Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), afirmou que “chegou o momento” de os governos da NATO darem luz verde a ataques directos contra a Rússia utilizando armas ocidentais. Até agora, os governos ocidentais não permitiram que os ucranianos lançassem mísseis ocidentais contra a Rússia propriamente dita – excluindo a Crimeia e outros territórios anexados à Ucrânia. Stoltenberg e a maior parte dos governos dos países membros da NATO querem agora intensificar a guerra por procuração contra Moscovo.
Apesar da medida proposta ser muito susceptível de intensificar e potencialmente expandir a guerra na Ucrânia, Stoltenberg disse, durante uma visita à Bulgária:
“Chegou o momento de os aliados considerarem se devem levantar algumas das restrições que impuseram às armas doadas à Ucrânia. O objectivo principal da NATO não é combater a guerra, mas sim evitar a guerra. O objectivo da NATO é a paz”.
A capacidade de afirmar exactamente o oposto daquilo que é a realidade é uma das imagens de marca das elites globalistas do Ocidente, mas Stoltenberg leva a inversão semântica a um cúmulo que deixaria Orwell a pensar duas vezes sobre o potencial profético da sua obra de ficção.
O líder da NATO não está sozinho: Dos 32 membros da NATO, 24 apoiam o levantamento das restrições à utilização de armas ocidentais contra a Rússia. Com as costas quentes, a retórica de Jens Stoltenberg oscila entre o derrotismo, que se compreende, dada a dura realidade no teatro de operações, e o histerismo, que devemos recusar, se queremos deixar aos nossos filhos qualquer coisa que se pareça com um mundo minimamente civilizado:
“Temos de admitir que a Ucrânia está a perder esta guerra neste momento. Não podemos continuar a dizer à Ucrânia para não disparar os seus mísseis contra a Rússia, que está a disparar alegremente os seus mísseis contra Kiev. Será muito triste se não aceitarmos esta alteração”
Aparentemente, os líderes dos países da NATO acham que Vladimir Putin vai aceitar impávido e sereno todo o tipo de provocações e agressões. E que o Ocidente de facto levar a guerra directamente aos territórios da federação russa sem que isso leve a um conflito aberto, global e apocalítico.
Apesar de a primeira-ministra Giorgia Meloni ter apoiado a Ucrânia no passado, a Itália está entre os países que se opõem à escalada. Numa declaração feita na semana passada que criticava as “declarações questionáveis” de Emmanuel Macron, Meloni acrescentou;
“Não percebo porque é que Stoltenberg disse uma coisa destas.”
O vice-primeiro-ministro Matteo Salvini também se manifestou contrário às intenções suicidas do secretário-geral da NATO, exigindo a sua demissão e declarando:
“A NATO não nos pode obrigar a enviar soldados italianos para lutar e morrer na Ucrânia”.
A Ucrânia já está a atacar a Rússia com armas não ocidentais, incluindo artilharia e drones. O passo seguinte, defendido por Stoltenberg, é o de usar mísseis terra-ar de longo alcance de fabrico ocidental. É importante sublinhar que, para poder ser utilizado em tempo real, este tipo de armamento terá necessariamente que ser, pelo menos em parte, operado por militares ocidentais e monitorado por satélites norte-americanos.
E se esta estratégia falhar, fala-se já no envio de caças F-16 para apoiar o esforço de guerra ucraniano. Até Novembro deste ano, quando vão ser realizadas nos EUA aquelas que são as eleições mais importantes da história deste século, tudo será feito para levar a Rússia a uma resposta que implique a eclosão da Terceira Guerra Mundial.
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