Na Europa, só os presidentes americanos oriundos do Partido Democrata são vistos como líderes decentes, recebidos sem protestos, adorados pelos media, respeitados pelas turbas das redes sociais e premiados com ordens de mérito duividoso, como aquela em que Obama, acabado de ser eleito, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, sabe-se lá porque raio de mérito pacifista, principalmente tendo em conta que o seu passatempo favorito era bombardear casamentos, com drones, no Médio Oriente.

Registando apenas os últimos 50 anos, Nixon, Ford, Reagan, os dois Bush e Trump sempre foram vistos no velho continente como representantes de Satanás. A seu favor, podemos dizer que Trump, que nem é bem um republicano, honrou os pergaminhos desses personagens da história contemporânea. A qualquer lado que foi na Europa enquanto presidente, logo se levantou a turba indignada: de nazi a atrasado mental, não há epíteto que deixe de ser cuspido sobre o chão que o ex-Presidente dos Estados Unidos da América tenha pisado.

Pode ser um banana albino, um charme de menino ou um negro aristocrata, pode ser um gajo numa cadeira de rodas ou o tipo que primeiro carrega no botão nuclear: no que diz respeito ao grande chefe índio da nação americana, desde que seja democrata a Europa gosta dele. Este facto é espantoso porque todas – mas todas – as evidências históricas recomendam para o continente velho, um presidente republicano no novo. Chega a ser de gargalhada, mas a esquerda europeia (ou seja, a esmagadora maioria dos europeus) deposita todas as balsâmicas esperanças do mundo no Partido Democrata americano, que, na verdade, está para a Europa como uma brigada de bombeiros irresponsáveis e incapazes está para um incêndio: ou aparecem para atear o fogo ou chegam demasiado tarde para o apagar.

Para esta multidão equivocada de enervados da vida Nixon, Ford, Reagan, Bush pai, Bush filho e Trump foram, respectivamente: um bruto sem escúpulos, um anónimo, um actor de segunda categoria completamente ignorante de tudo, um perigoso belicista, um cowboy imbecil e um fascista. Cabem todos no mesmo saco do anti-americanismo mais básico – e néscio – que podemos imaginar.

O Contra não tem especial simpatia por alguns destes personagens (nomeadamente pelo clã Bush), mas o ódio que grande parte dos europeus nutre pelos presidentes americanos de direita ou centro-direita é difícil de explicar à luz da lógica e da história. É que ao contrário do que é popularmente aceite como verdadeiro, são geralmente os presidentes democratas que começam as guerras que os Estados Unidos travam pelo mundo, sendo frequentemente os presidentes republicanos que as terminam. Eis uma lista dos principais eventos bélicos em que os Estados Unidos se envolveram nos séculos XX e XXI (as datas referem-se à entrada dos EUA nos conflitos) e respectivos presidentes que as interpretaram:

Ocupação da Nicarágua
Início – 1913 – Presidente em cargo – William Howard Taft (R)
Fim – 1933 – Presidente em cargo – Herbert Hoover (R)

Ocupação da Veracruz
1914 – Presidente em cargo – Woodrow Wilson (D)

Ocupação do Haiti
Início – 1915 – Presidente em cargo – Woodrow Wilson (D)
Fim – 1934 – Presidente em cargo – Franklin D. Roosevelt (D)

Ocupação da República Dominicana
Início – 1916 – Presidente em cargo – Woodrow Wilson (D)
Fim – 1924 – Presidente em cargo – Calvin Coolidge (R)
 
Primeira Guerra Mundial
Início – 1916 – Presidente em cargo – Woodrow Wilson (D)
Fim – 1924 – Presidente em cargo – Woodrow Wilson (R)

Segunda Guerra Mundial
Início – 1916 – Presidente em cargo – Franklin D. Roosevelt (D)
Fim – 1924 – Presidente em cargo – Harry S. Truman (D)

Guerra Fria
Início – 1945 – Presidente em cargo – Harry S. Truman (D)
Fim – 1989 – Presidente em cargo – Ronald Reagan (R)

Guerra da Coreia
Início – 1950 – Presidente em cargo – Harry S. Truman (D)
Fim – 1953 – Presidente em cargo – Dwight D. Eisenhower (R)

Invasão da Baía dos Porcos
1961 – Presidente em cargo –  John F. Kennedy (D)

