Um número surpreendente de 46% dos recém-nascidos paquistaneses na cidade inglesa (ou muçulmana) de Bradford são o produto directo de casamentos entre primos, o que representa uma queda em relação aos 60% registados na última década, segundo a BBC, que tentou desesperadamente, no artigo, contextualizar e normalizar a consanguinidade entre comunidades minoritárias.

A BBC baseou-se num estudo recente intitulado “Born in Bradford”, que recrutou 2.317 mulheres grávidas de “bairros centrais da cidade”, sem ter em conta a sua etnia, entre 2007 e 2010, e depois outras 2.378 mães entre 2016 e 2019. Os investigadores descobriram que 62% das mulheres paquistanesas envolvidas no estudo casaram com um primo em primeiro ou segundo grau no primeiro segmento temporal 2007 e 2010 e 46% na segmento 2016 e 2019.

O artigo faz até a apologia do casamento consanguíneo, entrevistando várias mulheres que não aprovam a diminuição desse tipo de matrimónios, incluindo uma mulher chamada Aysha, que casou com o seu primo do Paquistão, e pensa que “o casamento entre primos é uma tradição valiosa” e “lamenta que pareça estar em declínio”.

“Acho que os meus filhos não vão casar com primos. Vão perder a ligação com o Paquistão e sinto-me triste por isso”.

A BBC tentou justificar a tendência, referindo-se ao facto de Charles Darwin ter casado com a sua prima em primeiro grau. Um episódio que se passou há quase 200 anos, em 1839 (o progressismo da BBC é cobrado com retroactivos, pelos vistos). No entanto, mesmo no início do século XIX, o casamento entre primos não representava mais do que 4,5% dos casamentos aristocráticos e 2,5% entre as classes mais baixas do Reino Unido – muito abaixo da taxa actual na comunidade paquistanesa.

Muito a custo, o artigo consegue abordar os casamentos forçados na comunidade paquistanesa, citando uma professora de 52 anos, que disse:

“Os meus pais levaram-me para o Paquistão e o meu pai disse que ia casar com esta pessoa. E eu sabia quem ele era, mas a primeira vez que o vi como deve ser foi no casamento”.

Também neste caso, a linha editorial do texto obriga a comparações com o Ocidente de há séculos atrás.

A máquina de propaganda que os contribuintes britânicos são obrigados a pagar teve o escrúpulo de retirar uma citação de um adolescente do sexo masculino que explicava no artigo original:

“Se estivermos mesmo apaixonados pelo nosso primo em primeiro grau, podemos ir em frente, mas agora já não há tanta pressão para o casamento entre primos”.

Apesar de ter sido removida, a citação foi captada pelas versões arquivadas do site. A referência à pressão social que leva aos casamentos consanguíneos deve ter sido excessiva, para as delicadas mentes da redacção.

E para que fique este texto bem entendido: o ContraCultura não tem nada contra a circunstância de culturas diferentes encararem o casamento como acham melhor. E toda a gente sabe que no Paquistão o casamento intrafamiliar, ou imposto pelos chefes de família ou líderes tribais, é absolutamente normal. O que choca aqui não é o facto estatístico. É a abordagem “jornalística” ao facto estatístico, corrompida pela intenção doutrinária que procura escamotear e normalizar um fenómeno que não é normal na cultura britânica.