No seu livro Big Intel, J. Michael Waller, um veterano analista dos serviços secretos, conta a história de como as ideias marxistas, como o DEI e a teoria crítica da raça, corromperam a CIA e o FBI. De tal forma que a sua eficiência e neutralidade são agora irrecuperáveis.
Em Big Intel: How the CIA and FBI Went from Cold War Heroes to Deep State Villains, J. Michael Waller descreve a crise que a América está a enfrentar com a subversão das instituições de informação e segurança. Waller é analista sénior de estratégia no Centro de Política de Segurança e presidente da Georgetown Research, uma empresa de risco político e de inteligência privada. Tem um doutoramento em Assuntos de Segurança Internacional pela Universidade de Boston. Big Intel baseia-se no livro anterior de Waller, Secret Empire: The KGB in Russia Today. Esse livro previu, acertadamente, a subida ao poder na Rússia por antigos oficiais do KGB.
A análise de Waller está profundamente enraizada nas suas próprias experiências de vida, algumas que parecem extraídas de um romance de John le Carré, com alguns encontros muito “próximos e pessoais” com espiões e espionagem – começando com o recrutamento precoce pelo velho guerreiro da Guerra Fria, o director da CIA de Reagan, William Casey, que o levou a trabalhar no terreno na América Latina. Estudos posteriores e viagens nos anos 90 levaram Waller à União Soviética, o que o colocou em contacto com o famoso vira-casacas do FBI Bob Hanssen, o que por sua vez levou a um momento embaraçoso com o Director do FBI Louis Freeh. A maior parte desta fascinante informação biográfica é contada nas primeiras 30 páginas de Big Intel, estabelecendo assim brevemente a boa-fé do autor.
A maior parte do livro é constituída por duas histórias paralelas – e ocasionalmente entrelaçadas. A primeira é uma história de espiões, espionagem e subversão; a evolução do marxismo-leninismo militante para o marxismo cultural, tal como se manifesta na cultura woke contemporânea. A segunda história é a da CIA e do FBI, que originalmente combateram a agressão aberta do marxismo-leninismo, mas que agora foram subvertidos pelo marxismo cultural sob o disfarce da cultura woke e das políticas de “diversidade, equidade e inclusão”.
Waller começa por descrever o comportamento do FBI, apoiado pela CIA, de John Brennan, na investigação infundada da campanha de Trump. Primeiro temos Peter Strzok, o executivo do FBI que iniciou a investigação da campanha de Trump “Crossfire Hurricane“, abrindo o caso e depois viajando para Londres para conduzir a investigação, usurpando o papel de um agente de campo. Depois temos Andy McCabe, o antigo director-adjunto do FBI, que foi director interino a seguir a James Comey ter sido despedido, a ordenar uma investigação a Trump por obstrução à justiça. Para além do despedimento em si, McCabe não ofereceu qualquer fundamento para esta iniciativa de investigação. O último infractor retratado no livro é o ex-director do FBI, James Comey. O abuso de poder de Comey, McCabe, Strzok e outros minou a confiança do público no FBI.
Para Waller, estes abusos são muito mais perigosos do que a mera interferência destas agências na política partidária. Para ele, estas poderosas agências são a ponta de lança de uma transformação fundamental nos EUA. Big Intel responde à pergunta: como é que isto aconteceu? Para responder a esta questão, o autor começa por nos levar de volta a Moscovo, há mais de um século, antes de existir o FBI ou a CIA.
No tempo da outra senhora.
Tomando emprestada uma frase da jornalista Diana West, Waller segue o “fio vermelho”, uma linha ininterrupta de evolução ideológica desde os primeiros bolcheviques até aos guerreiros woke dos tempos que correm. Waller explica em pormenores quase dolorosos cada passo desta evolução. Aqui, a sua extensa formação académica em estudos de inteligência torna-se evidente.
Os primeiros esforços dos soviéticos para difundir a ideologia marxista na Europa deram origem à Escola de Frankfurt, um grupo de académicos marxistas cujas ideias Moscovo esperava que destruíssem a Alemanha de Weimar a partir do seu interior. No entanto, os nazis venceram-nos. Infelizmente para os americanos, este foi um impulso não planeado para a Escola de Frankfurt, que se mudou para os Estados Unidos.
O problema é que a influência académica nos altos quadros das agências de informação e segurança nos EUA é, desde sempre, imensa. E se estes quadros são treinados por uma Ivy League ideologicamente capturada pela esquerda, irão reflectir depois essas tendências no comportamento das instituições que dirigem.
