O Presidente Joe Biden e o Secretário de Estado Anthony Blinken . Casa Branca . Youtube

 

Muitos dos artigos em torno das atrocidades dos ataques do Hamas no fim de semana passado referiram o recente “acordo” de 6 biliões de dólares que os EUA entregaram ao Irão em troca de cinco cidadãos americanos. Já isso parecia ser o pior negócio da história.

Mas a rábula no seu integral formato é mais nefasta ainda. Na realidade, este facto faz parte de uma teia maior, recheada de pormenores ocultos.

Num artigo recente publicado no New York Post, o conselheiro sénior da Fundação para a Defesa das Democracias e antigo funcionário do Conselho de Segurança Nacional, Richard Goldberg, traça o rasto do dinheiro. E confirma as suspeitas de que a coisa é muito pior do que pensamos.

Goldberg apresenta os números. Os 6 biliões de dólares que vimos nas manchetes são apenas o dinheiro que está a ser transferido através do Qatar. Mas há mais 10 biliões de dólares de activos que estão a ser transferidos do Iraque em tranches, cujo fluxo Goldberg diz que se vai processar “numa base contínua”. Depois, há os relatos de que o Irão será autorizado a aceder a 7 biliões de dólares em moeda fiduciária através da negociação de direitos de saque com o Fundo Monetário Internacional. O Japão deverá transferir também 3 biliões de dólares para o Irão.

“O dinheiro é fungível”, ou seja, passível de ser substituído por outra coisa de mesma espécie, e mesmo os fundos que ainda não foram descongelados estão provavelmente a ser tratados como crédito na contabilidade iraniana.

As revelações não ficam por aqui. Os responsáveis norte-americanos também reconheceram discretamente que tinham desbloqueado as exportações de petróleo iraniano para a China. Estes níveis de exportação, anteriormente mantidos em cerca de 775.000 barris por dia sob as sanções de Trump, estão agora estimados entre 1,4 e 2,2 milhões de barris por dia. As estimativas mais modestas avaliam este comércio em 25 biliões de dólares por ano.

O total? 50 biliões de dólares.

É o mesmo que dar a um gangster uma metralhadora carregada e esperar que ele seja parcimonioso com as balas.

Há menos de uma década, o porta-voz das Brigadas Izzuddin Al-Qassam agradeceu publicamente ao Irão por fornecer “armas, dinheiro e outro equipamento” utilizado nos ataques. Embora o Hamas não tenha agradecido publicamente ao Irão pela contribuição prestada ao ataque surpresa contra Israel no passado fim de semana, é evidente que o Teerão ajudou a planear o ataque. É até pouco provável que tenham ficado por aqui. Mas é claro que a administração Biden está hesitante em confirmar este facto. E mesmo os republicanos, que acusaram a Casa Branca de financiar os ataques a Israel, gostariam de evitar qualquer prova que confirme as mais que sólidas suspeitas.

Mas esta é apenas a primeira camada de vilania e embuste das políticas da administração Biden.

 

Altos funcionários dos EUA apoiam directamente os interesses do Irão.

A estratégia nuclear do Irão foi, durante décadas, a de iniciar os seus programas pseudo-apocalípticos como forma de obter posteriormente, como contrapartida da destruição desses programas, ajudas financeiras internacionais e benefícios comerciais. Tudo com a descarada conivência da Agência Internacional de Energia Atómica.

Mas na última década, sensivelmente, as coisas ficaram mais sérias. Sabemos que o Irão já expulsou os inspectores nucleares internacionais e está a caminho de construir uma instalação no subsolo que se acredita ser tão profunda que seria impenetrável a qualquer ataque aéreo. A pressão internacional é de tal forma fraca, que o Irão nem sequer teve de parar a sua produção de urânio altamente enriquecido. Estão apenas a produzi-lo a um ritmo mais lento. Mas a administração Biden optou por retomar a decisão da era Obama de soltar a rédea ao regime dos aiatolás, com base em promessas vãs que valem o que valem, ou seja, nada.

Mais recentemente, ficámos a saber que altos funcionários do governo americano estavam a influenciar o governo dos EUA a favor da energia nuclear iraniana. Uma série de mensagens de correio electrónico recentemente divulgadas centram-se em Ariane Tabatabai, chefe de gabinete do Secretário da Defesa para as operações especiais. As mensagens mostram o seu envolvimento com a Iran Experts Initiative (IEI), uma iniciativa directa do governo iraniano para, alegadamente, “melhorar a imagem do país no exterior”.

Aparentemente, o mandato de melhorar a “imagem” do país incluía influenciar o governo dos EUA para dar a Teerão mais flexibilidade na expansão do enriquecimento de urânio. Isto é muito diferente das trocas de cortesia diplomática que se poderia esperar. Mas esclarece a suspensão silenciosa do principal negociador da administração Biden para o Irão, Robert Malley, que até agora não tinha sido explicada.

O Irão nunca escondeu as suas motivações. Mesmo no passado, os legisladores iranianos cantavam orgulhosamente “Morte à América” e publicavam-no na imprensa. Nunca esconderam exactamente quem são e o que pensam, mas ainda assim, os EUA colaboram.

