Compreender a política como algo estável e engessado é impossível. Como as ondas que constantemente se movem e mudam e nunca mais podem voltar a ser as mesmas, essa é a natureza das instituições e dos representantes que nos governam. A democracia, com toda a sua fluidez e instabilidade, apresenta-nos sempre um horizonte diferente, que, diga-se de passagem, tende sempre a piorar, sempre um novo mar revolto para sobreviver.
É necessário possuir uma visão de mundo apurada para perceber o que parece novo e sedutor quando, na verdade, está podre de velho dentro da história política. É assim que as ideologias se apresentam, utilizando novos partidos e novas propostas: um cheiro constantemente novo com quase sempre o mesmo conteúdo. A nova embalagem de produtos antigos se renova com velocidade agressiva, com o mesmo engano e o desejo pretensioso de se mostrar o que não é. Encontrar o verdadeiro ponto da democracia é uma tarefa que exige um processo histórico-político, sociológico, filosófico e moral. Fugir dessas exigências, de forma equivocada, levará sempre a confundir o mar com a areia e a areia com o mar.
É imperativo lembrar que muitas das questões que surgem como novos problemas e ameaças à democracia, ou mesmo como ferramentas pseudoconstrutivistas em favor de um falso progresso, já foram investigadas, aprofundadas e respondidas nos séculos passados, tanto em termos teóricos como práticos. Nunca se deve nadar em um mar profundo sem carregar boias infladas, mesmo que o mar seja enganosamente apresentado como superficial. Essa alegoria é a mais pura representação do despreparo ao debate político e da capacidade analítica em se eleger governantes e aderir a partidos.
Cabe a cada um de nós construir, lembrar e reformar a sociedade nos pontos necessários e apenas nos necessários, para que possamos vivenciar verdadeiramente a democracia tal como foi proposta na sua criação, recordando os princípios que a regem e fundamentam. A política, no meio de tantas inconsistências, deve estabilizar e continuar a orientar a humanidade em seus desafios sociais, não podendo ser perdida como pequenos barcos empurrados pelas novas ondas em direção a uma terra esquisita e sem propósito.
A tarefa de preservar a verdadeira essência da democracia demanda vigilância constante e uma compreensão profunda da história e dos valores que a sustentam. Em um mundo onde as mudanças são rápidas e, muitas vezes, superficiais, é crucial que mantenhamos um olhar crítico e informado, cobrando e nos esforçando para reger o caos político com o poder que nos foi, infelizmente, dado. Apenas assim poderemos distinguir entre o que é genuinamente benéfico e o que é meramente uma nova roupagem de velhos enganos. A democracia não é um estado permanente, é um mar em fúria, lotado de tubarões que a sustentam com suas incapacidades e que desejam ferozmente devorar os mais capazes e aptos a dirigir a sua manutenção.
PAULO H. SANTOS
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Paulo H. Santos é professor particular de filosofia, bacharel em filosofia (UCP – Brasil) e licenciado em História (UNESA – Brasil). Católico. Escreve em português do Brasil
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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