O principal serviço de inteligência do governo federal canadiano, confirmou que a China interferiu nas eleições do país, entre 2019 e 2021, para impedir que os opositores de Justin Trudeau tomassem o poder.
Quando o presidente russo Vladimir Putin foi reeleito em 2018, o primeiro-ministro Justin Trudeau correu para o microfone mais próximo para expressar a preocupação de que actores estrangeiros pudessem perturbar futuras eleições no seu país. Na altura, o primeiro-ministro afirmou:
“Temos estado muito concentrados nos últimos anos no fortalecimento das nossas instituições democráticas. Temos de nos certificar de que são actualizadas para impedir a intromissão e a interferência estrangeiras.”
Como sempre acontece com os neo-liberais, estas afimações são resultado do clássico fenómeno de projecção. Trudeau acusa os seus inimigos dos actos que ele próprio, ou os seus amigos, cometem.
A suposta preocupação do primeiro-ministro com a santidade das “instituições democráticas” não é apenas desprovida de sentido devido ao uso que fez dos poderes do governo contra a liberdade de expressão e de informação ou contra os camionistas canadianos que protestavam pacificamente contra as suas políticas autoritárias de combate à covid-19. É também espúria porque é evidente que nem Trudeau nem o seu governo fizeram muito para proteger o sistema eleitoral do Canadá da influência estrangeira nos anos que se seguiram. Senão vejamos.
A Interferência eleitoral chinesa.
Na segunda-feira, a principal agência de espionagem de Ottawa, o Canadian Security Intelligence Service (CSIS), confirmou que a China comunista interferiu nas eleições federais de 2019 e 2021 no Canadá. Esses esforços “concentraram-se principalmente em apoiar aqueles vistos como ‘pró-RPC’ ou ‘neutros’ em questões de interesse para o governo [chinês]”, segundo um slide mostrado às autoridades canadianas, de acordo com a Reuters.
Segundo o Toronto Star, o briefing fornecido à Comissão de Interferência Estrangeira revelou ainda que, durante o concurso de 2021, o PCC visava especificamente
“dissuadir os canadianos, especialmente os ‘de herança chinesa’, de apoiarem o partido conservador, a então líder Erin O’Toole e o candidato conservador da província de British Columbia, Kenny Chiu”.
Os candidatos conservadores adoptaram uma abordagem de linha dura em relação à China durante a campanha de 2021, muitas vezes destacando o tratamento brutal do PCC aos uigures e criticando a Huawei, uma gigante chinesa de tecnologia suspeita de disponibilizar spyware a Pequim.
Chiu acabou por perder a sua candidatura às eleições de 2021, enquanto o Partido Liberal de Trudeau venceu as eleições de 2019 e 2021.
De acordo com o Star, a avaliação do CSIS refere:
“O timing desses esforços, que foi alinhado com a subida nas sondagens dos conservadores; as semelhanças na linguagem com artigos publicados pelos media estatais; e os acordos de parceria entre esses veículos baseados no Canadá e entidades da República Popular da China (RPC); sugerem que esses esforços foram orquestrados ou dirigidos pela RPC “.
Erin O’Toole estimou que a interferência da China custou aos conservadores até nove deputados, mas acrescentou que a circunstância não mudou o curso da eleição.
Os relatórios sobre a interferência eleitoral da China começaram a surgir no início do ano passado, quando informações do CSIS sobre as operações do PCC foram divulgadas ao The Globe and Mail. Inicialmente, Trudeau rejeitou o pedido dos conservadores para que fosse efectuada uma investigação sobre as alegações, afirmando a certa altura.
“Os canadianos podem ter a certeza de que a nossa integridade eleitoral foi mantida em 2019 e 2021”.
O primeiro-ministro mais tarde aquiesceu, nomeando um investigador para examinar o assunto em março de 2023.
Durante o briefing de segunda-feira, o CSIS pediu ao governo de Trudeau que tome medidas mais eficazes para lidar com futuras tentativas de interferência eleitoral, com a agência observando que há “poucas consequências legais ou políticas” para actores estrangeiros que infringem o processo democrático do Canadá.
Trudeau pronuncia-se.
Na sequência da reunião de segunda-feira da Comissão de Interferência Estrangeira sobre as conclusões do CSIS, Trudeau foi chamado a depor perante a Comissão para revelar o que sabia e quando soube das acções da China.
No início do seu discurso, o primeiro-ministro atacou o governo do seu antecessor, o primeiro-ministro conservador Stephen Harper, que, segundo ele, não exerceu suficiente “controlo” sobre o “universo da segurança nacional” do Canadá. Também elogiou a abordagem do seu governo às questões de segurança nacional e afirmou que as suas agências estão “em conformidade com os valores, as regras e a Carta canadianos, e fazem tudo o que é necessário para manter os canadianos seguros”.
Nunca desperdiçar uma oportunidade para o auto-elogio, passar sempre a responsabilidade para a oposição e acompanhar invariavelmente o instinto de crápula com salada de palavras. Talentos inatos do tirano canadiano.
