O mais bem sucedido e efectivo movimento populista desde que Trump foi eleito e os ingleses votaram Brexit foi o boicote dos conservadores americanos à cerveja Bud Light. Toda a história já foi documentada pelo ContraCultura e pode ser revisitada aqui, mas muito sucintamente: na Primavera deste ano, a marca de cerveja favorita da América profunda aderiu à religião woke, e decidiu insultar os seus clientes com uma campanha interpretada por um transexual. Perante o coro de críticas, a rapariga que era responsável pelo marketing da cerveja na altura fez pior ainda, manifestando publicamente um desdém pelos valores partilhados pelo seu mercado que deixou toda a gente convicta de que não havia solução se não rejeitar a marca. O boicote impactou a empresa mãe – a Anheuser-Busch – com biliões de dólares de prejuízo e a perspectiva da falência.
Seis meses depois, muitas da figuras públicas do conservadorismo populista e do pensamento dissidente nos Estados Unidos estão a fazer tudo o que lhes é possível para que a Bud Light deixe de ser uma marca cancelada.
Mas a Anheuser-Busch nunca pediu desculpa pelo seu comportamento obsceno. A Anheuser-Busch nunca voltou atrás com o seu comprometimento woke. A Anheuser-Busch nunca disse aos americanos que afinal não pensava que eles eram todos uma cambada de neandertais racistas, homofóbicos e misóginos e que, não estando à altura dos valores da elite globalista, deviam beber o próprio mijo. Não. O que a Anheuser-Busch acabou por fazer, por uma questão de sobrevivência, porque estava muito perto da ruína e as suas acções chegaram a um ponto que não valiam a urina dos seus revoltados clientes, foi mudar de estratégia de marketing, despejando milhões em patrocínios de ligas do desporto profissional norte-americano que são queridas dos conservadores, como a UFC e a Nascar.
A campanha tem tido resultados espectaculares e até Tucker Carlson está a dar voz àqueles conservadores icónicos como Kid Rock e Dana White que estão a ser pagos para defender a Bud-Light com argumentos que são tão risíveis como falaciosos, apresentando a marca como um símbolo patriótico, sendo que a Anheuser-Busch é detida por uma holding belga, a Anheuser-Busch InBev SA/NV.
Ex-liberais dissidentes como Tim Pool, que também devem estar a receber uns dinheiros por fora, argumentam que o boicote foi merecido e bem sucedido e que é por isso tempo de declarar vitória e passar à frente, que é como quem diz, voltar a consumir a cerveja.
É claro que o dinheiro fala com as cordas vocais desta gente e que isso até é normal e expectável, dada a condição humana. Mas o argumento de Tim Pool, sendo o único digno de ser discutido, é também falacioso. Primeiro porque a esquerda woke, quando cancela pessoas e empresas não chega a um ponto em que diz: já ganhámos, vamos parar. Pelo contrário, quem é cancelado é cancelado ad aeternum. Depois porque as vitórias dos conservadores na guerra cultural são tão escassas, que encurtar o seu o prazo, esquecer os seus motivos e vitimizar e redimir os derrotados é um pobre plano de combate. Tanto mais que um recuo nos avanços realizados desmoraliza e desmobiliza as tropas.
Acresce que, como muito bem sublinha Matt Walsh no clip em baixo, esta posição permitirá à Anheuser-Busch sobreviver, o que será um ganho para a propaganda dos poderes instituídos e do aparelho corporativo, tanto como um motor anímico para a ideologia de género, sendo que a ideologia de género tem vítimas. Indivíduos e sociedades, crianças e famílias são vítimas deste movimento destruidor da identidade cultural e da saúde física e psicológica das pessoas.
E por último: que motivação ética pode existir em tentar salvar uma corporação globalista, mafiosa como todas as corporações globalistas deste século? Estamos cheios de pena dos accionistas da maior indústria cervejeira do mundo?
Por amor de Deus.
O abandono do boicote à Bud Light é uma desistência vergonhosa que não tem razão de ser. É transformar uma vitória populista num triunfo das grandes corporações, das elites, dos senhores do universo de Wall Street, dos interesses instalados em Washington, Bruxelas e Davos. É continuar a permitir a que doutrina satânica, transhumana e destruidora de todos os valores morais da civilização ocidental e da tradição cristã continue a infectar a mente e o corpo dos nossos filhos.
É abdicar da decência e do respeito que devemos a nós próprios. É assumir que estamos conformados com a condição de gado bovino. E que como gado bovino devemos ser tratados pelas oligarquias.
É por estas e por outras que estamos a perder.
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