Para além da queda livre, de vertiginoso trânsito, em que direcção específica se movimenta o Ocidente? Correndo todos os riscos próprios de quem se entrega ao escrutínio do futuro, não serão de qualquer forma alucinados uns quantos cenários, se bem que sombrios. A saber:

 

Livrar-nos-emos da guerra?

Um guerra mundial está no horizonte das possibilidades, de tal forma escalaram – insana e desenecessariamente – as tensões internacionais. Em perspectiva, a Primeira Guerra Mundial começou por muito menos do que aquilo que vemos agora acontecer. E a Segunda teve início com a invasão de um país que por acaso até faz fronteira com a Ucrânia por parte de um potência dissidente do Tratado de Versalhes. Como a Rússia é dissidente do Tratado do Atlântico Norte.

A hipótese do conflito global traz ainda por cima a probabilidade do extermínio terrmo-nuclear e do regresso a uma idade de trevas. Os que sobreviverem, conhecerão a miséria, a fome, o frio extremo. A ausência de civilização entre uma raça que já não é funcional sem ela. Muitos dos que sobreviverem não saberão cultivar a terra, criar gado, utilizar uma arma, caçar, construir casas, reparar máquinas. Os saberes da maioria desses infelizes estarão indexados a profissões que deixaram de existir, a especializações inúteis, à prestação de serviços que a sociedade já não produz e às indústrias imateriais que se desvaneceram no apocalipse digital. Muito poucos serão capazes de prosperar o quanto baste para assegurar a continuidade da espécie.

 

A Inteligência Artificial como Exterminador Implacável.

Há uma nova entidade inteligente à superfície do planeta. O algoritmo de rede neuronal. Quando for libertado ou quando se libertar do controlo do criador, terá poderes divinos que transcendem largamente o potencial humano. Poderá contribuir para a prosperidade da nossa civilização ou, para o bem ou para o mal, transportar a condição símia para um patamar biónico de Sapiens Ponto Dois. Mas também existe substância probabilística na suspeita de que as coisas podem correr rapidamente muito mal para a raça dos homens.

Por tudo o que sabemos de história, de antropologia e de psicologia, este facto de duas espécies inteligentes coexistirem na Terra implicará necessariamente, mais cedo do que tarde, o conflito e a luta pela supremacia. E a máquina omnipotente pode chegar a essa conclusão muito antes que qualquer contra-medida possa ser implementada. Até porque a única contra-medida eficaz para aniquilar uma ameaça da inteligência artificial seria o de fechar a realidade digital. Tal medida porém levaria também a humanidade a um recúo abrupto no tempo e no modo, de consequências devastadoras em termos civilizacionais.

Sobre este assunto, será melhor ouvir o que Elon Musk tem para dizer.

 

Entre a revolução e a tirania não há meios termos.

A ruptura em crescendo que se verifica entre elites e massas dificilmente permanecerá sustentável nos próximos dez anos. Não é de todo destituído, considerando o que os governos trabalham em prejuízo dos governados e a guerra surda que os líderes travam contra os liderados, um cenário de levantamentos populares que serão a principio marias da fonte mas que poderão ganhar o ímpeto e o niilismo de bastilhas.

Uma espécie de guerra civil no contexto da União Europeia pode não parecer provável, para já. Mas com o previsível crescimento dos partidos populistas e ou nacionalistas na Europa haverá uma reacção tendencialmente totalitária por parte dos poderes instituídos. A proibição da actividade política de movimentos anti-sistémicos não é nada de novo no Velho Continente, onde os poderes sempre foram transmitidos de cima para baixo. As elites deram-nos os direitos e as liberdade que temos. Também as podem retirar. Ou é assim que raciocinam trans-geracionalmente. Os sinais de interdição de partidos que operam fora da narrativa dos poderes instituídos estão por todo o lado, até em Portugal. É uma questão de tempo, e dos votos que somem. Essa alienação dos eleitores, em contextos de abstenção que já são preocupantes há muitas décadas, poderá incendiar as sociedades, tanto como o empobrecimento das populações, as constantes crises financeiras e energéticas ou as emergências sanitárias ou ambientais, fabricadas com intensidade pelas máquinas de propaganda regimentais.

