Num segmento da entrevista concedida a Megyn Kelly, que vai para o ar no seu formato integral hoje ao fim do dia, Donald Trump fala sobre a sua gestão da “pandemia”. E reconhece, de forma que oscila entre a comédia e a tragédia, que a sua administração, a administração da primeira potência mundial, ficou completamente aterrorizada e mostrou-se superlativamente ignorante face à realidade das primeiras semanas de disseminação da gripe chinesa.

Talvez inadvertidamente, Trump confessa que o gigante aparelho governamental da federação chegou ao ponto de acreditar que as pessoas estavam a morrer aos milhões por causa de um vírus que era transportado por nuvens de poeira.

Os “peritos” das centenas de agências federais que têm por missão velar pela saúde e segurança dos americanos não conseguiam fazer mais do que correrem aflitos à Casa Branca para mostrar ao chefe de estado fotografias de milhares de corpos ensacados nos baldios de Wuhan – apocalipse agora, senhor presidente, apocalipse agora.

Vale a pena ver este curto segmento, porque é nestes detalhes que percebemos que somos governados por uma corja de destituídos mentais e que as decisões tomadas no início de 2020 foram sustentados pelo pânico, pela incapacidade técnica e pelo desconhecimento absoluto de como lidar com o fenómeno.

 

 

De resto, Trump dá as mesmas respostas básicas e desinteressantes que tem repetido noutras entrevistas: que Fauci era um funcionário público muito respeitado e que apesar de gostar imenso de despedir pessoas não o despediu por causa disso, que a triste figura não era assim tão importante na orgânica da sua administração; que deu liberdade aos governos estaduais para tomarem decisões de confinamento e emitirem mandatos de vacinação, ou não; que as vacinas salvaram vidas, que as suas sábias decisões salvaram vidas e que é um salva-vidas nato.

Como o Contra já documentou, Donald Trump tem recusado reconhecer o real significado, moral e estatístico, dos efeitos adversos associados às vacinas Covid, mesmo quando se acumulam às toneladas provas científicas e estatísticas de que essas terapias genéticas não eram tão seguras ou eficazes como os seus fabricantes as anunciaram.

Sobre este tema, a entrevista de Kelly não foi diferente de outras em que Trump evitou os significativos efeitos colaterais das vacinas. O ex-presidente discutiu com a pundit do Daily Wire, Candace Owens, a segurança e eficácia destas terapias, durante uma entrevista em Dezembro de 2021. Questionado se “reconheceria” que as vacinas “não eram tão seguras ou eficazes como nos foi dito pela comunidade médica na época”, Trump, começando por tentar desviar-se da questão, lá admitiu tacitamente que existiam estudos mostrando eventos adversos, mas pareceu minimizar esses relatórios. E quando o comentarista conservador Sebastian Gorka levantou a questão em Julho deste ano, observando que uma boa parte do eleitorado republicano espera que ele “se distancie das vacinas”, Trump mudou de assunto, apontando para os méritos da Operação Warp Speed e a sua oposição aos mandatos de vacinação.

Trump parece ignorar que um dos factores que precisamente contribuíram para as deficiências de segurança e eficácia das vacinas foi o seu deficitário ciclo de gestação e testagem.