O crescimento da população na América do Norte, na Europa e em vastas regiões da Ásia está abaixo da taxa de substituição. Enquanto as ideias apocalípticas sobre a demografia dos anos 60 e 70, impulsionadas por pensadores como Carl Sagan e grupos pseudo-científicos como o Clube de Roma, afirmavam que a verdadeira ameaça à humanidade era o excesso de população, no século XXI os dados indicam que a humanidade está a caminhar para um colapso populacional. Mas para o pasquim neo-liberal que dá pelo nome de Politico, no entanto, a defesa da reprodução humana não passa de uma descabida obsessão de extrema-direita.

 

 

A repórter do Politico, Gaby Del Valle, foi cobrir a NatalCon, a primeira conferência sobre natalidade, que se realizou em Austin,Texas, no final do ano passado, como parte do seu trabalho sobre “imigração, vigilância e extrema-direita”. O que ela apreendeu dessa experiência é que o natalismo, ou a ideia de que os seres humanos devem reproduzir-se, tem um “objectivo final” mais nefasto, que é “uma revisão social total, uma cultura em que a criação de filhos é fundamental”.

Ah que horror, uma cultura focada na multiplicação da espécie!

Elon Musk, que tem uma catrefada de filhos, respondeu à história, dizendo:

“Se as taxas de natalidade continuarem a cair, a civilização humana vai acabar”.

Ele não está errado.

 

 

Aqueles que defendem a ideia louca de que os seres humanos têm a responsabilidade de perpetuar a espécie e que, se os humanos deixarem de ter filhos, a civilização entrará em colapso, escreve Del Valle, “são membros da Nova Direita, um conglomerado de pessoas da ala populista do movimento conservador que acreditam que precisamos de mudanças sísmicas na forma como vivemos agora – e que muitas vezes vêem o passado como o melhor modelo para o futuro que gostariam de construir”.

Os conservadores, como é óbvio, são avessos a mudanças sociais amplas e caóticas e acreditam que os valores tradicionais superam a volátil manta de retalhos em constante mutação da cultura contemporânea, que se inclina para a auto-realização, a atomização social e a relatividade moral. Del Valle parece surpreendida com o facto dos conservadores presentes na NatalCon defenderem as famílias nucleares como os alicerces da sociedade.

Ah que horror, a família! Os laços de sangue! O tecido da coesão social e da permanência dos valores que a constituem! Pavoroso!

Del Valle falou com Kevin Dolan, um pai que discursou na NatalCon. Dolan disse-lhe que a cultura contemporânea, que dá prioridade à carreira em detrimento da família, contribuiu para o declínio da taxa de natalidade e para a crença de que constituir família não é assim tão importante.

Para o Politico e para a sua redactora, a fusão das preocupações com a imigração e o declínio da taxa de natalidade são uma espécie de pesadelo eugenista. “Muitos dos oradores e dos participantes vêem o natalismo como uma forma de inverter estas mudanças”, escreve Del Valle, dizendo ainda que os participantes da NatalCon esperam que, através da sua defesa de políticas de crescimento demográfico, seja possível promover uma “população suficientemente grande para efectuar mudanças mais duradouras”.

Acto contínuo, a ‘jornalista’ estabelece uma relação entre a defesa de mais nascimentos de seres humanos nos Estados Unidos ao racismo. “Esta conferência”, escreve, “sugere que há uma forma simples de contornar o problema da regra da maioria: criar uma nova maioria – uma que se pareça e soe exactamente como eles”.

Quando um casal traz uma nova vida ao mundo, a criança, em circunstâncias normais, assemelha-se a eles. Não é racismo. É genética. Mas não há nada a fazer com Del Valle, que vai sempre pensar que qualquer branco que tiver mais que um filho é xenófobo de certeza.

Mais a mais, “contornar o problema da regra da maioria” é precisamente o que o regime Biden está a fazer, com objectivos opostos, através das suas políticas de fronteira aberta. Mas a escriba-activista do Politico prefere olvidar essa flagrante e eugénica questão.

Del Valle critica a noção de que a reprodução humana faz parte de um plano divino, uma crença defendida não só pelos cristãos mas por grupos religiosos de todo o mundo, antes de começar a chamar directamente “supremacistas brancos” àqueles que querem mais bebés.

“Os supremacistas brancos, por sua vez, enquadram o seu projecto como uma forma de assegurar ‘um futuro para as crianças brancas’”, e cita um membro de um grupo nacionalista branco que partilha a crença de que devem nascer mais crianças.

Talvez fosse bom que alguém informasse a articulista que o aborto nos Estados Unidos tira a vida a mais bebés negros por nascer do que a qualquer outro grupo racial ou étnico. E que os natalistas são, por definição, contra o aborto.

Mas a rapariga acha que a única solução para o declínio demográfico nos EUA é importar mais mão de obra barata ilegalmente através da fronteira entre os EUA e o México.

O artigo menciona planos políticos que poderiam entrar em vigor num segundo mandato de Trump, como os que “promoveriam ter filhos e criá-los em famílias nucleares”, como algo abominável para a vida americana.

Os oradores, que, segundo Del Valle, não passam de uma cambada de nazis, manifestaram a sua oposição ao controlo da natalidade, ao aborto, aos antidepressivos, aos microplásticos no ambiente, à ideologia de género, às aplicações de encontros, ao sexo casual e a um movimento feminista que convenceu as mulheres “de que podem ter tudo – filhos e uma carreira e férias intermináveis e muito mais – apenas para acabarem infelizes e sozinhas”.

Porque procurar soluções para a plena realização humana, que promovam uma vida saudável e profícua e tragam significado à existência também só pode ser coisa de fascistas, não é?