As eleições para o Parlamento Europeu registaram de facto e como era previsível, uma viragem à direita do eleitorado do velho continente. Mas a ‘onda populista’ não foi tão expressiva com se poderia pensar, principalmente dado o contexto fraccionado da presença da direita na assembleia legislativa da União Europeia.

Os partidos não-alinhados, que passaram ter quase cem membros e que resultam maoritariamente do voto em pesos pesados populistas como o AfD alemão e o Fidesz húngaro, vão reforçar os blocos conservadores e nacionalistas. Assim sendo, os vencedores destas eleições serão o ECR ou o ID – dependendo de onde é que vão cair os não alinhados, ou se um grande bloco conservador/populista for criado no Parlamento, constituindo nesse caso a primeira força política do hemiciclo.

Caso contrário, com a direita dividida, os globalistas do EPP, com os seus aliados liberais do Renew Europe e os socialistas do S&D, continuarão a presidir imperturbavelmente ao lamentável estado de coisas.

 

Os grandes perdedores deste acto eleitoral serão o grupo liberal Renew e os Verdes europeus, que deverão perder cerca de 20 lugares cada um. E a esquerda, em geral. As suas perdas podem também aumentar nas próximas semanas, especialmente as do Renew, uma vez que o grupo liderado por Macron ameaça suspender o VVD de Mark Rutte por ter entrado em coligação com Geert Wilders, enquanto o partido ANO do antigo primeiro-ministro checo Andrej Babis (entre outros) está a considerar abandonar o barco e juntar-se a um dos grupos conservadores.

Para já, a “coligação Ursula” (EPP-S&D-Renew) tem os números necessários para apoiar von der Leyen se esta for novamente nomeada. Mas dado que os mesmos partidos mal conseguiram fazê-lo da última vez, com muito mais deputados, a execrável senhora poderá ser forçada a procurar aliados à direita. O que não vais er tarefa fácil e – a acontecer – será sólida prova de que nem todos os populistas respeitam o seu mandato eleitoral.

Por outro lado, é também possível, pela primeira vez, uma grande coligação maioritária de direita entre o EPP, o ECR, a ID e os não-alinhados de direita, embora essa possibilidade seja remota, dado o nojo que o centro direita globalista tem dos partidos nacionalistas e populistas. É também de salientar que o ECR e o ID precisariam apenas de mais 6 deputados, que poderiam facilmente ir buscar aos não alinhados, para formar o segundo maior grupo político da assembleia.

 

Von der Leyen triunfante – mas ninguém votou nela.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a principal candidata do EPP, de centro-direita, declarou triunfantemente em Bruxelas que “não é possível formar uma maioria sem o EPP”. As declarações da Comissária foram proferidas depois das sondagens à boca das urnas mostrarem que o EPP vai muito provavelmente continuar a ser o maior grupo no Parlamento Europeu.

Afirmando que sentiu ‘muita confiança e segurança’ no EPP e na União Europeia durante a sua campanha para a reeleição, Von der Leyen acrescentou:

“Somos o partido mais forte. Somos a âncora da estabilidade e os eleitores reconhecem a nossa liderança nos últimos cinco anos.”

Embora o EPP possa constituir de facto o maior grupo do Parlamento Europeu – se a direita não se unir – o triunfalismo de von der Leyen é desajustado, nem que seja porque ninguém votou realmente nela. Além disso, a sua reeleição como presidente da Comissão não é assim tão certa. Nem os eleitores europeus, nem o Parlamento nomeiam o presidente da Comissão; essa tarefa cabe ao Conselho Europeu, ou seja, aos chefes de governo dos Estados-membros. Só depois desta nomeação é que o Parlamento se pronuncia sobre o nomeado. Há cinco anos, Manfred Weber era o principal candidato do EPP, mas os primeiros-ministros escolheram von der Leyen – uma figura que não apareceu de todo na campanha eleitoral – para a presidência da Comissão. Desta vez, há rumores de que muitos Estados-Membros não estão satisfeitos com von der Leyen e podem muito bem optar por outro líder.

