O Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, foi confirmado como morto num acidente de helicóptero perto da fronteira da República Islâmica com o Azerbaijão. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Hossein Amir-abdollahian também morreu, juntamente com outros funcionários, incluindo um governador regional e vários guarda-costas e membros da tripulação.
Raisi tinha estado no vizinho Azerbaijão para inaugurar uma nova barragem ao lado do presidente azeri, Ilham Aliyev. O seu avião terá entrado num banco de nevoeiro antes do acidente.
Embora seja uma figura menos importante no governo iraniano do que o líder supremo, o Grande Ayatollah Ali Khamenei, Raisi foi uma figura-chave no regime iraniano durante décadas antes de se tornar presidente em 2021. Clérigo e jurista islâmico, foi anteriormente Presidente do Supremo Tribunal e, enquanto procurador na década de 1980, foi membro do chamado “comité da morte”, responsável pela execução de milhares de prisioneiros políticos.
A sua presidência foi marcada por uma violenta repressão dos protestos contra a morte, sob custódia policial, de Mahsa Amini, que tinha sido detida por usar indevidamente o hijab, em Setembro de 2022. Raisi tinha endurecido as regras relativas ao vestuário feminino um mês antes.
A longa guerra por procuração entre o Irão e Israel também se intensificou durante o mandato de Raisi, com a República Islâmica a lançar ataques directos com mísseis e drones contra o Estado judaico em resposta ao bombardeamento por Israel de um consulado iraniano na Síria.
O vice-presidente Mohammad Mokhber assumirá as funções de Raisi até à realização de novas eleições presidenciais. Estas deverão ser organizadas nos próximos 50 dias.
O Líbano, onde a organização Hezbollah, apoiada pelo Irão, detém um poder considerável apesar de não estar no governo, declarou três dias de luto.
Estará Israel por trás da ocorrência?
Fontes israelitas negaram qualquer envolvimento no acidente, e o Irão não sugeriu até agora a suspeita de qualquer crime, mas as teorias da conspiração que consideram que se trata de um atentado israelita proliferam neste momento, na web. O que dá força a estas teorias é a extraordinária capacidade operacional da agência de espionagem israelita Mossad dentro do Irão.
No passado, Israel realizou vários ataques audaciosos a instalações críticas, bem como a personalidades importantes do Irão. Em 2020, numa operação impressionante, o cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh foi morto no que o Irão chamou uma “operação complexa”, culpando o arqui-inimigo Israel e um grupo de oposição exilado. A “operação foi muito complexa, utilizando equipamento electrónico e ninguém estava presente no local”, disse à televisão estatal o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, o contra-almirante Ali Shamkhani. Fakhrizadeh conduzia o seu carro quando foi morto por uma metralhadora robotizada montada numa carrinha estacionada na berma da estrada. O atirador estava sentado num local não revelado a mais de 1.000 milhas de distância, controlando a metralhadora num ecrã de computador.
Israel escolheu um modelo especial da metralhadora FN MAG de fabrico belga, acoplada a um aparelho robótico avançado, segundo noticiou o New York Times com base em informações de fontes israelitas. Mas a metralhadora, o robô, oscomponentes e acessórios pesam, no seu conjunto, cerca de uma tonelada. Por isso, o equipamento foi desmontado e contrabandeado para o país, peça por peça, e depois secretamente assemblado no Irão. O robô foi construído para caber na caixa da carrinha. Foram montadas câmaras que apontavam em várias direcções para dar à sala de comando uma imagem completa. Por fim, a carrinha estava cheia de explosivos para poder ser desfeita em pedaços depois da missão ter sido cumprida. Um sistema de inteligência artificial foi programado para compensar atrasos, movimentos da carrinha e a velocidade do carro do cientista.
No ano passado, Israel afirmou ter levado a cabo outra operação dramática no Irão. Desta feita, o que impressionou a comunidade de inteligência internacional foi o facto das forças israelitas terem interrogado um agente do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) em solo iraniano. O académico Arash Azizi escreveu num blogue da Atlantic Monthly:
“A notícia era tão incrível que teria feito mais sentido como um episódio da série de suspense de espionagem, Teerão. A 29 de junho, a Mossad, agência de informação israelita, revelou os pormenores de uma operação no interior do Irão. Os seus operacionais, segundo a Mossad, tinham interrogado recentemente um agente do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) que planeava matar cidadãos israelitas no Chipre. Israel já tinha agradecido ao Chipre por ter ajudado a frustrar este plano. Para completar, a Mossad divulgou imagens de uma confissão em vídeo de Yusef Shahbazi Abbasalilu, juntamente com um cartão de embarque em que este viajava de Istambul para o Irão. A acreditar nisto, os agentes da Mossad operam com tal facilidade no Irão que não só são capazes de recolher informações como também de prender e interrogar um agente do regime em solo iraniano”.
Em 2022, agentes da Mossad detiveram e interrogaram Mansour Rasouly, um outro agente do IRGC, na sua casa no Irão, onde este confessou um plano para assassinar um diplomata israelita na Turquia, um general americano estacionado na Alemanha e um jornalista em França.
A reportagem do NYT revelou também algumas operações que a Mossad desenvolve contra o programa nuclear iraniano:
“Desde 2004, quando o governo israelita deu ordens à Mossad, para impedir que o Irão obtivesse armas nucleares, a agência tem levado a cabo uma campanha de sabotagem e ciberataques contra as instalações de enriquecimento de combustível nuclear do Irão. Além disso, tem vindo a eliminar metodicamente os peritos que se pensa estarem a liderar o programa de armas nucleares. Desde 2007, os seus agentes assassinaram cinco cientistas nucleares iranianos e feriram outro. A maioria dos cientistas trabalhava directamente para o Sr. Fakhrizadeh naquilo que os serviços de inteligência israelitas dizem ser um programa secreto para construir uma ogiva nuclear, incluindo a superação dos desafios técnicos substanciais decorrentes de construir uma ogiva suficientemente pequena para caber no topo de um dos mísseis de longo alcance do Irão.”
Mais recentemente, O vice-presidente do Hamas, Saleh al-Arouri, foi morto num ataque de um drone israelita nos subúrbios de Dahiyeh, no sul de Beirute, e o general de brigada Mohammad Reza Zahedi, do IRGC, foi também eliminado pelos israelitas num ataque aéreo em Damasco, na Síria.
Ainda assim e por enquanto, a hipótese do incidente que vitimou o presidente iraniano se dever às condições meteorológicas adversas permanece como a mais plausível.
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