Durante a audiência, perguntaram ao primeiro-ministro quando é que ele soube das operações de interferência chinesa no Canadá, especificamente no que diz respeito à nomeação, em 2019, do deputado liberal Han Dong. Um memorando do CSIS divulgado na semana passada revelou que o Consulado Chinês em Toronto transportou estudantes chineses que falam mandarim para o distrito de Dong, para ajudá-lo a garantir a nomeação.
O memorando referia que “alguns relatórios dos serviços secretos indicavam que os estudantes recebiam documentos falsificados para poderem votar, apesar de não serem residentes em Don Valley North” e que os registos “eram fornecidos por indivíduos associados a um conhecido agente de representação”.
Dong disse à comissão na terça-feira, como descreveu o Rebel News, que “falava frequentemente” com o então conselheiro-geral Han Tao do consulado chinês em Toronto. Ele também disse à comissão que não “viu nenhuma prova” de interferência da RPC nas eleições canadianas e, “tanto quanto sabe”, não acredita que tenha havido tal interferência em relação à sua nomeação para 2019.
Não obstante, o comissário eleitoral do Canadá está actualmente a investigar a nomeação de Dong, segundo esta publicação independente canadiana.
Durante o seu depoimento, Trudeau afirmou que foi inicialmente informado sobre a situação pelo seu conselheiro Jeremy Broadhurst em Setembro de 2019 – um mês antes das eleições federais daquele ano – e que “o CSIS não tinha nenhuma conclusão para partilhar naquele momento” sobre se “havia uma sensação de que o resultado real da nomeação poderia ter sido afectado”.
Trudeau afirmou ainda que não acreditava que os avisos do CSIS sobre o facto de o consulado de Pequim em Toronto ter transportado estudantes chineses em autocarros não atingissem o “limiar” para remover Dong como candidato liberal:
“Neste caso, não me pareceu que houvesse informação suficiente ou suficientemente credível que justificasse este passo tão significativo, como o de afastar um candidato nestas circunstâncias”.
Trudeau says CSIS raised red flags over the nomination campaign of former Liberal MP Han Dong.
The PM says warnings of Chinese officials bussing people to Dong’s riding weren’t “sufficiently credible” to remove him as a Liberal nominee.https://t.co/irUitH5vNc pic.twitter.com/otSxeFLbe8
— Rebel News (@RebelNewsOnline) April 10, 2024
Comentários questionáveis.
Apesar das conclusões do CSIS, Trudeau parece não estar convencido de que os esforços da China em 2021 foram concebidos para beneficiar o Partido Liberal. De acordo com o The Epoch Times, o primeiro-ministro lançou dúvidas sobre as informações que sugerem que Pequim estava a tentar aumentar as perspectivas eleitorais do seu partido, dizendo:
“Embora alguns funcionários possam ter manifestado uma ou outra preferência (…) parece muito improvável que o próprio governo chinês tenha uma preferência nas eleições”.
Para além do facto, que o próprio tornou público, do ‘liberal’ primeiro-ministro canadiano ser um confesso fã do regime chinês, estas observações contradizem as informações fornecidas pelo CSIS, que salientavam o objetivo do PCC de prejudicar os candidatos do Partido Conservador.
Trudeau flashback: “You know, there’s a level of of admiration I actually have for China because their basic dictatorship…is a flexibility…that I find quite interesting.”pic.twitter.com/sArNXmn6NK
— Michael P Senger (@michaelpsenger) February 15, 2022
Outro momento questionável ocorreu quando Trudeau descreveu a forma como recebe informações. O líder do Partido Liberal indicou que “pode ou não ler” os resumos de informações que lhe são fornecidos pelos funcionários da administração, invocando a sua agenda preenchida por trabalha, reuniões e viagens.
“A melhor forma de me transmitirem informações é receber um briefing directo do conselheiro de segurança nacional e do conselheiro dos serviços secretos, que me fornecem actualizações de segurança, geralmente sobre vários tópicos”.
Daqui se depreende que Trudeau tem mais que fazer do que aturar os serviços que protegem o seu país de interferências estrangeiras; que as informações que recebe são filtradas por actores políticos e que, assim sendo, a sua declaração de que “tudo faz para manter os canadianos seguros” é, se não falsa, deveras exagerada.
Mas estamos a falar do homem quer instituir a prisão perpétua para o ‘discurso de ódio’, que defende e implementa a eutanásia por motivos económicos, que prende cidadãos e congela contas bancárias por crimes de opinião, que interditou, na prática, os meios de comunicação social independentes no país, que usa os serviços secretos para espiar os cidadãos que se opõem a mudanças de sexo em crianças e que, enquanto os canadianos sentem cada vez mais dificuldades económicas e uma inédita crise no acesso à habitação, se entretém a esbanjar milhões de dólares para investigar a forma como as alterações climáticas geram tiranos como ele.
Não se trata propriamente de alguém que tenha os interesses das massas em grande consideração.
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