Guerra do Vietname
Início – 1963/65 – Presidente em cargo – John F. Kennedy (D) / Lyndon B. Johnson (D)
Fim – 1973 – Presidente em cargo – Richard Nixon (R)

Guerra do Cambodja
Início – 1967 – Presidente em cargo – Lyndon B. Johnson (D)
Fim – 1975 – Presidente em cargo – Gerald Ford (R)

Invasão do Panamá
Início – 1989 – Presidente em cargo – George H. W. Bush (R)
Fim – 1990 – Presidente em cargo – George H. W. Bush (R)

Guerra do Golfo
Início – 1990 – Presidente em cargo – George H. W. Bush (R)
Fim – 1991 – Presidente em cargo – George H. W. Bush (R)

Guerra da Somália
Início – 1993 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)
Fim – 1995 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)

Guerra da Bósnia
Início – 1994 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)
Fim – 1995 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)

Guerra do Kosovo
Início – 1998 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)
Fim – 1998 – Presidente em cargo – Bill Clinton (D)

Guerra do Afeganistão
Início – 2001 – Presidente em cargo – George W. Bush (R)
Fim – 2021 – Presidente em cargo – Joe Biden (D)

Guerra do Iraque
Início – 2003 – Presidente em cargo – George W. Bush (R)
Fim – 2011 – Presidente em cargo – Barack Obama (D)

Intervenção na Líbia
2011 – Presidente em cargo – Barack Obama (D)

Intervenção na Síria
Início – 2014 – Presidente em cargo – Barack Obama (D)
Fim – 2016 – Presidente em cargo – Donald J. Trump (R)
Novos bombardeamentos – 2021 – Presidente em cargo – Joe Biden (D)

Crise na Ucrânia
Início – 2021 – Presidente em cargo – Joe Biden (D)

Em conclusão, os presidentes republicanos começaram 5 conflitos e terminaram 9. Os presidentes democratas iniciaram 16 conflitos e terminaram 7.

Estes últimos são responsáveis pela entrada dos EUA nas guerras mais mortíferas: A Primeira e a Segunda guerras mundiais, a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietname.

É importante referir que quem decidiu largar as 2 bombas atómicas no Japão foi um presidente democrata – Truman – e que foi também Truman (muito ajudado pela prévia inocência de Roosevelt, outro democrata) que permitiu o cenário de pós-guerra que levou à Guerra Fria, terminada, quarenta e tal anos depois, com uma vitória, pacífica e brilhante, de um presidente Republicano – Reagan.

Se excluirmos a presente escalada que pode acabar numa guerra termonuclear com a Rússia, também perpetrada por um Presidente Democrata, o momento em que a raça humana esteve mais perto da extinção, desde que o Sapiens é Sapiens, foi no mandato de J. F. Kennedy, outro presidente democrata, durante a célebre crise dos Mísseis de Cuba (episódio que, felizmente, não consta da lista de conflitos).

E agora, deitemos um olhar sobre os 8 últimos presidentes democratas dos Estados Unidos da América, numa prosaica viagem de 8 décadas:

F. D. Roosevelt – Este carismático “all-of-famer” só concedeu meter-se ao barulho da Segunda Guerra Mundial depois dos Nazis terem tomado por força das armas a Polónia, a Holanda, a Bélgica, a Dinamarca, a Noruega, a França e, por sujeição de cobardes, a Itália, a Grécia e toda a Europa oriental. E mesmo assim foi necessária a ignição de uma das mais bem sucedidas, espectaculares e competentes ofensivas da história militar. Não fosse a loucura inspirada da marinha nipónica e os americanos do democrata F. Delano R. chegariam ao outro lado do oceano apenas a tempo de negociar o resgate de alguns judeus famosos e assinar um pacto de paz Atlântica. Com Adolf Hitler.

H. S. Truman – Este sujeito é mesmo um ídolo da esquerda bem pensante e um guardião dos mais altos interesses sociais e pacifistas da Europa. Nos seus dois mandatos, Truman teve tempo para inaugurar a era nuclear, o Plano Marshall (segundo os revisionismos históricos da esquerda contemporânea, foi por aqui que o lamentável liberalismo triunfou sobre a Europa), a caça às bruxas e uma guerra nova, na Coreia. Isto para além de ter entregue (em cumplicidade com o seu antecessor) a Europa de leste a Estaline. Um currículo invejável, mesmo se o compararmos a Bush filho.

