No Capitólio, há quem comece a pensar que a melhor maneira de ajustar contas é a mais antiga: a pancadaria. No mesmo dia desta semana, dois congressistas republicanos deram disso mesmo eloquente exemplo, evocando velhos tempos do debate político nos Estados Unidos, em que valia tudo menos tirar olhos.

 

O congressista ressentido.

O ex-speaker da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, terá agredido um dos colegas republicanos que, no mês passado, votaram a favor da sua destituição, o que levou o líder da revolta interna a apresentar uma queixa ética.

O incidente terá ocorrido na terça-feira, enquanto o deputado Tim Burchett falava com a repórter da NPR Claudia Grisales, num corredor do Capitólio dos EUA, após uma reunião à porta fechada dos deputados do Partido Republicano. Burchett, um republicano do Tennessee, disse que McCarthy lhe deu uma cotovelada nas costas enquanto passava atrás dele. Grisales disse que viu McCarthy empurrar Burchett por trás, o que fez com que o congressista fosse projectado na direcção da repórter.

Num clip áudio do incidente, pode ouvir-se Burchett a reagir à alegada cotovelada. A certa altura, seguiu McCarthy pelo corredor e perguntou ao ex-porta-voz por que razão lhe tinha batido nas costas. McCarthy negou ter-lhe dado uma cotovelada, altura em que Burchett disse:

“Não tens coragem. O repórter testemunhou ali mesmo. Que tipo de atitude cobarde é essa? És patético, pá”.

Mais tarde, Burchett disse aos repórteres que McCarthy foi protegido pelos seus guarda-costas após o doloroso golpe, que definiu como um “tiro certeiro nos rins”. Burchett disse acreditar que o incidente foi uma retaliação pela sua decisão de votar com outros sete republicanos para destituir McCarthy do cargo speaker da Caâmnra – a primeira destituição deste tipo na história dos EUA.

“Um miúdo atira uma pedra por cima da vedação e depois esconde-se nas saias da mãe. Ele tem a sua equipa de segurança por perto. Ele sabe que ninguém lhe vai fazer nada.”

 

Kevin McCarthy fala pelos cotovelos

 

McCarthy, negou ter agredido o seu colega, dizendo à CNN que o corredor por onde passou atrás de Burchett era apertado e estava apinhado de repórteres.

O deputado Matt Gaetz, republicano da Flórida que liderou a campanha para substituir McCarthy como speaker, apresentou uma queixa ética na sequência da alegada agressão, onde podemos ler:

“Este Congresso registou um aumento substancial de violações do decoro, diferente de tudo o que vimos desde a era anterior à Guerra Civil. Eu próprio também já fui vítima de uma conduta ultrajante na Câmara, mas nada como uma agressão aberta e pública a um membro, cometida por outro membro. A podridão começa no topo”.

 

 

O senador gladiador.

O alegado incidente ocorreu no mesmo dia em que um senador norte-americano quase se desentendeu com uma testemunha de uma comissão de inquérito. O republicano de Oklahoma, Markwayne Mullin, confrontou o presidente do sindicato dos camionistas, Sean O’Brien, por causa de uma publicação nas redes sociais em que o sindicalista acusava o senador de se armar em “durão” e o desafiava para uma luta “em qualquer lugar, a qualquer hora”, incluindo no post uma foto em que o senador, num debate público, usava uma plataforma para parecer mais alto.

 

 

A meio da audiência, Mullin leu o tweet de O’Brien e lançou o desafio:

“Senhor, este é o momento, este é o lugar, para cumprir o que disse. Somos dois adultos que consentem; podemos acabar isto aqui.”

E O’Brien, claro, anuiu:

“Está bem, isso é ótimo. Perfeito. Gostava de fazê-lo agora mesmo”.

Quando Mullin se levantou e começou a dirigir-se a O’Brien, o Senador Bernie Sanders, o independente de Vermont que preside à comissão, interveio para evitar uma rixa.

“Sente-se. Sente-se. O senhor é um senador dos Estados Unidos. (…) Isto é uma audiência. E Deus sabe que o povo americano já tem desprezo suficiente pelo Congresso. Não vamos piorar a situação”.

 

Markwayne Mullin argumenta com os punhos

 

Mullin, um empresário que tomou posse como senador no início deste ano, lutou e venceu três lutas da MMA (Mixed Martial Arts) em 2006 e 2007. Esses combates, todos juntos, não duraram mais que dez minutos.

Se calhar, o sindicalista é capaz de não ter tido conhecimento prévio deste detalhe.