“Se o vais balear, que seja na cabeça.”
Laurence Tribe, professor de Direito de Harvard, sobre a tentativa de destituição de Trump em 2018.
Celebridades, jornalistas e políticos neoliberais norte-americanos, incluindo o Presidente em exercício, têm vindo a intensificar constantemente o incitamento à violência contra conservadores ou populistas em geral, e Donald Trump em particular, desde 2016 até à tentativa de assassinato de que foi vítima. Convém fazer uma, mesmo que breve e incompleta, revisitação de alguns desses apelos à acção terrorista, já que enumerá-los a todos seria um trabalho de fôlego enciclopédico.
Celebridades.
Os liberais de Hollywood têm vindo a ameaçar ou a desejar violência contra Trump há anos. Entre outros, Robert De Niro chamou a Trump “cão” e “porco” em 2016, dizendo que queria “dar-lhe um murro na cara”.
A alegada comediante Kathy Griffin posou de forma infame com um modelo ensanguentado da cabeça decepada de Trump em 2017. Afirmou estar arrependida depois de receber reacções negativas – e uma queda nas ofertas de emprego – mas repetiu a proeza em 2023. O fotógrafo que captou a primeira imagem vendeu-a por 150.000 dólares.
O encenador Oskar Eustis apresentou uma versão de Júlio César, de Shakespeare, retratando o líder romano como Trump, e explorando graficamente o seu assassinato sangrento por uma conspiração de senadores, no mesmo ano.
Em 2017, no Reino Unido, Johnny Depp, referindo-se ao assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth, perguntou ao público de um festival:
“Quando foi a última vez que um actor assassinou um presidente? Já lá vai algum tempo e talvez seja altura de o fazer.”
Anteriormente, Madonna tinha dito que “pensou muito em explodir a Casa Branca” na ‘Marcha das Mulheres’ de 2017.
Mickey Rourke, tal como De Niro, falou do seu desejo de presentear Trump com um “infernal gancho de esquerda” em várias ocasiões, mais recentemente em 2019.
‘Jornalistas’.
Os media corporativos têm vindo a incitar o público contra Trump há muitos anos, aumentando os seus esforços com particular intensidade nas últimas semanas, à medida que ele sobe nas sondagens.
No início deste mês, o The New Republic publicou uma capa retratando Trump como Adolf Hitler, sob o slogan “fascismo americano”, insistindo que ele está “suficientemente perto, e é melhor lutarmos”.
Em Dezembro, o Washington Post de Jeff Bezos publicou um artigo intitulado “Sim, não há problema em comparar Trump a Hitler”.
A 2 de Julho, o site do Huffington Post publicou um artigo sobre a decisão do Supremo Tribunal de que os presidentes têm a presunção de imunidade por actos cometidos no exercício das suas funções oficiais, com o título infame:
“O Supremo Tribunal dá a Joe Biden o OK legal para assassinar Donald Trump”.
Da mesma forma, o apresentador da BBC David Aaronovitch reagiu à decisão com um post “satírico” nas redes sociais, recomendando a Biden que
“se apresse e mande assassinar Trump com base no facto de ele ser uma ameaça à segurança da América”.
Joe Scarborough, do programa Morning Joe da MSNBC, emitiu em Novembro de 2023 um discurso perturbado em que avisava que Trump estava a “concorrer para acabar com a democracia americana” e que iria exilar, prender e até “executar” os seus opositores quando fosse reeleito.
Políticos.
Os políticos também desempenharam um papel proeminente no despertar do medo e do ódio contra Trump, em grande parte através de alarmismos sobre o facto de ele se tornar um ditador.
Recentemente, o deputado democrata Dan Goldman disse à ex-secretária de imprensa de Biden, Jen Psaki, num vídeo que foi amplamente divulgado após a tentativa de assassinato de sábado:
“Nesta altura, é inquestionável que este homem não pode voltar a ocupar um cargo público. Não só é inapto, como é destrutivo para a nossa democracia e tem de ser eliminado.”
Robert Kagan, o falcão de guerra neo-conservador, marido da ex-apparatchick do estado profundo, Victoria Nuland, escreveu um ensaio de 6.000 palavras declarando que uma “ditadura de Trump é cada vez mais inevitável”, e acrescentando:
“Quando um saqueador está a invadir a tua casa, atiras-lhe com tudo o que podes – tachos, panelas, castiçais – na esperança de o abrandar e de o fazer tropeçar”.
Em Abril, o deputado Bennie G. Thompson (D-MS), membro da Comissão de Segurança Interna, apresentou uma proposta de lei para retirar a protecção dos Serviços Secretos a qualquer pessoa condenada a um ano ou mais de prisão por um crime federal ou estatal, antecipando uma possível pena de prisão para Trump em Manhattan. Isto foi ampla e assertivamente interpretado como uma medida para tornar mais fácil matá-lo.
Em 2017, a senadora democrata Maria Chappelle-Nadal, do Missouri, publicou no Facebook:
“Espero que Trump seja assassinado!”.
No mesmo ano, a congressista Maxine Waters disse que queria “acabar com Trump”.
Já em 2015, o cofundador do Lincoln Project, Rick Wilson, disse que a “classe de doadores do Partido Republicano” “teria de enfiar uma bala” no então candidato Trump.
Joe Biden.
Talvez nenhum político tenha feito tanto para incitar o público contra Trump como Joe Biden. Na véspera da tentativa de assassinato, o titular do cargo publicou nas redes sociais que Trump pretendia tornar-se um ditador.
A 5 de Julho, referindo-se à decisão do Supremo em cima mencionada, afirmou que o antigo presidente “poderia realmente” tornar-se um ditador se fosse reeleito.
“Donald Trump é uma ameaça genuína para esta nação. Ele é uma ameaça à nossa liberdade. É uma ameaça para a nossa democracia”, disse a 28 de Junho, acrescentando:
“Ele é literalmente uma ameaça a tudo o que a América representa”.
É um tema que ele tem vindo a repetir há anos. em 2022 publicou isto:
“Donald Trump e os republicanos MAGA são uma ameaça à própria alma deste país”.
Biden usa uma retórica inflamatória semelhante em privado, dizendo aos doadores num telefonema de 8 de Julho noticiado pela imprensa:
“É altura de fazer de Trump um alvo”.
É assim de ironia escabrosa que muitos democratas tenham dito ou escrito, após o atentado de sábado, que parte da responsabilidade desses acontecimentos cabia a Trump, por expressar um registo retórico agressivo. Trump nunca chamou ditador a nenhum dos seus opositores políticos internos. Nunca apelou à morte de alguém ou à violência física sobre alguém. E de tal forma são destituídos os comentários que neste artigo são enumerados, que muitos dos inimigos de Trump que ainda na semana passada o classificavam como Hitler, lhe desejaram rápida recuperação depois de ter sido atingido, condenando o acto do atirador. Ora, se Trump fosse mesmo um Hitler, que sentido faria desejar-lhe as melhoras e condenar essa tentativa de assassinato?
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