Pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado.
Mateus 12:37

 

Estes são os tempos em que a palavra traduz o seu oposto.

O Ocidente promove a guerra na Ucrânia para “salvar” a democracia no terceiro país mais corrupto do mundo, apoiando o regime oligárquico que opera sem o incómodo de uma oposição, enquanto assassina jornalistas, persegue clérigos, fecha igrejas e envia uma geração inteira de jovens para campos minados e perímetros fortificados como se a vida humana valesse menos que o camuflado de Zelensky.

Vladimir Putin é um perigoso ditador e um ávido expansionista, mais perigoso do que Hitler, embora lide com os seus opositores políticos com intolerância inferior à de Joe Biden, ou Justin Trudeau, e não deseje mais do que salvaguardar o futuro das populações russas no leste da Ucrânia, garantir a integridade do seu porto de águas quentes na Crimeia e travar o imparável avanço da NATO na Europa de Leste, que, sem qualquer justificação securitária, tem estado paulatinamente a cercar a Rússia com o recrutamento de novos estados membros.

Também para “salvar” a democracia, os tiranos ocidentais querem proibir partidos políticos, interditar websites, censurar o discurso, controlar a dissidência.

Já os globalistas “salvam” o planeta de jacto privado, ou enterrando florestas em troca de créditos de carbono (a nova divisa do Diabo), ou bloqueando a luz solar, ou criminalizando os cidadãos que não respeitem zelosamente os mandatos netzero.

As vacinas e os confinamentos “salvam” as pessoas de ameaças imaginárias, enquanto milhões morrem dos seus efeitos colaterais.

A impressão desmesurada de moeda “salva” a economia de uma recessão e o aumento das taxas de juro “salva” os pobres da inflacção que foi criada para “salvar” a economia.

Em Portugal, António Costa quer “salvar” a garantia constitucional do direito a habitação condigna ao suspender a propriedade privada, enquanto investe em radares que “salvam” vidas à razão de 360.000 euros por dia.

 

 

Em França, Macron vai “salvar” a República com a implementação da agenda WEF, que reduz os princípios republicanos à ideia de que todos os porcos serão infelizes da mesma maneira.

No Vaticano, o papa quer “salvar” o cristianismo permitindo que o regime de Xi Jinping persiga os cristãos em troca do poder meramente consultivo na nomeação de bispos na China. E quer “salvar” o mundo regressando à “paz” de Genghis Khan (facto literal).

Em Silicon Valley, engenheiros efeminados e rechonchudos vão “salvar” o futuro com algoritmos cuja lógica de funcionamento na verdade lhes escapa.

No Reino Unido, Rishi Sunak é o legítimo representante dos interesses da maioria dos ingleses porque foi democraticamente eleito por uma dúzia de senhores do universo.

A linguagem foi de tal forma subvertida à sua função beligerante, de tal forma colocada ao serviço da mistificação, que vamos até acabar por perceber que um conflito termonuclear com a Rússia é a derradeira “salvação” da humanidade.

Mas não é só no sentido da redenção de todos os males que todos os males são justificados. A linguagem no Ocidente está a ser transformada numa espécie de ferramenta psicadélica para transformar a realidade em alucinação. Consumimos como verdadeiras narrativas que, há dez ou vinte anos atrás, uma criança na quarta-classe rejeitaria aprioristicamente.

No Terceiro Mundo a fome passou a ser benéfica, enquanto no Primeiro a ignorância é a nova erudição. Graças ao espantoso acesso à informação rigorosa e fidedigna que nos chega pelos meios de comunicação social corporativos e pelas agências oficiais de entretenimento, o ás da aviação de guerra ucraniana é um personagem tirado de um meme, Cleópatra passa a sudanesa, a Branca de Neve é porto-riquenha, o super-homem tem medo do escuro e o 007 é maricas.

 

 

As derrotas são vitórias, a destruição é construtiva, a injustiça faz justiça, a pobreza enriquece e a ignorância edifica. Neste universo de invertida semântica, há homens que dão à luz e mulheres que transportam testículos; há laboratórios de armas químicas que afinal apenas previnem doenças, e armazéns repletos de cadáveres de extraterrestres que há dez anos atrás não existiam; há pacifistas que são assassinos, humanistas que odeiam a humanidade, artistas que exibem telas em branco, dementes senis capazes de comandar os destinos dos povos; e há constitucionalistas que anulam as constituições, cientistas que ignoram o método científico, deputados que desprezam o eleitorado, verificadores de factos que olvidam os factos, jornalistas que fazem propaganda, propagandistas que fazem jornalismo, peritos que são ilusionistas, ilusionistas que são peritos e entre esta multidão de fariseus: ninguém diz a verdade.

A verdade é o tabu do Século XXI e a palavra, uma poderosa máquina de transformação da realidade.