 

França: Le Pen arrasa Macron, que vai dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas.

Naquele que terá sido o facto político mais significativo deste momento eleitoral, o partido nacionalista Rassemblement National (RN) parece ter esmagado o Renaissance do Presidente francês Emmanuel Macron, obtendo pouco menos de 32% dos votos. A vitória de Marine Le Pen – que constitui o melhor resultado de sempre do partido numa eleição europeia – reforça a posição dominante do nacionalismo francês sobre a direita do Parlamento Europeu, após a cisão com a AfD.

O triunfo de Le Pen foi de tal forma expressivo que o RN obteve mais votos do que Macron e os socialistas juntos, o que lhe permitirá aumentar o número de eurodeputados de 23 para 31.

Zemmour e o seu Reconquête conquistou 4 assentos no Parlamento, quase igualando o resultado dos verdes franceses que de 13 deputados passaram a ter apenas 5.

Na sequência destes resultados, o Presidente francês anunciou que vai dissolver o parlamento nacional e convocar eleições antecipadas.

Macron afirmou que este não é um bom resultado para os partidos que “defendem a Europa” e acrescentou que iria convocar eleições antecipadas, que terão lugar a 30 de Junho e 7 de Julho. Jordan Bardella, líder do Rassemblement National, já tinha instado o presidente no início da noite a dissolver o parlamento. “O Presidente não pode ficar surdo à mensagem dos franceses”, afirmou.

 

 

Eleitores espanhóis mudam de ideias e viraram-se para a direita.

O Partido Popular (PP), de centro-direita, derrotou os socialistas (PSOE) nas eleições europeias. O PP obteve 34,5% dos votos (contra 20% em 2019) e o populista VOX, que somou 6% dos votos em 2019, cresceu para os 10,5% desta vez. Juntos, a direita e o centro-direita em Espanha poderão totalizar 45% dos votos. Enquanto os socialistas obtiveram 33% dos votos em 2019, este ano não chegaram aos 30%. O partido de extrema-esquerda Sumar deverá obter 6%, uma diminuição de 4 pontos.

 

 

Alemanha: Scholz tem resultado humilhante e Afd é agora a segunda força política do país.

O partido do Chanceler Olaf Scholz sofreu uma derrota humilhante nestas eleições, não somando mais que 14% dos votos. A CDU de centro-direita venceu o escutíniu, com 30% dos votos enquanto os populistas do AfD conseguiram um significativo segundo lugar, com 16% dos votos.

O líder da oposição alemã, Friedrich Merz, sublinhou que o chanceler Olaf Scholz sofreu uma “pesada derrota” no domingo, afirmando:

“As coisas não podem continuar como têm estado nos últimos dois anos e meio. Estão a prejudicar o nosso país com as políticas que estão a seguir.”

O Secretário-Geral da CDU, Carsten Linnemann, considera que os resultados do governo de esquerda são “desastrosos” e que o executivo deverá ser objecto de um voto de confiança no Parlamento.

Entretanto, o vice-presidente da AfD, Tino Chrupalla, descreveu os resultados do seu partido como “históricos”, acrescentando que irão impulsionar a AfD antes de três eleições regionais nos estados do leste do país, no Outono.

De acordo com os meios de comunicação social alemães, 17% dos jovens eleitores (entre os 16 e os 24 anos) votaram no partido anti-imigração AfD nas eleições europeias, o que representa um aumento de 10 pontos percentuais em relação aos resultados de 2019. O único outro partido a ter uma percentagem tão elevada de jovens eleitores é a aliança de centro-direita CDU/CSU.

Esta foi a primeira eleição em que os jovens de 16 e 17 anos puderam votar na Alemanha e, apesar da esperança da esquerda em atrair o voto dos jovens, só 11% votaram nos Verdes e apenas 9% nos sociais-democratas.

 

Itália: Meloni reforça liderança, à custa do seu parceiro de coligação.

