A venerável nave espacial Voyager 1, que tem percorreu o nosso sistema solar até aos seus distantes confins, no último meio século, e que navega nesta altura para lá dos seus limites, parece ter entrado em disfunção e está a enviar à NASA dados desconexos.

A sonda, lançada no verão de 1977, tem enfrentado muitos desafios – incluindo a diminuição das reservas de energia e o mau funcionamento do software. Viajando a cerca de 15 mil milhões de quilómetros da Terra, a Voyager 1 está agora a enviar mensagens intrigantes e incoerentes para o nosso planeta.

Suzanne Dodd, gestora do projecto Voyager afirmou:

“Basicamente, deixou de falar connosco de uma forma coerente. É um problema sério”.

A nave espacial, que funciona com tecnologia que remonta a meados da década de 1970, tem estado a transmitir uma simples sequências alternadas de 1s e 0s alternados em vez de um código binário inteligível. As tentativas de reiniciar os sistemas da sonda não foram bem sucedidas até à data. Ainda assim, Dodd sublinhou que a proficuidade científica e longevidade das Voyager é notável, já que:

“O botão que carregamos para abrir a porta de um automóvel tem mais poder de computação do que as naves espaciais Voyager. É notável que continuem a voar, e que tenham voado durante mais de 46 anos”.

Os cientistas do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA estão agora a reconstituir os passos técnicos dados pelos criadores originais da Voyager 1, na esperança de retificar o problema. Estão também a ser tomadas medidas para conservar a fonte de energia da nave espacial, baseada em plutónio, que está a diminuir.

Não se esperava que a nave espacial Voyager durasse muito mais do que 50 anos. O astrónomo Stamatios Krimigis, que trabalhou no projecto original, afirmou:

“O meu lema durante muito tempo foi 50 anos ou nada… Estamos a aproximar-nos disso”.

 

Uma odisseia no espaço.

Como o Contracultura já documentou, as sondas espaciais gémeas Voyager navegaram através do nosso Sistema Solar durante mais de quatro décadas, levando o conhecimento da humanidade sobre o cosmos cada vez mais longe. Lançadas em 1977, as sondas tiraram partido de um raro alinhamento dos planetas exteriores (Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno), de forma a ganharem velocidade com o mínimo dispêndio de energia – utilizando a gravidade de um planeta para se deslocarem para o seguinte, numa trajectória assistida pelas leis da física – passando por Júpiter em 1979, antes de viajar para Saturno no início da década de 1980.

 

 

A Voyager 1 fez um desvio para ver mais de perto os anéis de Saturno, mas essa divergência empurrou a sua órbita para fora da rota de Urano e Neptuno. A Voyager 2 continuou sozinha, passando por Úrano em 1986 e Neptuno em 1989, momento que marcou o fim da missão de exploração planetária.

Mas o término dessa missão também marcou o início da fase seguinte das Voyager – a expedição interestelar para investigar as regiões exteriores da heliosfera.

A Voyager 1 foi a primeira a atingir o limite da heliosfera, conhecido como heliopausa, em Agosto de 2012. Quando se encontrava a 150 milhões de quilómetros do Sol (cerca de 120 vezes a distância Terra-Sol), a nave espacial detectou um aumento do número de partículas provenientes de outras estrelas. A Voyager 2 transmitiu os mesmos dados em Novembro de 2018, quando se encontrava sensivelmente à mesma distância.

As Voyagers estão agora a oferecer à humanidade um primeiro olhar in-situ do cosmos para além da nossa vizinhança solar local, embora estejam a sentir as dores da sua provecta idade. De acordo com os padrões modernos, os seus instrumentos são rudimentares e apenas capazes de medições básicas da energia de partículas e da força e direcção do campo magnético.

Para piorar a situação, os geradores nucleares das Voyager estão a ficar sem energia, obrigando a equipa a desligar alguns dos instrumentos para conservar uns poucos watts. A notícia de que a Voyager 1 está a enviar dados desconexos para a Terra vem agravar estas dificuldades.