O escritor, actor, cineasta e comentador Alian Soral foi condenado a 60 dias de prisão, para gáudio de um grupo de activistas LGBT na Suíça.

O tribunal de Lausanne pronunciou a sentença contra Soral, cujo nome legal é Alain Bonnet (pelo que é assim que o vamos tratar), no dia 2 de Setembro. O escritor foi acusado de difamação, discriminação e incitamento ao ódio e, para além do tempo que vai passar atrás das grades, foi condenado a pagar milhares de euros em taxas legais e multas.

Bonnet chamou “lésbica gorda” a Catherine Macherel, activista palhaça do jornal suíço Tribune de Geneve, num vídeo publicado no Facebook em 2021. Ele criticou também o seu “activismo queer”, sugerindo que ela estava mentalmente “desequilibrada”.

A sua condenação e subsequente punição foram consideradas uma vitória para o grupo de lésbicas activistas LOS. De acordo com a NBC News, Murial Waeger, co-diretora da organização, disse num comunicado:

“Esta decisão do tribunal é um momento importante para a justiça e os direitos das pessoas LGBTQI na Suíça. A condenação de Alain Soral é um sinal forte de que o ódio homofóbico não pode ser tolerado na nossa sociedade. O veredicto representou um marco na aplicação de uma medida aprovada pelos eleitores suíços em 2020 que tornou ilegal a discriminação contra pessoas com base na orientação sexual”.

Portanto: considerando que esta organização se auto-denomina como uma associação de lésbicas, o termo não pode ser ofensivo, pelo que o crime de Alain Bonnet foi o de chamar “gorda” a uma jornalista. O Contra descobriu que Catherine Macherel é rechonchuda, sim, mas não é propriamente gorda. Daí o crime? Mas se Macherel não fosse lésbica, e até fosse bem magrinha, consideraria o tribunal suíço condenar Bonnet da mesma forma? Claro que não. Conclusão: na Suíça podemos chamar, impunemente, magros aos gordos e gordos aos magros, desde que os alvos dos nossos exageros sejam heterossexuais. Se forem homossexuais, trata-se já de um crime de ódio.

A estupidez disto é não tem princípio nem fim. É um cosmos imenso e interminável de porcaria neo-liberal.

É claro que Bonnet tem culpas no cartório pelo simples facto de ser suíço. Todos os suíços são culpados de serem suíços. Mas a Suíça não pode prender todos os suíços, pelo que limita-se a encarcerar aqueles que exageram o peso das lésbicas. Mais a mais, o polemista conhece bem o conforto das celas europeias, já que foi anteriormente condenado a um pena de prisão em França, há quatro anos, após ter declarado inexistente o Holocausto – coisa que os franceses proibiram quando ainda corria o século XX.

Bonnet tem uma longa carreira como activista e autor anti-sistema – o que até é de louvar – e alcançou fama nos últimos anos, não por causa dos seus ensaios, dos seus filmes ou das suas performances dramáticas, mas porque alimenta um site muito feio, o “Egalité et Réconciliation”, de inspiração nacionalista, que se descreve como ‘de esquerda no trabalho mas de direita nos valores'”. E toda a gente sabe que um nacionalista que defenda os trabalhadores e seja conservador de coração tem que ser preso imediatamente.

O homem de 65 anos tem sido um apoiante do movimento populista de base conhecido como “Coletes Amarelos”, que em 2018 protestou nas ruas de França por justiça económica. Outro pecado capital.

Bonnet planeia recorrer da sua condenação para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, “se necessário”, de acordo com uma declaração do seu advogado Pascal Junod (boa sorte com esse recurso, que vai precisar dela). Junod qualificou a condenação como um “crime de opinião”, afirmando, vergado por tanta razão que carrega, que o caso se baseia num “pecado contra os dogmas do pensamento único”.