Apesar das sucessivas traições ao mandato que tem cometido desde que foi eleita, Giorgia Meloni e o seu partido Fratelli d’Italia venceram confortavelmente as eleições europeias em Itália.

O domínio de Meloni acentuou-se graças à queda estrondosa do seu parceiro de coligação governamental, O Lega de Matteo Salvini, que perdeu mais de 20% dos votos de 2019.

O Partido Democratico, de esquerda, recolheu aproximadamente o mesmo número de votos que em 2019.

 

 

Nos Países Baixos, Wilders soma e segue.

O Partido para a Liberdade (PVV) do populista Geert Wilders, foi o grande vencedor das eleições europeias holandesas, aumentando de um para sete os seus lugares no Parlamento Europeu. Ainda assim, a aliança vermelho-verde de Frans Timmermans obteve mais votos nas eleições, ganhando oito dos 31 lugares atribuídos aos Países Baixos no Parlamento Europeu, mas perdendo um lugar em relação à sua anterior representação.

 

Na Hungria, há 15 anos que Orbán não sabe o que é perder eleições.

Pouco depois da meia-noite, com 62,7% dos votos contados, o Fidesz, partido conservador húngaro no poder, continuou a sua série de vitórias eleitorais, que remonta a 2009 – incluindo eleições nacionais, locais e europeias – ao vencer as eleições europeias deste ano com 43% dos votos. Isto significa 11 lugares para o partido do Primeiro-Ministro Viktor Orbán no Parlamento Europeu. O recém-criado Partido Tisza ficou surpreendentemente em segundo lugar, com 30% dos votos e 7 lugares. O partido foi criado por Péter Magyar, um antigo funcionário do Fidesz descontente e ex-marido da antiga ministra da Justiça Judit Varga, que conseguiu tornar-se a principal força da oposição numa questão de meses, atraindo grandes multidões nos seus comícios.

 

Polónia: Socialistas caem com Confederação a tornar-se o terceiro maior partido.

A perda de oito lugares, de 27 para 19 deputados, do partido conservador polaco Lei e Justiça (PiS) foi parcialmente compensada por uma subida repentina do novo partido nacionalista Confederação, com seis lugares previstos. A Plataforma Cívica do globalista Donald Tusk deverá obter 34% dos votos, com 21 lugares.

O resultado diminui o controlo do PiS sobre a facção conservadora do ECR no Parlamento Europeu, mas reforça o potencial de um novo grupo identitário que inclui a Confederação e a AfD, bem como incentiva a cooperação entre o PiS e o jovem partido nacionalista.

O grande derrotado da noite parece ser o esquerdista Lewica, uma vez que o bloco centrista TD não conseguiu repetir os resultados das eleições nacionais do ano passado.

 

 

A leste, novos populismos; a norte, a esquerdite de sempre; e em Portugal, a depressão do costume.

Os populistas tiveram bons resultados na Croácia, na Bulgária e na Áustria. Surpreendentemente, Robert Fico sofreu uma derrota na Eslováquia, mesmo apesar da tentativa de assassinato de que foi vítima. Nos países nórdicos, não houve grandes movimentos do eleitorado, a Finlândia e a Suécia são dos poucos países na Europa onde a esquerda conseguiu crescer em relação às últimas eleições (desta gente nunca podemos esperar boas notícias).

Em Portugal, há que destacar o péssimo resultado do Chega (talvez a pagar o preço da sua auto-infligida normalização) e o muito bom resultado dos globalistas da Iniciativa Liberal, que deve ter sido o único partido neo-liberal europeu a ter um bom resultado nesta eleições. De resto, nada a destacar: a maioria dos portugueses continua a amar o socialismo unipartidário, corrupto e corporativo do bloco central, gosta de ser tratada como gado por von der Leyen e companhia, está entusiasmada com a hipótese de uma terceira guerra mundial e mal pode esperar por uma nova pandemia e pelas três doses ou mais da respectiva terapia genética.

É como é.