Um colunista da publicação de extrema-esquerda Medium escreveu um artigo a queixar-se da falta de actores negros numa nova série de televisão sobre guerreiros samurais no Japão do ano 1600.

O programa, produzido pela FX, é um remake da popular série Shōgun, de 1980, que também não tinha actores negros, obviamente, porque a acção evolui no Japão do princípio do século XVII e se ainda hoje é difícil encontrar um negro que não seja turista no Japão, imaginem a quantidade de samurais negros que lá existiam nessa altura.

 

A sinopse da série esclarece:

“Shōgun, da FX, baseado no romance bestseller de James Clavell, passa-se no Japão no ano de 1600, no início de uma guerra civil que define esse século. O Lorde Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada) está a lutar pela sua vida enquanto os seus inimigos no Conselho de Regentes se unem contra ele, quando um misterioso navio europeu é encontrado abandonado numa aldeia piscatória próxima.”

Também há europeus na série, porque nessa altura os europeus viajavam para o Japão. Em barcos. Muitos eram portugueses, por acaso. Mas nenhuns eram negros, que se saiba.

Ainda assim, o genial ensaísta e entusiasta da Teoria Crítica da Raça, William Spivey, não pode aceitar isso:

“As personagens brancas que aparecem nos primeiros episódios, representando Portugal, Espanha, Inglaterra e Holanda, dificilmente poderiam ser consideradas heróicas. No entanto, a personagem John Blackthorne, agora interpretada por Cosmo Jarvis, é já uma figura central e será um herói, juntamente com várias personagens japonesas.”

Oh não! Um herói branco, que horror. E acrescenta:

“Faço agora a pergunta que, ingenuamente, não fazia em 1980. Onde estão os negros?”

Em África, é a resposta curta. Mas Spivey ainda não acabou. Continua a afirmar, baseado em prova documental nenhuma que se conheça, que viviam negros no Japão em 1600 e que alguns deles eram guerreiros samurais.

“Não pergunto por desejo de ver representação quando não é historicamente exacta. Pergunto porque havia negros no Japão em 1600 e antes, embora o Japão pudesse ensinar à Florida uma ou duas coisas sobre reescrever a história”.

Quem pode ensinar alguma coisa sobre reescrever a história, ironicamente, é o próprio Spivey, que prossegue, num delírio ficcional:

“De acordo com várias fontes, um dos primeiros Shoguns da vida real, Sakanoue no Tamuramaro (758-811), era negro, embora outros o neguem. Existe um consenso de que ele era algo mais do que um japonês puro, e é frequentemente considerado descendente dos Ainu, o povo indígena de pele mais escura do norte do Japão que foi sujeito a assimilação e colonização forçadas.”

Quais são essas fontes? Spivey não discrimina.

Acontece que Sakanoue no Tamuramaro, nascido em 758 d.C., era descendente da dinastia imperial chinesa Han, pelo que não podia ser negro.

Acontece que classificar as pessoas da etnia Ainu como negros é um disparate sem nome. Os Ainu, nos textos históricos japoneses conhecidos como Ezo, são um grupo étnico indígena do Japão e da Rússia e não foram sujeitos a colonização nenhuma. Depois de séculos de conflitos tribais que ocorreram com outras etnias russas e japonesas foram assimilados pelas populações dominantes nos respectivos países. Como aconteceu com os celtíberos na Península Ibérica, por exemplo.

Não contente com estas patranhas, Spivey inventou um provérbio “japonês” que, segundo ele, afirma:

“Para um samurai ser corajoso, tem de ter um pouco de sangue NEGRO”.

Este provérbio, se é que existe (provavelmente não), não deve indexar à cor da pele, mas sim à escuridão da alma, já que qualquer referência idiomática da cultura clássica japonesa a pessoas de pele negra é altamente improvável porque… Não viviam negros no Japão. E mesmo o conhecimento popular de que existiam negros no mundo, entre os japoneses, deve ser posterior ao século XVII.

Convém sublinhar que o Japão será talvez a nação com uma tradição de isolamento mais forte da história, e que só por ameaça de intervenção militar de ingleses e americanos, na segunda metade do século XIX, foi convencido a abrir definitivamente as suas fronteiras ao comércio internacional.

O texto de Spivey é apenas mais um exemplo do ridículo e perverso e insano e perigoso esforço da escolástica woke para preencher artificialmente a História com negros, que na verdade só expõe um facto: os nativos da África subsariana não tiveram na verdade grande protagonismo na história universal e, por isso, essa presença notável terá que ser inventada.

Exemplos desta tendência, que o Contra tem documentado com frequência, não faltam: desde “documentários” que caracterizam a grega Cleópatra como negra e Newton como mestiço, a exposições que ilustram generais romanos de epiderme escura como o ébano, ou africanos como construtores do complexo megalítico de Stonehenge, em Inglaterra, a falsificação da história – e da cultura – parece não ter limites.