Não seria de esperar outra coisa: a imprensa corporativa fez, desde o momento zero, tudo o que podia para deturpar, manipular, omitir, disfarçar e confundir o público em relação à tentativa de assassinato de Donald Trump.

Logo a abrir o festival satânico, a CNN publicou esta obra ao negro, conseguindo em simultâneo omitir a tentativa de assassinato e associar a circunstância às quedas de que Joe Biden é regular protagonista:

 

 

Um pouco mais tarde, a estação de Atlanta reconhecia que Trump tinha sido ferido, mas por um qualquer “incidente” misterioso, cuja natureza permanecia insondável.

 

 

Posteriormente, a correspondente da CNN Jamie Gangel teve a lata de repreender Trump pela sua “retórica” depois de ter sido baleado:

“Quero dizer que houve uma coisa que, quando vi a gravação, achei estranha, por causa de toda a retórica acalorada. Depois de ter sido atingido, o ex-presidente Trump levantou-se e disse: ‘Luta! Luta! Luta! Penso que o que estamos a ouvir das pessoas é que essa não é a mensagem que queremos enviar neste momento. Queremos suavizá-la.”

A Trump nem sequer é permitida uma reacção emocional, que muitos diriam até heróica, depois de ter sido baleado na cabeça. Logo nesse momento de stress inimaginável, o velho magnata devia ter “suavizado” a retórica.

 

 

Também nos primeiros momentos após os acontecimentos da Pensilvânia, a Associated Press publicou este simulacro de jornalismo:

 

 

Porque Trump, com a cara ensanguentada, não tinha saído do palco por ter sido atingido com um tiro na orelha. Não acreditem no que vêem os vossos olhos mentirosos: Trump saiu do palco por causa de “uns ruídos que saíram da multidão”.

A Sky News reagiu ao atentado de forma curiosa, atribuindo parte da responsabilidade…. à vítima, com um texto que tinha no lead esta frase:

Nada justifica uma tentativa de assassinato – mas será que Trump contribuiu para mudar as regras do jogo?

O lead foi entretanto modificado por completo, porque alguém na agência de propaganda britânica teve um ataque de vergonha na cara, mas no texto corrido continuamos a ler:

“No rescaldo dos acontecimentos na Pensilvânia, os opositores de Trump lembraram que, no passado, ele tinha brincado com a agressão brutal ao marido da antiga Presidente democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Da mesma forma, a sua minimização de um plano de sequestro contra a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, não foi esquecida. Ninguém está a afirmar que alguma coisa justificou uma tentativa de assassinato, mas a sugestão clara é que Donald Trump desempenhou o seu papel na mudança das regras de combate e impulsionou de forma imprudente a hostilidade na política dos EUA.”

Há aqui várias coisas que têm de ser ditas: Primeiro, as palavras não são balas. Segundo, o “plano de sequestro contra a governadora do Michigan” foi uma operação escandalosa do FBI, que infiltrou agentes num grupo de activistas políticos de direita, levando-os a considerar o rapto de Gretchen Whitmer, que nunca aconteceu. Terceiro, a “agressão brutal ao marido de Nancy Pelosi” foi perpetrada por um amante/prostituto de Paul Pelosi, no domicílio do casal, para o qual o dito gigolo tinha sido convidado. Quando a polícia chegou ao local, o marido de Nancy Pelosi nem sequer queria fazer queixa dos actos de violência de que tinha sido vítima, mostrando-se descontraidamente espancado.

O autor do texto afirma ainda que Joe Biden e os Democratas responderam à tentativa de assassinato com “benevolência” – sem mencionar o facto de o Presidente ter andado a fazer propaganda sobre os supostos planos de Trump de se tornar um “ditador” pouco antes do ataque e afirmando publicamente, na véspera do atentado, que o seu opositor político tinha que passar rapidamente a ser um “alvo” (no inglês original: “bullseye”).

Adiante. Em Denver, o diário local decidiu dar à sua edição de domingo esta espantosa manchete:

 

 

A notícia não é que Donald Trump, ex-presidente dos EUA e o candidato às presidenciais de Novembro que lidera as sondagens, foi vítima de uma tentativa de assassinato e alvejado na orelha, num comício. Não. A notícia é que o coitado do atirador morreu.

Pelo seu lado, a Forbes, muito preocupada, pergunta-se:

“Será que sobreviver a um tiroteio será o próximo apelo de Donald Trump aos eleitores negros?”

Reparem, mais uma vez, que Trump não sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Sobreviveu a um tiroteio (não vimos isso, mas Donald deve ter sacado de uma pistola e disparou umas balas contra o seu opositor, ou coisa que o valha). E a preocupação da Forbes não é que o tenham tentado matar. A preocupação é que o facto pode ser eleitoralmente favorável ao candidato republicano junto da população afro-americana.

 

 

O New York Times, que nunca desilude no campeonato mundial da infâmia, também se mostrou preocupado, e também pelas razões erradas:

 

 

Na capa da edição em papel de domingo, o NYT brindou o mundo com o mesmo eufemismo utilizado pelos restantes títulos da imprensa corporativa. Porque, mais uma vez, Donald Trump não foi vítima de um atentado, mas de um tiroteio. Neste caso específico, há um requinte de crueldade: a bandeira americana, que tinha sido apanhada na fotografia, foi cuidadosamente retirada da imagem.

 

 

Por último, mas sempre primeiro na vontade que dá de vomitar, o Insuportável Washington Post seguiu exactamente a mesma cartilha: deu-se um tiroteio na Pensilvânia e Trump, que como se sabe tem por passatempo andar aos tiros nos comícios, ficou ferido, porque quem vai à guerra dá e leva.

 

 

Este texto podia continuar até à exaustão do redactor e do leitor, porque a imprensa corporativa não consegue conter-se, na sua avidez pelo pecado. Mas o melhor mesmo é terminar agora, para não ficarmos todos em definitivo mal dispostos, com esta pérola da NBC, que data de Julho de 2022: