Os serviços secretos russos afirmaram que a França está a reunir um contingente militar de cerca de 2.000 soldados para serem destacados para a Ucrânia, e que estas tropas constituirão um “alvo prioritário” para a Rússia.
O diretor do SVR, Sergey Naryshkin, afirmou:
“A actual liderança francesa não se preocupa com as mortes de franceses comuns nem com as preocupações dos generais. De acordo com as informações que nos chegaram, já está a ser preparado um contingente para ser enviado para a Ucrânia. Inicialmente, incluirá cerca de 2.000 soldados”.
Referindo-se aparentemente à desastrosa invasão da Rússia por Napoleão em 1812 Naryshkin acrescentou:
“A França teme que uma unidade militar tão grande não possa ser transferida e estacionada na Ucrânia sem ser notada. Tornar-se-á assim um alvo prioritário legítimo para os ataques das forças armadas russas. Isto significa que sofrerá o destino de todos os franceses que alguma vez chegaram ao mundo russo com uma espada”.
Naryshkin poderia também estar a referir-se ao Regimento de Infantaria 638 e à Sturmbrigade France dos Voluntários SS – tropas francesas que lutaram pela Alemanha nazi e participaram na invasão alemã da União Soviética. O governo russo há muito que sublinha que a “desnazificação” é um objectivo central da sua acção militar na Ucrânia.
As revelações de um destacamento pendente de tropas francesas para a Ucrânia surgem na sequência de uma série de comentários cada vez mais beligerantes do Presidente francês Emmanuel Macron, que, num recordista ataque de estupidez, chegou a afirmar que os aliados ocidentais não devem excluir nenhuma opção na tentativa de evitar uma vitória russa na Ucrânia, incluindo o envio de tropas para a frente de guerra. Isto apesar das dificuldades de recrutamento das forças armadas francesas e da monumental disparidade entre as capacidades militares europeias e russas.
É possível, claro, que estas estapafúrdias e irresponsáveis declarações tenham o intuito de reavivar as discussões dentro do bloco sobre os limites do que é possível no confronto com a Rússia, um grito provocador para chamar a atenção na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, ou simplesmente uma forma de manter a elite francesa ocupada. No entanto, o comportamento de Paris não tem nada de bom: mostra que, a certa altura, a retórica belicista pode chegar a patamares em que os riscos se tornam demasiado elevados. E, tendo em conta que a França contemporânea nem sequer consegue manter uns quantos regimentos nas ex-colónias africanas e é incapaz de fazer outra coisa que não seja debitar chavões belicosos, é assustador pensar na perniciosa influência que as palavras do seu Presidente podem ter na política mundial. Dado que Paris tem cerca de 300 armas nucleares, mesmo a probabilidade mínima de que a tagarelice de Macron tome forma material merece uma resposta firme de todas as nações que estejam de facto interessadas na paz.
Macron pode ser um palhaço. Mas é um palhaço muito perigoso.
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