Entretanto, o Irão lançou recentemente mais uma satélite, que se presume fazer parte do seu programa de mísseis balísticos preparados para carregarem ogivas nucleares. Isto vai contra as resoluções do Conselho de Segurança da ONU que expiraram a 18 de Outubro, sem que se saiba exactamente que novo programa de restrições será levantado contra o programa nuclear iraniano, se é que algum será estipulado, considerando as actuais tensões no Médio Oriente.

 

O governo Biden troca a independência energética por instabilidade geo-política.

Tudo isto se torna ainda mais flagrante quando analisado no contexto das políticas externa e interna do regime Biden.

A Casa Branca está determinada a estrangular a produção de petróleo na América enquanto permite que o Irão exporte mais petróleo, tudo sob a fachada das “energias verdes”. A administração deu carta branca para aumentar a produção de petróleo no país que é uma das maiores ameaças à paz e à segurança globais. Entretanto, Biden paralisou a produção petrolífera americana com o menor número de concessões de petróleo e gás offshore da história. Isto depois de ter cancelado todos as concessões de novas explorações no Alasca. Mas como estas concessões são referentes ao período de 2024 a 2029, Biden conseguiu, muito convenientemente, evitar que os americanos sintam o impacto desta decisão nas estações de serviço antes das eleições presidenciais.

Empobrecer os americanos está longe de ser a consequência mais terrível desta política. Biden esvaziou as Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR) para mínimos de várias décadas. Apesar de ter afirmado que iria reabastecer as reservas, a administração não só não o fez, como até retirou uma oferta de compra no final deste Verão devido às “condições de mercado”. O petróleo já é demasiado caro e os EUA estão a ficar sem o mais importante recurso de reserva.

Paralelamente, a administração Biden tem trabalhado activamente para cortar as pernas a um acordo entre a Arábia Saudita e Israel. Afinal de contas, por que razão haveriam os pilotos do caos de querer encorajar a estabilidade no Médio Oriente?

Israel e a Arábia Saudita têm vindo a estabelecer relações diplomáticas discretas, desde os Acordos de Abraão, trocando peritos e conhecimentos em várias áreas – mas sem tocar no tema palestiniano. Na verdade, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, numa entrevista à Fox News há várias semanas, recusou-se a fazer exigências a Israel sobre a questão palestiniana e afirmou simplesmente que a sua expectativa era apenas a de que Israel “melhorasse a vida dos palestinianos”. Mas a administração Biden prontificou-se a estragar tudo, insistindo em numerosas concessões por parte do governo israelita, que levaram as negociação a um impasse.

É provável que Israel faça o trabalho sujo para travar as aspirações nucleares do Irão. Há quem suspeite que o governo israelita foi avisado do ataque do Hamas, mas preferiu ignorá-lo para que a pretexto da guerra na Faixa de Gaza o problema palestiniano seja resolvido de uma vez por todas (pelo genocídio ou pela deportação da população palestiniana); e a propósito de uma potencial entrada do Hezbolah no conflito, essa operação de destruição das infraestruturas nucleares iranianas possa ser realizada.

A Arábia Saudita tem influência decisiva em tudo isto e podemos presumir que a única razão pela qual os EUA foram trazidos para a mesa de negociações foi para colaborar no sentido da paz. Mas as conversações, que estavam bem encaminhadas, chegaram a um impasse quando funcionários americanos começaram a deixar escapar frustrações tanto do lado saudita como do lado israelita. Enquanto estes países trabalhavam num acordo histórico para impedir um Irão nuclear, Biden jogava sujo.

A certeza de uma violenta resposta militar de Israel em Gaza eliminou as hipóteses dos sauditas poderem apertar a mão a Israel durante os próximos tempos. No entretanto, o Irão continuará a enriquecer urânio.

Assim sendo, o rasto específico de dinheiro nem sequer começa a cobrir a extensão da insanidade – é apenas um pequeno detalhe dentro da teia mais vasta das políticas perversas e destrutivas da administração Biden. Para adicionar uma camada ainda mais desconcertante à mistura, o Irão é um país que espanca e prende mulheres por mostrarem um pouco de cabelo debaixo dos seus hijabs, e onde a actividade homossexual pode levar à pena de morte. Há poucos países no mundo em que os direitos civis sejam de tal forma rejeitados. A submissão de Biden ao Irão está em contradição directa com os “valores” que a esquerda neo-liberal afirma defender.

Neste momento, a América não perdeu simplesmente a sua influência na cena mundial – está a financiar o terror. A extensão deste rasto de dinheiros ocultos e de políticas aberrantes e de esforços diplomáticos que objectivam o caos ainda não foi totalmente percebida. Não se trata apenas de Gaza. É o Líbano. É a Síria. É o Iraque. É o Afeganistão. É provável que esteja a chegar à fronteira sul dos EUA. Será Paris e Londres. E, mais tarde ou mais cedo, um bairro perto de si.