De acordo com um relatório da comissão de defesa da Câmara dos Comuns, as forças armadas britânicas são apenas capazes de manter todas as suas capacidades durante dois meses, em caso de conflito com um adversário de poderio semelhante.

Tanto os actuais como os antigos líderes militares britânicos descreveram um “esvaziamento” das Forças Armadas que se prolongou por uma década e que conduziu a deficiências gerais na capacidade de resistência à guerra. As lacunas críticas a nível de infra-estruturas assinaladas pelo Ministério da Defesa incluem a inadequação do armazenamento e das infra-estruturas de munições, a capacidade médica operacional e o apoio ao equipamento dos veículos blindados.

O Ministro das Forças Armadas, James Heappey, salientou que, embora os cortes na defesa tenham sido considerados necessários aquando da sua implementação, é agora urgente reinvestir em áreas sujeitas a desinvestimento. Heappey afirmou ainda que é necessário um trabalho substancial para recuperar a prontidão em tempo de guerra registada pela última vez durante a era da Guerra Fria.

O relatório indica que a prontidão das forças armadas britânicas foi afectada negativamente pela doação de armamento à Ucrânia, tendo um regimento de artilharia ficado sem armas depois de ter ajudado no esforço de guerra ucraniano contra a Rússia. Outra preocupação é o estrangulamento nas aquisições e entregas para o reabastecimento dos sistemas anti-tanque NLAW e das munições de artilharia de 155 mm que o Reino Unido forneceu à Ucrânia.

De acordo com o Ministério da Defesa, o exército britânico tem apenas cerca de 75.000 soldados, cerca de metade do que tinha há três décadas. Esta situação levou a que se falasse na utilização de um “exército civil” durante na eventualidade de um conflito militar de larga escala. As consequências desta redução de efectivos são já visíveis, com a desactivação iminente de duas fragatas navais, alegadamente devido à falta de pessoal.

Como o Contra já documentou, a Marinha Real foi recentemente incapaz de destacar qualquer um dos seus porta-aviões para ajudar a operação anglo-americana contra os Houthis no Iémen devido a uma crise de pessoal. Isto enquanto oficiais são desviados das suas funções-chave para tarefas relacionadas com a “diversidade e a inclusão”.

Comentando este cenário, o presidente da comissão parlamentar Jeremy Quin, concluiu que a preparação das forças armadas para uma guerra prolongada exige atenção redobrada e uma sustentada concentração de esforços, embora não tenha ficado claro onde é que o governo em particular e a sociedade britânica em geral poderão encontrar recursos materiais, humanos e anímicos para voltarem a ser algo que se pareça com uma potência militar.

Ainda bem para os ingleses que, ao contrário da visão ficcional do Chefe do Estado Maior do Exército britânico, Patrick Sanders (e de muitos outros líderes europeus), a Rússia não está de todo interessada em desencadear uma guerra na Europa. Nem é aliás por acaso que o general falou na necessidade de mobilizar um “exército de cidadãos”, já que o exército de soldados que lidera seria por certo esmagado pela competente e resiliente máquina de guerra da segunda maior potência militar no mundo.