Compreender a intensa fixação da sociedade contemporânea pelo novo, pelo exclusivo e pelo moderno é uma tarefa que demanda mais do que uma simples observação superficial. É necessário escavar mais fundo para desvendar as motivações por trás desse apego aparentemente insaciável. A resposta, em última instância, parece residir na busca incessante pela aparência. Em uma era cada vez mais dominada pela cultura visual, moldada não apenas pela mídia, mas também pela ascensão das redes sociais e da constante exposição a imagens e ideais de sucesso e felicidade, a obsessão pelo novo se tornou uma marca indelével da nossa época.
Essa jornada incessante em busca do “eu” idealizado tem se desviado cada vez mais do verdadeiro cerne da humanidade. Em nossa ânsia por reinventar a nós mesmos, muitas vezes nos esquecemos do que realmente somos. Abandonamos os valores e tradições acumulados ao longo de décadas e séculos, em favor de uma perspectiva relativa na qual conceitos como certo e errado, bom e ruim, belo e feio tornam-se fluidos e ambíguos.
No entanto, isso não significa uma adesão cega à tradição pelo simples fato de ser antiga. Devemos adotar uma postura crítica e reflexiva em relação ao legado que herdamos, mantendo vivo aquilo que é perene, para que não pereça.
Poucos anos atrás perdemos uma voz poderosa que resistia a essa maré de relativismo: Sir Roger Scruton. Sua partida deixou um luto na luta contra a banalização da verdade e a negação da existência de conceitos fundamentais. Estamos testemunhando uma era em que a verdade é frequentemente subjugada pela narrativa conveniente e pela manipulação da realidade.
É crucial reconhecer não uma oposição irracional ao progresso, mas sim uma resistência ao progresso cego. Precisamos reavaliar criticamente o curso da história humana, questionando se o que chamamos de progresso não é, na verdade, um retrocesso disfarçado. Devemos examinar de perto os supostos avanços da civilização e avaliar se eles verdadeiramente nos conduzem a um estado de maior desenvolvimento moral, ético e espiritual.
À medida que nos esforçamos para reconstruir os alicerces da humanidade, devemos lembrar que somos guardiões temporários deste mundo. Temos a responsabilidade não apenas de preservar o legado que recebemos, mas também de deixar um legado significativo para as gerações futuras. A autonomia humana, tão essencial para o florescimento individual e coletivo, só pode ser alcançada quando nos libertamos das correntes da conformidade e da superficialidade. Devemos resistir à tentação de nos conformar com as expectativas externas e cultivar uma autenticidade profunda que reflita nossa verdadeira essência.
O homem contemporâneo está imerso em sua própria vaidade e obcecado pela imagem que projeta para o mundo, muitas vezes acaba por se encontrar prisioneiro de suas próprias aparências. Essa paixão estética desenfreada, que muitas vezes sacrifica a verdade, as virtudes, a moral e a ética em prol da busca pelo novo e pelo inovador, pode ser entendida como uma forma de paixão no sentido mais profundo do termo. Como uma chama devoradora, consome a alma humana, desviando-a da racionalidade e autonomia tão valorizadas por filósofos como Kant.
Portanto, é hora de uma reflexão profunda e uma busca pela autenticidade perdida. Devemos nos desapegar das correntes da superficialidade e da obsessão pelo novo, redescobrindo o que realmente importa: nossa essência, nossos valores e nossa humanidade compartilhada. Somente ao reconhecermos a beleza no que é duradouro e verdadeiro poderemos encontrar um caminho para além da tirania do efêmero e do superficial, rumo a uma existência mais plena e significativa. Em última análise, a jornada em direção a uma existência autêntica não é fácil nem linear. Requer uma dedicação constante ao autoconhecimento, à reflexão crítica e ao cultivo de relacionamentos significativos. No entanto, é uma jornada que vale a pena.
PAULO H. SANTOS
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Paulo H. Santos é professor particular de filosofia, bacharel em filosofia (UCP – Brasil) e licenciado em História (UNESA – Brasil). Católico. Escreve em português do Brasil
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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