O meu rabi caminha sobre a água.
E com as sandálias do pescador, levantou catedrais.
O meu mestre tem o dom da palavra.
Com o verbo criou o universo, com o diálogo recrutou os discípulos
e com o sermão ensinou as multidões.
O meu imã não deixa acabar o vinho
e enquanto mudava o mundo, não faltou a casamentos e baptizados.
O meu messias preferia a companhia dos destituídos, dos condenados, dos desgraçados,
dos esquecidos, dos esfomeados, dos enfermos, dos possessos.
Com eles era loquaz e gentil.
E quando se viu obrigado, pela força dos poderes instituídos ou pelo dever da sua missão,
ao convívio com sacerdotes, burocratas, governadores, monarcas, magnatas e outros elitistas,
foi reservado ou temperamental.
O meu buda é o cirurgião do amor.
Com um carinho, devolveu a vista aos cegos. Com um abraço, curou paralíticos.
Aos inimigos, ofereceu a benevolência.
Aos agressores, deu a face.
Aos infiéis, prometeu a salvação.
Dos traidores, recebeu beijos.
O meu profeta tem mais poder que os magnatas de Wall Street.
Porque renunciou ao ouro de César.
Porque foi o pior pesadelo dos vendilhões do Templo.
Porque reconheceu e denunciou a ganância dos fariseus.
O meu general é um pacifista.
Fez uma revolução sem baixas, fundou um credo sem guerras;
foi um soldado imaterial: não precisou de armaduras, não fez uso de catapultas
e nada sabia de armas de fogo.
O meu guru transforma cobradores de impostos em evangelistas, prostitutas em santas,
centuriões em homens de paz, cépticos em crentes e, na estrada de Damasco,
fez de Saulo, o cacique de Tarso, Paulo, o apóstolo peregrino.
O meu reverendo multiplica pães e peixes para aplacar a fome de quem o segue,
e bebe a água da samaritana para saciar nos homens de boa vontade,
a sede que têm de concórdia.
O meu dalai lama deu o corpo ao manifesto.
Subiu, voluntário, ao pior suplício do império romano para redenção dos nossos erros.
O meu líder não faz política, porque só sabe dizer a verdade.
O meu sumo pontífice nunca distinguiu ninguém por raça, etnia, sexo, idade.
Não perseguiu a dissidência, não conheceu o luxo.
E ainda que submetido ao escárnio de Herodes, à iniquidade de Caifás e ao xicote de Pilatos,
não traiu o seu ministério, nem renegou o seu pai.
O meu herói é um romântico, que se perdeu de paixão pela humanidade.
O meu rei nasceu num estábulo.
E da gruta onde foi sepultado ressuscitou para a glória dos céus e a fé dos homens.
É eterno no meu coração perecível.
Relacionados
3 Dez 24
Haikus da Revolução
A Arte do Haiku: A Lego tem vergonha da sua esquadra de polícia, Lenine arrepende-se de Estaline e Jeff Bezos toca a sua lira enquanto vilões destroem a memória dos heróis. Mas a revolução não estraga um bom dia de praia.
2 Dez 24
Arcebispo ligado ao WEF demite-se devido a alegações de abuso sexual de crianças.
Justin Welby, Arcebispo de Cantuária, líder da Igreja de Inglaterra e colaborador recorrente do World Economic Forum, demitiu-se após alegações de que encobriu casos de abuso sexual de crianças durante mais de uma década.
29 Nov 24
A Casa de Deus
Quis ser trovão, mas outro deus se ergueu. Primeiro de uma série de poemas da autoria de Alburneo.
27 Nov 24
Relatório contundente destaca a crescente intolerância e violência contra os cristãos na Europa.
Os crimes de ódio e a discriminação contra os cristãos estão a aumentar em toda a Europa, com um novo relatório a documentar mais de 2400 incidentes em 2023, pondo em evidência a crescente intolerância e as restrições à liberdade religiosa.
13 Nov 24
Haikus da Quarentena
A Arte do Haiku: O carnaval das máscaras cirúrgicas, a distância social das moscas, a segurança da campa, o silêncio dos cobardes e a realidade como produção de Hollywwod. Memória descritiva do confinamento.