365 dias e 885 artigos depois de ter sido colocado online, o ContraCultura ainda vive. Ainda não foi hackeado, ainda não foi interdito. As suas contas nas redes sociais ainda não foram censuradas, nem suspensas. A sua vocação pugilista ainda não foi silenciada. E não por falta de vontade dos poderes instituídos. De Santos Silva a Pacheco Pereira, o que abunda nesta corporativa Terceira República é a volição de fazer calar os “chalupas” e os dissidentes e a escumalha da terra que ousa a dissonância.
E não, este não é um exercício de pretensão. É óbvio que Santos Silva nunca ouviu falar no Contra, quântico e insignificante bocadinho panfletário que não lhe tira o sono. Mas a verdade é que os 15% de eleitores que vão votar no Chega nas próximas legislativas são capazes de contribuir para a sua ocasional insónia. A verdade é que sempre que o Alberto Gonçalves escreve um parágrafo, o Presidente da Assembleia da República e líder da PIDE oficiosa que regula o discurso no nosso país estremece de ambições totalitárias. Que, se os portugueses permitirem, serão cumpridas.
Como nos Estados Unidos, como no Canadá, como na Alemanha, como no Reino Unido e como em França, também em Portugal estamos a seguir rapidamente rumo ao momento em que, para “salvar a democracia”, os poderes instituídos se estão a preparar para acabar com ela. E – é preciso sublinhar isto – com o cego e surdo e demente apoio de significativas faixas da população.
Ao contrário do que muitas vezes nos é ensinado e constantemente propagado, não há fascismos sem apoio popular. Os sovietes assaltaram o poder com a alavanca de largos sectores da sociedade (principalmente o rural, já que a Rússia do princípio do século XX não possuía o proletariado industrial que Marx considerava indispensável para a revolução). Hitler não seria Adolfo sem a insatisfação das massas. Salazar, Franco, Mussolini não teriam chegado onde chegaram se não fossem empurrados por dinâmicas sociais e históricas que os transcendiam largamente. Assim também acontece com os tiranos do século XXI.
Justin Trudeau foi eleito por uma ampla margem de votos. Biden, a acreditarmos na validade dos números eleitorais de 2020, recolheu mais votos que Obama. E se é verdade que ninguém elegeu Rishi Sunak, Boris Johnson, que se mostrou autoritário ao ponto de, durante a pandemia, querer regular a vida sexual dos súbditos de sua majestade, chegou ao poder com uma vitória só comparável aos triunfos eleitorais de Margaret Tatcher.
Em Portugal, é bem capaz de existir um apoio à interdição do Chega que deve ultrapassar os 30% do eleitorado. Na Alemanha, mais de metade dos cidadãos acham que a ilegalização do AfD é uma boa ideia. Em França, a maioria dos eleitores pensa que Macron, um agente do WEF que detesta os franceses a tal ponto que constantemente lhes promete um futuro pior do que o passado, é um mal menor. Menor em comparação com o quê? Com a dissidência de Le Pen, que na verdade é tão dissidente como De Gaule, ou seja, nada.
Como aconteceu durante a pandemia, a responsabilidade dos fascismos cabe inteiramente aos fascizados. E se é verdade que hoje em dia as pessoas, na sua maioria, têm o cérebro bem lavado pelas máquinas de propaganda regimental a que chamamos imprensa; e se é verdade que se regista actualmente uma recordista abundância de tiranos nas altas esferas do poder; e se é verdade que as elites globalistas e os políticos que as representam e os burocratas que as servem e os “jornalistas” que as endeusam e os “cientistas” que as credibilizam dispõem de meios e recursos infindáveis que condenam a dissidência a uma espécie de ruído de estática, também não é mentira nenhuma que qualquer cidadão de um estado de direito constitucional no século XXI tem o dever da lucidez e a responsabilidade de saber discernir a realidade da propaganda, a verdade da mentira, o bem do mal.
Muitos de nós, no Ocidente, abdicámos dessa trabalheira.
E é por isso que, neste dia 1 de Setembro de 2023, ao cumprir um ano de actividade editorial dissidente, o Contra tem de facto uma muito simples razão para celebrar. E essa razão não vai para além disto: ainda vive. Ainda lhe é possível divergir das narrativas oficiais. Ainda esperneia com parágrafos.
Porque a avaliar pelas intenções de Washington e de Bruxelas e de Davos e de Ottawa e de Paris e de Berlim e de Lisboa, há um sério risco, um risco de profundidade civilizacional, de que isso não aconteça por muito mais tempo.
Relacionados
19 Set 24
De pagers, fariseus e equívocos.
Independentemente do carácter sinistro de organizações como a do Hezbollah, é no mínimo estranho que cristãos conservadores estejam a celebrar a operação da Mossad, que tem todas as características de um ataque terrorista.
17 Set 24
O alvo não é Trump; o alvo é você.
Walter Biancardine sugere que a sucessão de atentados contra Trump ultrapassa a óbvia conveniência da sua eliminação, visando, também e principalmente, amedrontar o cidadão comum: O pensamento dissidente é agora punível com a morte.
15 Set 24
Globalismo e Comunismo:
Os dois lados da mesma moeda.
A primeira de três crónicas de Walter Biancardine dedicadas à denúncia da herética cumplicidade corporativa, de inspiração marxista, entre os agentes do capitalismo contemporâneo e o Estado.
13 Set 24
É muito provável que o pior agente do caos sejas tu.
O pior agente da decadência do Ocidente, por incrível que possa parecer, não é o Alexandre de Moraes, nem o Justin Trudeau, nem o Emmanuel Macron, nem qualquer vilão deste género, porque estes estes vilões são tão raros que deveriam até ser irrelevantes.
12 Set 24
Desespero com “notório saber jurídico”: A Democracia Trans.
O regime 'trans' que vigora no Brasil é autoritário, draconiano e musculado como uma ditadura, mas distribui gentilezas e graças, aos sócios do sistema, como se de uma democracia legítima se tratasse. Um protesto de Walter Biancardine.
10 Set 24
Um Presidente sem povo, um povo sem Presidente.
Walter Biancardine sublinha a divisão que foi evidente neste 7 de Setembro: De um lado, Luís Inácio e a sua mafia, desfilando no deserto de Brasília, do outro, em S. Paulo, um milhão de pessoas protestavam contra a tirania.