No cenário tumultuado do mundo contemporâneo, onde as grandes cidades se expandem rapidamente e a tecnologia permeia cada aspecto de nossas vidas, surge uma questão intrigante: será que o futuro da humanidade está nos movendo em direção ao colapso? Bom, essa pergunta poderia soar interessante 10 anos atrás, mas agora já podemos ver o mundo colapsar diante dos nossos olhos.
À primeira vista, a afirmação deste texto pode parecer contraditória, especialmente considerando o ímpeto incessante em direção ao progresso tecnológico e à urbanização. No entanto, uma análise mais profunda revela que há fortes argumentos a favor de um retorno às raízes de uma civilização mais tradicional como uma abordagem sustentável para garantir a permanência da nossa existência.
A vida frenética nas grandes cidades tem levado a um aumento preocupante nos casos de doenças físicas e psicológicas. A busca incessante por praticidade e velocidade no ritmo de vida cotidiano tem afetado não apenas as interações sociais externas, mas também o equilíbrio interno dos indivíduos. Por conta do avanço tecnológico, desde a revolução industrial, as ferramentas de trabalho, os meios de comunicação e até mesmo a essência da vida cotidiana têm sido pautados por uma busca desenfreada pela eficiência, exacerbando as demandas impostas pelo ritmo acelerado da vida moderna. Esse cenário, somado ao índice histórico de violência em centros urbanos, o barulho, a indiferença e (por incrível que pareça) a solidão, tem gerado um acúmulo significativo e constante de stress, resultando em um declínio alarmante na qualidade de vida da nossa sociedade.
Para além da saúde estão também os hábitos e costumes do nosso século. A hipersensibilidade física e emocional, a tendência em elevar animais a dignidade humana, a obsessão por viver confinado em um mundo virtual e toda essa ‘boçalidade’ normativa. Ao longo do caminho, perdemos o senso de realidade, mergulhando em um mar de ilusões e superficialidades. Nossa sociedade tornou-se hipersensível, reagindo desproporcionalmente a cada pequeno inconveniente e transformando diferenças de opinião em guerras ideológicas. E embora pareça uma incrível distopia narrada por algum escritor dos anos 80, esse é o puro sumo da nossa realidade.
Se antes era opinião popular que sociedades rurais e tradicionais fossem retrógradas, agora há uma alta nunca vista na quantidade de migrações dos centros urbanos para as zonas rurais e menos povoadas. Nossos avós nos avisaram, não é dessa maneira que deveríamos viver. Até quando vamos tolerar a tristeza e o cinza dos edifícios? Até quando nossos olhos vão suportar a crueldade das telas? Até quando vamos permanecer crendo na mentira de que o dinheiro vale mais que o nosso tempo? O seu apartamento não é o futuro.
É claro que essa visão de um futuro rural e tradicional não significa um retorno ao passado em completo ou um abandono total do progresso tecnológico. Pelo contrário, trata-se de uma integração equilibrada entre o antigo e o novo, uma fusão entre a tradição e a tecnologia, onde a sabedoria ancestral é combinada com os avanços modernos para criar um estilo de vida mais sensato e bem menos insuportável.
Em suma, é hora de dar um passo atrás e reavaliar nossas prioridades. É hora de redescobrir a beleza da vida real, longe das frescuras do século XXI. Uma revolução interior urge em nosso tempo ou ficará para trás tudo de bom que um dia alguém ousou construir. É preciso nos reconectarmos com o que realmente importa e desconectarmos dessa matrix distópica que nos colocaram. Abraçando a essência da existência, com toda a sua complexidade e beleza.
PAULO H. SANTOS
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Paulo H. Santos é professor particular de filosofia, bacharel em filosofia (UCP – Brasil) e licenciado em História (UNESA – Brasil). Católico. Escreve em português do Brasil
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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