A outrora venerável revista médica Lancet dedicou um artigo inteiro ao impacto do “racismo estrutural” na anemia por deficiência de ferro. Segundo a Lancet,

“A anemia não está igualmente distribuída por ‘raça, sendo uma metáfora do racismo estrutural, que resulta num acesso diferenciado aos bens, serviços e oportunidades da sociedade”.

No artigo que é um exercício de ficção e que não apresenta qualquer prova científica a favor da tese que defende, podemos ler:

“A disparidade na anemia por deficiência de ferro por local e ‘raça’ é um indicador biológico do acesso diferenciado a bens, serviços e oportunidades, a uma dieta saudável, à educação e a um ambiente limpo, que é agravado pela exposição diferenciada a infecções, pobreza e stress, e pelo acesso diferenciado a cuidados de saúde, particularmente para hemorragias menstruais intensas”.

Não só o “racismo estrutural” é responsável pelas taxas mais elevadas de anemia entre as mulheres negras de todo o mundo, como a revista afirma que esta diferença é também alimentada por outro papão progressista: o Patriarcado, porque

“Devido ao tabu patriarcal que envolve a menstruação, muitas mulheres não recebem cuidados efectivos para a hemorragia menstrual intensa”.

Curiosamente, para uma revista médica, o artigo dedica pouco tempo a investigar os verdadeiros factores biológicos e genéticos que estão na origem das diferentes taxas de anemia entre negros e brancos. O American Journal of Epidemiology, por exemplo, descobriu em 2009 que a anemia era 3,3 vezes mais comum em negros do que em brancos, mesmo “após o ajuste para variáveis demográficas, factores socioeconómicos e comorbidades”.

Além disso, a anemia falciforme (AF), uma doença genética que afecta os glóbulos vermelhos e pode afligir qualquer pessoa, incide sobretudo na população negra que tem um risco genético mais elevado de contrair a doença, o que não tem nada a ver com “racismo estrutural” ou qualquer outra construção cultural ou sociológica.

Na sua cruzada para atribuir a anemia ao racismo (e não em contribuir para debelar a doença), a Lancet alega, mais uma vez, sem qualquer evidência, que as diferenças de anemia entre as populações negra e branca

“têm sido convencionalmente e erradamente entendidas na medicina como diferenças biológicas inerentes entre ‘raças'”.

Em seguida, reconhece que existem “contributos genéticos” para os deficits em ferro, mas acrescenta que

“a construção social da ‘raça’ é um mau indicador desta variabilidade.”

Mas é um “mau” indicador porque contradiz as evidências científicas ou porque contradiz a ideologia do autor?

“Em vez de abordar o acesso diferenciado a uma vida saudável, o racismo sistémico significa que as disparidades na anemia por deficiência de ferro foram durante demasiado tempo enquadradas como diferenças biológicas, invocando explicações genéticas com diferentes limiares de anemia para as mulheres negras. A incapacidade de reconhecer o racismo subjacente às diferenças de anemia por “raça” manifesta-se como uma desvantagem intergeracional persistente que exige a nossa atenção urgente”.

Porque contradiz a ideologia do autor, claramente.