O universo pode crescer como um cérebro gigante, de acordo com uma nova simulação computorizada. Os resultados, publicados na revista Nature’s Scientific Reports, sugerem que algumas leis fundamentais ainda não descobertas podem reger o crescimento de sistemas grandes e pequenos, desde o disparo elétrico entre as células cerebrais e o crescimento das redes sociais até à expansão das galáxias.

Dmitri Krioukov, coautor do estudo e físico da Universidade da Califórnia em San Diego, comentou:

“A dinâmica natural do crescimento é a mesma para diferentes redes reais, como a Internet, o cérebro ou o cosmos”.

O novo estudo sugere que uma única lei fundamental da natureza pode governar estas redes, disse o físico Kevin Bassler da Universidade de Houston, que não esteve envolvido no estudo.

“À primeira vista, parecem ser sistemas bastante diferentes. A questão é: haverá algum tipo de lei de controlo que os possa descrever? Ao levantar esta questão o trabalho deles dá uma contribuição muito importante”,

 

Redes análogas.

Estudos anteriores mostraram que os circuitos cerebrais e a Internet são muito parecidos. Mas apesar de terem encontrado esta semelhança funcional, ninguém tinha desenvolvido equações para prever perfeitamente como as redes de computadores, os circuitos cerebrais ou as redes sociais crescem ao longo do tempo.

Usando as equações da relatividade de Einstein, que explicam como a matéria deforma o tecido do espaço-tempo, os físicos podem reconstituir o nascimento explosivo do universo no Big Bang, há cerca de 14 mil milhões de anos, e como se expandiu nas eras seguintes.

Por isso, a equipa de Krioukov interrogou-se sobre se o crescimento acelerado do universo poderia dar uma ideia da forma como as redes sociais ou os circuitos cerebrais se expandem.

 

 

Células cerebrais e galáxias.

A equipa criou uma simulação informática que dividiu o universo primitivo nas unidades mais pequenas possíveis – quanta de espaço-tempo mais minúsculos do que as partículas subatómicas. A simulação ligava todos os quanta, ou nós de uma rede celestial massiva, que estivessem relacionados causalmente (nada viaja mais depressa do que a luz, por isso, se uma pessoa acertar numa bola de basebol na Terra, os efeitos desse evento nunca poderiam chegar a um extraterrestre numa galáxia distante num período de tempo razoável, o que significa que essas duas regiões do espaço-tempo não estão causalmente relacionadas).

À medida que a simulação progredia, acrescentava cada vez mais espaço-tempo à história do Universo e, assim, a sua “rede” de ligações entre a matéria das galáxias também crescia.

Quando a equipa comparou a história do Universo com o crescimento das redes sociais e dos circuitos cerebrais, verificou que todas as redes se expandiram de forma semelhante: Equilibraram as ligações entre nós semelhantes com outros que já tinham muitas ligações. Por exemplo, um entusiasta de gatos que navegue na Internet pode visitar mega-sites como o Google ou o Yahoo, mas também navegará em sites de fãs de gatos ou em vídeos de gatinhos no YouTube. Da mesma forma, as células cerebrais vizinhas gostam de se ligar, mas os neurónios também se ligam às tais “células cerebrais Google” que estão ligadas a muitas outras células cerebrais.

A estranha semelhança entre as redes grandes e pequenas não deve ser uma coincidência, na opinião de Krioukov, que acrescentou:

“Para um físico, é um sinal imediato de que falta alguma compreensão de como a natureza funciona”.

É mais provável que alguma lei desconhecida governe a forma como as redes crescem e mudam, desde as mais pequenas células cerebrais até ao crescimento de mega-galáxias, de acordo com o físico:

“Este resultado sugere que talvez devêssemos começar a procurá-la”.

Entretanto o James Webb capturou recentemente as primeiras imagens de raio-X da rede cósmica, composta por filamentos de condução de matéria e gases que unem as galáxias separadas por imensas áreas de vácuo, e que só confirmam as semelhanças estruturais entre o universo e o cérebro humano. Antón Petrov comenta as imagens e o seu significado científico.