e à busca incessante pela compreensão do vasto mundo que nos cerca. Nesse sentido, morreremos nos movimentando em busca desse conhecimento ou ficaremos inertes esperando o desgosto. De fato, o único lugar onde vemos o contentamento com a eterna inércia como modus vivendi é justamente onde não há vida. Uma pedra se contenta em não ser movida e vive para não deixar de existir, para não ser fragmentada, porque não há vida em uma pedra, não há movimento. Portanto, o que motiva a existência dela é a eterna inércia. A natureza nos ensina que, onde há vida orgânica, há movimento, seja ele instintivo ou racional. Como humanos, temos à disposição uma infinidade de formas de buscar a felicidade, e mesmo assim, abdicamos de todas elas para buscar felicidade na inércia de uma pedra.
A Lei do Menor Esforço não é benéfica em nenhum campo; não fazer nada significa estar morto. A vida segue como um carro em uma estrada imprevisível: ou você controla o volante e conduz esse carro, ou estará vendado no banco de trás, sendo conduzido por alguém que você não conhece para um destino desconhecido. Compreender a facilidade enquanto uma virtude é extremamente perigoso, e indica um certo nível de amoralidade. É aceitar ganhar às custas da perda de alguém, é deixar de ver a balança da vida e não entender que, se a você, com pouco esforço, muito é acrescentado, para aquele que gera muito esforço irá faltar. Basta observarmos o quanto quem trabalha muito tem pouco, enquanto quem trabalha pouco tem em abundância. É uma equação simples: se você, com pouco mérito, tem muito resultado, para essa equação se equilibrar, alguém, em algum lugar, estará tendo muito mérito com pouco resultado. Coelhos não saem de cartolas, a menos que você os coloque lá.
Na educação, também deve ser condenada a prática da recompensa sem mérito como forma de amansar e adestrar crianças. Muitas vezes, essa recompensa advém de atitudes e comportamentos nada louváveis, e mesmo assim, a criança é condicionada a esperar algo em troca. No entanto, a vida não funciona dessa forma. Fora do conforto da sua casa, ninguém te recompensará por uma atitude ou comportamento ruim, pela falta de esforço ou mérito. Isso condiciona um desajuste comportamental, uma sequência de expectativas frustradas que levará à incompreensão das leis da vida e, muitas vezes, à indignação com aquilo que ninguém é obrigado a te dar. Educar é justamente ajustar o outro às leis da vida, para que ele esteja preparado, para que saiba domar e conduzir o carro que o leva adiante.
A Lei do Menor Esforço incentiva e cria uma debilitação da vontade; nossa vontade e esforço passam a se limitar, perdemos conquistas e a capacidade de fazer coisas boas, terceirizamos responsabilidades e culpa, justamente por ter um vácuo motivacional. Os pilares do homem — virtudes, valores e sabedoria — dependem excepcionalmente da nossa vontade. Ser justo requer esforço e vontade, educar bem requer vontade e esforço, amar bem dá trabalho, a solução de um problema demanda vontade, saber quem você é e em que se fundamentam suas ideias dá trabalho. E esse trabalho vem desse atributo do qual dependem todas as coisas que iremos construir durante nossa vida.
Lembrem-se de Kant e do que ele mandara escrever em seu epitáfio:
“Duas coisas me deslumbraram a vida inteira: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim.”
Essa lei moral de Kant é, na verdade, o nosso próprio céu estrelado, que nos faltará se permitirmos que ele se nuble.
PAULO H. SANTOS
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Paulo H. Santos é professor particular de filosofia, bacharel em filosofia (UCP – Brasil) e licenciado em História (UNESA – Brasil). Católico. Escreve em português do Brasil
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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