Quando todos os políticos, todos os chefes de estado, todos os monarcas, todos os generais, todos os “cientistas”, todos os “peritos”, todos os “jornalistas”, todos os gestores das grandes corporações, todas as estrelas da televisão e do cinema, todos os palhaços do Grande Circo do Ocidente pensam igual, dizem igual e fazem igual; vivemos ainda assim em democracia?
Quando todos os líderes eleitos ou não eleitos, todos os burocratas, todos os tecnocratas, todos os bilionários, todos os cromos da bola, todos os intelectuais defendem os mesmos pontos de vista, protegem os mesmos valores, lutam pelos mesmos ideais, impingem as mesmas narrativas, vendem as mesmas profecias; vivemos ainda assim num regime liberal?
Quando todos os governos, todos os conselhos de administração, todas as associações não governamentais, todos os grupos de interesse, todos os grémios, todas as academias, todos os sindicatos, todos os clubes de futebol, todos os clubes de cavalheiros, todos os clubes de combate, todas as ordens de todos os ofícios clamam pelas mesmas causas; vivemos ainda assim numa sociedade plural?
Quando todos os padres rezam a deus nenhum, quando todos os professores ensinam a ignorância, quando todos os “artistas” produzem anti-arte, quando todos os ambientalistas sonham com a erradicação da raça humana, quando todos os comunistas se esquecem da classe operária, quando todos os romancistas escrevem romances de cordel, quando todos os poetas escrevem prosa, quando todos os estetas recusam o belo e todos os benfeitores rejeitam o bem; quando todos os guionistas preferem a propaganda, quando todos os revolucionários de ontem passaram a fascistas de agora; vivemos ainda assim em liberdade?
Quando não temos em quem votar, nem em quem confiar; quando não temos quem nos informe sem ideologia, quem nos entretenha sem doutrina, quem nos espante sem aldrabices, quem nos conduza sem ameaças, quem nos inspire sem apocalipses, quem nos ensine sem nos humilhar; quando não encontramos mestres que nos guiem para longe do inferno nem profetas que nos salvem das trevas que se escondem num cosmos que não conseguimos compreender; somos ainda assim Sapiens?
Que exagero. Nem todos os políticos, nem todos os cientistas, nem todos os jornalistas, nem todos os professores, nem todos os padres, nem todos os palhaços do Grande Circo do Ocidente cumprem o mesmo número.
Pois não?
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