J. F. Kennedy – Para além de ter transformado a Casa Branca num magnífico bordel, este rapaz será provavelmente o maior mito político da atribulada e sanguinolenta história do Século XX. Célebre por ir a Berlim dizer que era um berlinense, foi acreditado como um libertador para toda a história universal da infâmia. Descendente e herdeiro de uma linhagem mafiosa no sentido WASP da palavra, Kennedy ia levando o mundo todo com ele para o abismo terminal por duas vezes e pelas duas vezes por causa de Cuba, o que é uma absoluta imbecilidade. Mais a mais, para salvar a face da crise dos mísseis, comprometeu completamente o equilíbrio estratégico da guerra fria na Europa, retirando as capacidades nucleares na Turquia, como secreta e cobarde moeda de troca para o regresso dos sovietes à soviética ignomínia. Assim sendo, e reduzindo esta paixão guterrista por Berlim ao valor da oratória de casa de banho, porque raio é que ele é tão amado deste lado do mar?

L. B. Johnson – Sobre esta sinistra figura, personagem infame da história da América, nem é preciso dizer muito. Em 6 anos como presidente, foi incapaz de acabar com a guerra no Vietname (quem fez isso foi um republicano – Nixon) e permitiu ao bloco soviético ganhar ascendente em vastas áreas do planeta.

J. E. Carter – Se há personagem do Partido Democrata que mais defendeu como Presidente a democrata doutrina de que os EUA devem apenas interferir militarmente no palco internacional por motivos de segurança interna (como se isso fosse próprio de uma primeira potência mundial), esse personagem infeliz é Jimmy. O resultado foi a desgraça dos reféns em Teerão e o triunfo de um sindicalista de Hollywood, que acabou por resolver montes de coisas e mudar o curso da história e libertar metade da Europa, mas como o Ronald era um bom e velho republicano caiu logo em desgraça nas praias de Cannes.

W. J. Clinton – Sobre este simpático de Arkansas basta escrever uma palavrinha horrivelmente mágica: Balcãs. Quem critica a hoje falecida administração americana por causa da idiotice do Kosovo, devia revisitar a história dos anos 90. Sem que a ONU fosse tida ou achada, a administração democrata meteu os pés pelas mãos numa caminhada macaca sobre os cadáveres de centenas de milhar de pessoas, grande parte mortas pelos tapetes de bombas nada cirúrgicas da força aérea americana. Grande Bill, provedor da dignidade humana, presumível vencedor do prémio nobel da paz, espécie de terapia de mau divã através do qual os europeus pensam que aliviam os males de consciência pesada que julgam ter.

Barak Obama – Um dos grandes responsáveis pelo princípio do fim da civilização ocidental e a ascensão da ideologia woke e da guerra de raças e dos sexos que vivemos agora, Obama ganhou o Prémio Nobel da Paz logo depois de ser eleito. Mas o seu expectável pacifismo durou muito pouco tempo, envolvendo os EUA em vários palcos de guerra, entre os quais os desastres humanitários da Líbia e da Siria, e alimentando os conflitos no Iraque e no Afeganistão com bombardeamentos efectuados com drones, cuja deficitária precisão assassinou milhares de inocentes.

Joe Biden – O demente senil que agora comanda os destinos dos americanos conseguiu retirar do Afeganistão, mas de tal forma desastrada que essa iniciativa ficará para sempre como um monumento dedicado à incompetência militar do Ocidente, entregando o país ao inimigo que passou vinte anos a combater e deixando no terreno cidadãos americanos, aliados afegãos e equipamento militar no valor de muitos biliões de dólares. No entretanto, e depois de voltar a autorizar bombardeamentos na Síria (que Trump tinha feito cessar) colocou o Ocidente na senda de uma guerra, impossível de ganhar, contra uma potência nuclear, desvalorizou o dólar ao ponto da irrelevância, promoveu civis transexuais à patente de almirantes e abriu a fronteira com o México para que através dela se efective todo o tipo de trânsitos infernais, de que o tráfico de crianças para escravidão sexual será talvez o mais chocante exemplo. 3 anos de puro brilhantismo político, financeiro, militar e geo-estratégico.

 

E está tudo dito.