Elon Musk anunciou que a sua empresa de implantes de michochips cerebrais, a Neuralink, colocou um chip pela primeira vez no cérebro de um ser humano.
Musk revelou a informação em 3 posts no X:
“O primeiro humano recebeu ontem um implante da Neuralink e está a recuperar bem. Os resultados iniciais mostram uma detecção promissora de picos de neurónios”.
“O primeiro produto Neuralink chama-se Telepathy.”
“Permite controlar o telemóvel ou o computador e, através deles, quase todos os dispositivos, apenas com o pensamento.
Os primeiros utilizadores serão aqueles que perderam o uso dos seus membros.
Imagine-se que Stephen Hawking conseguia comunicar mais depressa do que um dactilógrafo ou um leiloeiro. É esse o objectivo.”
The first human received an implant from @Neuralink yesterday and is recovering well.
Initial results show promising neuron spike detection.
— Elon Musk (@elonmusk) January 29, 2024
Enables control of your phone or computer, and through them almost any device, just by thinking.
Initial users will be those who have lost the use of their limbs.
Imagine if Stephen Hawking could communicate faster than a speed typist or auctioneer. That is the goal.
— Elon Musk (@elonmusk) January 30, 2024
Durante meses, a empresa procurou um candidato para se submeter à sua cirurgia experimental, cujo objectivo é instalar um microchip minúsculo na camada superior do crânio da pessoa. Uma vez instalado, o chip deverá alegadamente proporcionar uma série de benefícios para a saúde e para a ciência, incluindo a capacidade de medir a actividade cerebral e de dar novas capacidades a pessoas com deficiências físicas ou mentais.
A empresa afirmou que esta primeira operação foi concebida como parte de um ensaio para testar a segurança e a eficácia do implante, bem como o procedimento médico necessário para a sua instalação. A partir dos tweets de Musk, é de supor que a Neuralink não só encontrou um candidato adequado, como também implantou com sucesso o seu chip cerebral.
Para integrar o chip da Neuralink, um cirurgião humano é encarregado de abrir um pequeno orifício no crânio do paciente, após o que um robô de 2 metros de altura chamado “R1” é responsável por realizar o procedimento “ultra delicado” de suturar os fios electrificados do implante directamente no cérebro da pessoa. Se a cirurgia for bem sucedida, o hardware da empresa é projectado para ficar na parte do crânio do paciente que foi removida, logo abaixo do couro cabeludo, enquanto os seus minúsculos fios transportam dados entre o cérebro e os servidores da empresa.
A identidade do paciente que foi submetido à cirurgia é desconhecida. A Neuralink afirmou que, inicialmente, pretende concentrar-se em fornecer soluções para indivíduos com doenças mentais e físicas e que tenciona efectuar procedimentos iniciais em tetraplégicos. Alguns especialistas afirmam que a tecnologia pode ser benéfica para as pessoas com deficiência. Eventualmente, a empresa quer passar a criar novas formas de “melhorias” cibernéticas para pessoas comuns – o que Musk chamou de “hacking cerebral”.
Desde que foi fundada em 2016, a empresa tem a missão de usar implantes neuronais e ciência experimental para inaugurar uma nova era de interface entre o computador e o cérebro. Durante anos, a Neuralink testou os seus implantes em animais. Embora muitas dessas cobaias – macacos, porcos e ovelhas – ainda estejam vivas, há algumas (ou talvez mais do que “algumas”) que acabaram por ser eutanasiadas. Alguns animais, alegadamente, morreram de forma horrível – o que levou a acusações de abuso animal “grotesco” e a um processo judicial por parte de um grupo de médicos. Agora, no entanto, a empresa afirma que as suas operações são seguras, tendo recebido a aprovação da FDA (U.S. Food and Drugs Administration) para ensaios clínicos em humanos em Maio passado.
É de qualquer forma suprpreendente que Elon Musk, em certos aspectos uma pessoa consideravelmente lúcida e um homem – disso ninguém tem dúvidas – deveras inteligente, não equacione as implicações tenebrosas desta tecnologia de inspiração transhumanista. O Contra não discute que a Neuralink, caso consiga levar os primeiros estágios da sua actividade a bom termo, poderá de facto ajudar muitas pessoas incapacitadas. Mas também tem a certeza de que esta tecnologia será inevitavelmente usada para fins obscuros e inimagináveis, por actores sinistros.
E mesmo que assim não fosse: será que Elon Musk tem consciência que está a tentar criar uma nova espécie de ser humano, um híbrido digital, cujo comportamento moral, por exemplo, ninguém pode realmente projectar?
Será que já equacionou as desigualdades que vai criar entre seres humanos “melhorados” e não “melhorados”?
Será que lhe passou pela cabeça que pode estar a criar uma situação como aquela que, há coisa de cinquenta mil anos atrás, ocorreu entre o Sapiens e o Neandertal, para extinção deste último?
Musk e a sua Neuralink estão a brincar com o fogo de Prometeu. Estão a querer cumprir o papel de Deus, mas não passam de aprendizes de feiticeiro. Muito para além da óbvia analogia frankensteiniana, o fruto do seu labor pode alterar radicalmente a natureza humana. Para melhor ou para pior?
Se acreditarmos que somos fruto da invenção divina, dificilmente será para melhor, porque Musk e os seus engenheiros são humanos e logo, carecem da omnisciência necessária à sublime criação de Deus.
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