“Sinais” é um filme de terror/ficção científica de 2002, realizado por M. Night Shyamalan e interpretado por Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin e Abigail Breslin. Para todos os efeitos da leitura mainstream, a história é esta: uma família que mora numa herdade produtora de milho do interior dos Estados Unidos, mais precisamente na Pensilvânia, tenta fazer frente a uma maligna invasão alienígena, que é anunciada através de estranhos círculos gravados em culturas agrícolas por todo o mundo e que depois é concretizada pela presença de seres extraterrestres no planeta, que assumem uma actividade predatória sobre os humanos. O chefe da família, Graham Hess, é um pastor episcopal que perdeu sua fé e abandonou o ministério após a morte da sua mulher, que foi atropelada por um motorista adormecido ao volante (interpretado pelo próprio M. Night Shyamalan). Ele mora com o seu irmão mais novo Merril, ex-jogador da liga amadora de basebol; e os seus filhos Morgan (que sofre de asma) e Bo, que espalha copos de água pela casa sem nunca os beber até ao fim.

A família acaba por levar de vencida os extra-terrestres, ao descobrir que estes são vulneráveis à água, depois de Merril projectar inadvertidamente, com um taco de basebol, um dos copos cheios de água que a sua sobrinha Bo deixa espalhados pela casa. Interpretando uma sequência de coincidências como esta, que possibilitam a salvação da sua família, não como variáveis aleatórias, mas como um acto divino, Hess recupera a fé e regressa à sua vocação pastoral.

Mas o filme tem na verdade uma outra interpretação, de significado religioso mais profundo, que lhe dá mais coerência, sobretudo se prestarmos atenção aos detalhes da narrativa.

 

 

Males que vêm por bem.

Fundamentalmente a história é sobre a perda de fé de Graham Hess e sobre a redescoberta dessa fé ao perceber que não existem coincidências: todos os pequenos milagres que acontecem de uma vez e que os ajudam a derrotar o alienígena intruso em sua casa no final do filme apontam para a existência de um poder superior porque há simplesmente demasiadas variáveis em jogo para que o feliz resultado seja produto do acaso.

Primeiro, num flashback do momento da morte da mulher de Hess, Colleen, ela diz ao desesperado marido para recomendar a Merill que continue a agitar o seu taco de basebol. Hess pensa que esta palavras não fazem qualquer sentido e decorrem de um delírio de quem está às portas da morte. Acontece porém que se tratava de uma clara instrução sobre o modus operandi que nos é apresentado no desenlace do filme, como se Colleen pudesse ver o futuro.

Por outro lado, os pulmões de Morgan fecham-se por causa do ataque de asma que ele sofre no momento da intrusão do alienígena, e daí decorre que o veneno gasoso que os extraterrestres expelem para atordoar e matar as sua vítimas humanas não tem qualquer feito na criança.

Finalmente, é a pulsão obsessiva de Bo com a água, que acredita estar contaminada e que, por isso, a leva a deixar copos cheios por toda a casa, que permite levar o intruso alienígena de vencida, já que o composto H2O é letal para a fisiologia da espécie extra-terrestre.

E assim sendo, tanto o protagonista como os espectadores percebem que todas estas coincidências não são coincidências e que trabalha na narrativa uma força divina que dispõe as variáveis de tal forma que asseguram a sobrevivência da família e é por isso que Graham redescobre sua fé e retoma o seu ministério.

Ora, a teoria alternativa a esta interpretação altera apenas um detalhe:  os alienígenas não são realmente alienígenas, são na verdade demónios.

A ideia pode parecer estrambólica à partida, mas solicita-se ao gentil leitor, à prezada leitora, um pouco de paciência, porque este texto propõe-se a dar ao filme de M. Night Shyamalan ainda mais sentido e consistência do que a narrativa oficial consegue produzir.

Senão vejamos.

 

Anjos, demónios e água benta.

O filme chama-se “Sinais” (“Signs” no original) por muitas razões e não apenas por causa das marcas nas culturas agrícolas ou porque Hess percebe todos os sinais que provam que Deus existe. Os filmes de Shyamalan geralmente funcionam em vários níveis de significado e incorporam recorrentemente temas cristãos e conteúdos bíblicos. Depois da morte da mulher, Hess está em luta contra os seus demónios interiores e eis que estes se manifestam em demónios físicos reais.

Do princípio ao fim do filme nunca vemos naves espaciais, luzes no céu, tecnologia alienígena. As criaturas não representam de todo os estereótipos fisionómicos e fisiológicos com que a cultura popular representa formas de vida extra-terrestre, sendo muito maiores, mais imponentes e de configuração algo satânica. Estes seres não usam roupas, não carregam armas, são mais como feras arranhando e ferindo as suas presas.

 

Alienígena ou… Demónio?

