Honestamente, o ContraCultura nunca simpatizou muito com as teorias do universo como simulação, não porque não façam sentido à luz do que conhecemos sobre o cosmos, as suas leis e os seus enigmas, mas porque são geralmente engendradas por activistas ateus, que estão mais preocupados em erradicar a ideia de criação divina do que outra coisa qualquer.

Mas Andrew Gentile, em mais um exercício de síntese e claridade do The Why Files, alvitra no clip em baixo a hipótese inversa, que de certa maneira o Contra  já colocou em textos sobre ciência e religião: se o universo corre como um programa de simulação, tem que haver um programador. E a esse programador, podemos chamar Deus.

Clérigos e físicos, ateus e crentes, podiam finalmente, com esta solução elegante, resgatar à história um acordo de cavalheiros.

Até a impossibilidade em aceder ao conhecimento exacto da mecânica da matéria, que a quântica coloca para desespero da ciência humana, pode ser ‘resolvida’ com a hipótese da simulação. E isto não é dizer pouco. Se as sub-partículas alteram o seu comportamento em função da observação a que são sujeitas, como demonstrado nas várias abordagens laboratoriais à “Double Slit Experiment“, num consciente jogo de escondidas com o observador humano, será talvez porque assim estão programadas, da mesma maneira que o protocolo dos jogos vídeo não nos deixa entrar no código ou sair para lá dos limites do jogo.

As teorias do universo como simulação têm ainda a vantagem simpática de garantirem uma substancial margem de manobra ao livre arbítrio. Em qualquer ambiente de realidade virtual, o indivíduo tem liberdade de movimentos, dentro de um quadro de leis fundamentais que regem um determinado micro-cosmos. As suas acções vão ter consequências em tempo real, mas também no fim do processo. Num universo simulado, o Sapiens seria, em largo sentido, livre e responsabilizado pelos seus actos.

Assunto a desenvolver. Por enquanto, aconselha-se este episódio seminal do The Why Files.