Uma importante revista científica caiu no ridículo depois de publicar um artigo completamente falso, supostamente escrito por investigadores chineses, que continha imagens geradas por tecnologias de inteligência artificial (IA) de um rato com um pénis maior que o seu próprio corpo.

O Telegraph relata que a revista Frontiers in Cell and Development Biology publicou um artigo que afirmava mostrar a via de sinalização das células-tronco do esperma, num rato sentado com um falo erecto e enorme e quatro testículos gigantes.

A ilustração foi supostamente criada usando o Midjourney, a ferramenta de geração de imagens de IA, que adicionou rótulos ao diagrama ridículo usando termos que não existem, incluindo “dissilced”, “testtomcels” e “senctolic”.

Outra imagem ridícula à direita do rato mostra “células estelares” numa placa de Petri, a serem retiradas com uma colher.

 

 

As imagens subsequentes no artigo também exibem termos e sistemas biológicos que simplesmente não são reais.

 

 

 

Incrivelmente, o artigo foi publicado na revista, onde foi lido por cientistas que imediatamente reconheceram que as imagens e as descrições não eram baseadas em “nenhuma biologia conhecida”.

A revista retratou o artigo, pediu desculpas e anunciou que está a trabalhar para “corrigir o registo”.

Adrian Liston, professor de patologia na Universidade de Cambridge e editor da revista Immunology & Cell Biology alertou sobre os perigos da IA ser usada para criar diagramas científicos, observando:

“A IA generativa é muito boa a fazer coisas que parecem vir de um ser humano, mas não verifica se essas coisas estão correctas. É como um actor interpretando um médico num programa de TV – eles parecem médicos, falam como médicos e até usam palavras que um médico usaria. Mas ninguém gostaria de receber aconselhamento médico de um actor. O problema está a ficar cada vez mais difícil para os jornais científicos, porque a IA generativa torna mais fácil a actividade dos trapaceiros. Muitas pessoas ligadas à publicação científica estão genuinamente preocupadas com a possibilidade de chegarmos a um ponto crítico em que não seremos capazes de dizer se um artigo é genuíno ou uma fraude”.

É verdade que as tecnologias de inteligência artificial podem dificultar o trabalho da edição de informação científica. Mas caramba, qualquer pessoa com um neurónio a funcionar e um mínimo de formação em biologia percebe que o trabalho dos “investigadores chineses” é uma paródia flagrante. Este episódio só contribui para o descalabro da fidedignidade das publicações de carácter científico e a falência do sistema de revisão por pares que o ContraCultura tem documentado com frequência.

Os papers com resultados falsos aumentaram mais de 13.000% nas últimas duas décadas e enquanto a produção de literatura académica atinge números estonteantes, a sua fiabilidade é cada vez menor.

A maioria dos documentos de pesquisa científica que são publicados apresentam falsos resultados. Num famoso ensaio que até já data de 2005, John P. A. Loannidis demonstrou estatisticamente que a afirmação é verdadeira. Sendo que a margem de erro aceite pela comunidade científica ronda os 20%, a verdade é que a percentagem de negativos e falsos positivos ultrapassa largamente esse limite e pode até atingir valores inversos (80% de papers que apresentam conclusões erradas, 20% que apresentam conclusões certas), dadas as condições entrópicas ideais, como a presença de preconceitos, a multiplicação de variáveis em análise, um número acima da média de teses erradas antes da publicação, fontes já de si corrompidas pelos erros anteriores e etc.

Patrick T. Brown admitiu recentemente ter seguido uma narrativa “pré-aprovada” sobre alterações climáticas para conseguir a publicação de artigos, afirmando que foi obrigado a manipular os resultados do seu trabalho para poder publicar nas mais prestigiadas revistas de ciência, que aceitam apenas papers que cumpram com a narrativa do apocalipse climático.

O Contra publicou também, em Dezembro de 2022, um artigo sobre a falsificação mediática da ciência cuja leitura se recomenda a quem tenha interesse pelo fenómeno.