 

Por outro lado, os personagens Colleen e Bo parecem ter a capacidade de ver o futuro. Para além do conselho visionário de Colleen na altura da sua morte, Bo tem sonhos premonitórios, o seu pai chama-lhe Anjo e conta a história que após o seu nascimento todos ficaram espantados com a sua aura celestial. Este pormenor cala uma das críticas feitas ao enredo do filme e que foi esta: Se a água era letal para estas criaturas, porque raio é que elas decidiriam enfiar-se num planeta em que este composto é omnipresente? Porque, seguindo a lógica desta interpretação alternativa, a água nos copos não é água comum, mas água benta abençoada por um anjo.

A água benta mata os demónios, como vemos no desenlace do filme, e tem um efeito semelhante em pessoas possuídas ou noutras criaturas mitológicas como vampiros. Também os vampiros parecem ter dificuldade em abrir portas, só podendo entrar nas nossas casas se forem convidados, algo que também acontece com os entes de “Sinais”, justificando-se assim outro paradoxo do filme: Como é que os astronautas de uma civilização tão avançada que atravessa a galáxia para invadir a Terra mostram sérias dificuldades no simples acto de arrombar as portas de uma casa de madeira. Porque eles não são alienígenas; eles não são do mundo sideral, eles são do mundo infernal.

Há ainda outras pistas que corroboram esta interpretação: de forma subtil, no fim do filem, somos informados que a batalha entre a espécie humana e os “invasores” mudou de curso, com vantagem para os humanos, no Médio Oriente, o berço das três religiões iniciadas por Abraão, onde três pequenas cidades encontraram um “método primitivo” para derrotá-los. O “método primitivo” não é descrito, mas infere-se que é exactamente o mesmo descoberto pela família Hess: a água benta.

Há também uma linha de diálogo muito pertinente logo no início do filme: depois de Merill e Hess detectarem pela primeira vez os intrusos no telhado da sua casa, Caroline Pasy, a agente da polícia que é chamada ao local, diz-lhes: não sabemos nada sobre a pessoa que vocês viram, mas devemos manter todas as possibilidades em aberto. É muito possível que essa frase funcione como uma dica para o espectador, de forma a que considere que há mais camadas de significado no enredo do que aquela sugerida por uma primeira análise, num filme sobre um padre que perdeu a seu fé em Deus e que depois a redescobre, por que a principal ameaça da história é de natureza demoníaca, em vez de extraterrestre.

Tanto mais que, analisando o currículo do cineasta e guionista norte-americano, percebemos que as questões religiosas e míticas dominam o seu imaginário: de “A Vila” a “Sexto Sentido”, de “A Dama na Água” a “Presos no Tempo”, a filmografia de M. Night Shyamalan é carregada de significados ocultos e frequentemente relacionados com o conflito espiritual entre o bem e o mal.

 

 

Para além de Hollywood.

A tese de que o fenómeno OVNI está, pelo menos em parte, ligado a uma realidade espiritual, a uma luta entre o bem e o mal, e que as entidades que milhares de testemunhas oculares por todo o mundo têm identificado como extraterrestres são de facto seres demoníacos não é tão disparatada como parece e há uma série de ufólogos, informadores e líderes de opinião que têm vindo recentemente a defender a ideia.

Um dos mais respeitados investigadores do fenómeno, Jacques Vallée (que Spielberg retratou em “Encontros Imediatos do Terceiro Grau” como Claude Lacombe) já há muito que estabeleceu esta tese. Outros estudiosos como Richard Dolan, Timothy Alberino, a académica Diana Walsh, o astronauta Charlie Duke, e o informador Luis Elizondo, têm também estabelecido uma relação entre os relatos de seres que “não são deste mundo” e uma realidade demoníaca.

Tucker Carlson, que foi dos primeiros jornalistas mainstream a dedicar a sua atenção ao fenómeno, disse já por várias vezes publicamente que, segundo aquilo que as mais credíveis fontes lhe confidenciaram sobre o assunto, as aparições de entidades que projectamos como alienígenas nada têm a ver com vida inteligente no universo conhecido, sendo antes manifestações de uma contenda espiritual, supra-dimensional, de componentes aterradoras.

 

 

Na verdade, a tese é solidamente apoiada por relatos bíblicos e contemporâneos, e resolve várias questões contraditórias que permanecem teimosamente em aberto, nomeadamente, porque é que os alienígenas nos visitam com frequência mas não se apresentam ‘oficialmente’, porque é que alguns parecem ter intenções benéficas e outros cometem violências contra os seres humanos, porque é que muitos relatos apontam para a sua capacidade de se movimentarem inter-dimensionalmente e desafiando as leis da física, que agenda motiva a sua presença entre nós e, por último, porque é que os governos, tendo conhecimento factual desta realidade, não o partilham com as massas.

Porque, se calhar, essa realidade é excessivamente assustadora, para vivermos tranquilamente com ela.