Ao longo deste tortuoso caminho, recebemos um curso de actualização sobre a Comintern e as suas agências de apoio em constante evolução, como os Chekistas, o NKVD, o KGB e os actuais FSB e SVR. Waller consegue tornar tudo isto compreensível. Como também o faz com os diversos indivíduos ao longo do “fio vermelho”, desde bolcheviques como Feliks Dzerzhinsky, a Herbert Marcuse e Reinhold Niebuhr, que trouxe para a América Paul Tillich, da Escola de Frankfurt.
A história paralela da CIA e do FBI é relatada com o mesmo pormenor, muitas vezes em paralelo com os relatos dos seus desafiantes opositores. Waller dá-lhes o devido valor, cobrindo o bom, o mau e o feio tanto da CIA como do FBI. Tanto J. Edgar Hoover como William J. “Wild Bill” Donovan, considerados aqui como os pais fundadores do FBI e da CIA, respectivamente, recebem um tratamento equilibrado.
Donovan, uma personagem colorida, criou e dirigiu a agência antecessora da CIA, o OSS. Vários dos seus veteranos da OSS tornar-se-iam líderes na CIA. Waller recorda-nos que a lenda e o prestígio do actual FBI foram construídos com base em meio século de realizações reais e relações públicas extraordinárias de J. Edgar Hoover, apesar dos esforços do actual FBI para apagar a sua memória.
Agências de informação actuais.
Os directores recentes do FBI e da CIA caíram sob o feitiço da teoria crítica da raça, um dos vectores do marxismo cultural. Foram empurrados e puxados nessa direcção pelas academias e por uma série de ordens executivas dos presidentes Obama e Biden, exigindo “diversidade, equidade e inclusão”. John Brennan, da CIA, e James Clapper, director dos serviços secretos, alinharam de bom grado com esta linha e são analisados em Big Intel. Mas James Comey merece e recebe uma atenção pormenorizada.
O sistema de crenças de Comey baseia-se na filosofia de Reinhold Niebuhr. Embora não fosse comunista, Niebuhr era definitivamente um companheiro de viagem da esquerda marxista, parte do “fio vermelho”. Waller diz-nos que Comey, inspirando-se em Niebuhr, viu uma obrigação moral de prescindir da ética. Nas palavras do próprio Comey:
“O cristão na política deve estar disposto a transgredir qualquer ética puramente cristã. Ele deve estar disposto a pecar em nome da justiça”.
Uma estranha forma de ler o Novo Testamento. Mas uma interpretação rigorosa dos ensinamentos de Lenine.
Como director do FBI, Comey substituiu normas e precedentes estabelecidos pela sua própria interpretação chegavarista. A sua recusa em investigar o caso escandaloso do correio electrónico de Hillary Clinton, enquanto Secretária de Estado de Obama, usurpando o papel de um procurador, é um exemplo disso mesmo. As distintas regras de protecção anteriores do FBI – por exemplo, cautela no início de investigações políticas e informação ao Congresso sobre investigações sensíveis – foram ignoradas por Comey. Nunca informou o Gang of Eight (oito membros do Congresso que têm que ser informados sobre as actividades ditas classificadas), durante as suas reuniões trimestrais, sobre a investigação Crossfire Hurricane. Quando lhe perguntaram porque é que o Congresso nunca tinha sido informado, respondeu que era demasiado “sensível”, substituindo mais uma vez a norma estabelecida pelo seu próprio juízo ético.
A teoria crítica da raça, a ideologia que desvincula a missão principal do FBI e da CIA actuais, exige uma procura constante de inimigos entre os cidadãos da federação e as instituições constitucionais. O FBI de hoje planeia apagar o nome de Hoover do edifício da sua nova sede, embora continue a lucrar com o pedestal em que ele colocou o Bureau. Entretanto, a CIA espalha a falsidade de que Wild Bill Donovan era a favor da “diversidade, equidade e inclusão”.
Criadas para protegerem os cidadãos do crime organizado, no caso do FBI, e a federação de ameaças externas, no caso da CIA, as duas principais agências de segurança, informação e inteligência dos Estados Unidos trabalham agora afincadamente contra um inimigo interno, que se consubstancia em qualquer cidadão que apoie a candidatura de Donald Trump, rejeite as terapias genéticas mRNA ou a ideologia de género do regime Biden. São os vilões do deep state. Os braços armados do unipartido de Washington.
J. Michael Waller escreveu um excelente livro: Big Intel é uma análise exaustiva e brilhante do processo dantesco que levou à corrupção irrecuperável de duas das mais prestigiadas instituições americanas.
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