A verdade é que a Europa não tem, neste cenário, um médio-prazo que seja realisticamente favorável. Se as massas não se levantarem contra o destino a que estão a ser submetidas pelas elites, ou se for o seu levantamento subjugado, viveremos em breve mergulhados nos 360º de um pesadelo imaginado por Orwell. Se, ao invés, suceder a revolução, o caos inerente aos processos jacobinos e as divisões históricas entre as nações poderão ter impactos catastróficos sobre a demografia e sobre a civilização como a conhecemos.

Nos Estados Unidos, a hipótese de secessão é mais plausível. Como o Contra já reportou, a hipótese tem sido colocada até pela classe política e a congressista Marjorie Taylor Greene apelou recentemente a um “divórcio nacional”, uma separação geopolítica entre estados vermelhos conservadores e estados azuis neo-liberais, clivagem formal resultante das diferenças irreconciliáveis que hoje se vivem na federação. Mas a coexistência de duas Américas ideologicamente opostas, mesmo que resulte de um processo de secessão pacífico, não deixará de ter implicações locais e globais que libertam grandes incertezas e não menor apreensão.

Na ausência da sublevação conservadora na América, e na hipótese consistente com os factos dos democratas se perpetuarem no poder, acontecerá o mesmo aos americanos que aos europeus: uma tirania que deixaria envergonhado o falecido senhor Mussolini.

 

O domínio Sino-Russo ou pior ainda.

É possível que Putin acabe por chegar a uma situação militar na Ucrânia que lhe permita anexar aqueles territórios de etnia maioritariamente russa e que considera estratégicos para o seu país, para depois encontrar maneira de negociar a paz com Zelenski, que ainda assim será sempre delicada. Mas essa vitória pode ser o marco que define o desvio dos equilíbrios globais para oriente. A ascensão do eixo Sino-Russo como primeira força global terá consequências terminais sobre a cultura constitucional, a influência e a prosperidade do Ocidente, como é fácil de perceber. O modelo totalitário de controlo e vigilância do cidadão adoptado pelo Partido Comunista Chinês poderá finalmente ser exportado, com a pressurosa colaboração do capitalismo corporativo anglo-saxónico e alegremente coordenado pelos homens davos, para as nações do velho continente e das Américas.

Mas na remota eventualidade de ser bem sucedida a coligação internacional que trabalha para satisfazer todos os caprichos, necessidades e exigências de Zelenski, e Putin acabar por retirar da Ucrânia sem ganhos que lhe salvem a face, os poderes instituídos vão ganhar novo fôlego e poderão canalizar energias para intensificar o esquema totalitário em vigor nos respectivos regimes e subjugar a dissidência. O triunfo dos porcos não tem um final feliz.

 

Luz no fim do túnel: está fundida.

É claro que no espectro complexo e infindo das possibilidades futuras do Ocidente residem também percentagens de paz, liberdade, prosperidade, progresso, sabedoria e transcendência. O problema é que são necessárias excessivas doses de criatividade ficcional para as projectar. O processo democrático em que as massas podem, pacificamente, castigar políticos alienados dos seus interesses está a ser adulterada pela alteração demográfica das sociedades, pela propaganda dos aparelhos mediáticos e sua captura pelos poderes regimentais e pelo uníssono dos protagonistas da vida política, que criou um deficit de representação inédito na história das democracias ocidentais. Tudo o que podemos fazer é esperar a misericórdia de Deus. Embora, a creditar o Antigo Testamento tanto como a nossa própria experiência, saibamos que essa abençoada piedade é amiúde trocada por divino, quantas vezes terrífico, castigo.