Os meios de comunicação mainstream não querem que o público oiça o que Vladimir Putin tem para dizer. Mas o seu último discurso à nação deve ser escutado.
Para além da declaração do fim de um tratado sobre armas nucleares com os EUA – que surpreende apenas por ter estado em vigor até aqui – nada mais ouvirá através da imprensa sobre o que Putin teve a dizer na terça-feira da semana passada durante o seu longo discurso. Isso não significa que o que o inquilino do Kremlin disse não tenha sido importante e pertinente. Significa que os meios de comunicação social são o que são: máquinas de censura e propaganda dos regimes ocidentais.
Acontece que os 100 minutos desta palestra de Vladimir Putin estão repletos de verdades inegáveis, e o Contra faz questão de sublinhar uma dezena delas. A saber:
1. “Os EUA utilizaram a Ucrânia para se prepararem para uma grande guerra. Eles admitiram isso publicamente”.
É um facto da política oficial articulada pela administração Biden. O próprio presidente declarou no início do ano passado que Putin “não pode permanecer no poder”, sugerindo uma mudança forçada de regime. Biden começou a semana passada visitando Kiev, uma zona de guerra sem presença militar dos EUA, como se o conflito fosse tão importante para os americanos como para a Ucrânia (e é, dado que os EUA suportam cerca de dois terços dos custos da defesa ucraniana e o regime Biden investiu tudo neste conflito).
Até os republicanos no Congresso estão a namorar com a ignição da guerra global. O Senador Lindsey Graham da Carolina do Sul já disse que os EUA deviam designar a Rússia como estado terrorista. O líder republicano do Senado Mitch McConnell declarou que a “derrota” da Rússia é “a prioridade número 1 para os Estados Unidos neste momento”. Todo o discurso dos poderes instituídos nos Estados Unidos, à esquerda e à direita, conduz a um intensificar das tensões internacionais sobre este conflito regional. Os americanos e os seus aliados na Europa já cometeram na verdade vários actos de guerra contra a Rússia, ao destruírem o Nord Stream e ao desenvolverem actos de sabotagem sobre infra-estruturas russas.
As ameaças de guerra global a propósito de um apoio em armamento da China aos Russos por parte de altos quadros da administração Biden são bem eloquentes sobre a vontade bélica dos americanos, embora a probabilidade dos EUA saírem vencedores de uma guerra mundial contra o bloco sino-soviético sejam muito baixas, para não dizer nulas. De qualquer forma, se o conflito escalar para um confronto nuclear, não haverá vencedores. Apenas vencidos entre as cinzas.
2. “O Ocidente é culpado pela escalada”.
Muito antes da Rússia invadir a Ucrânia, Washington tem promovido a expansão da NATO para nações que estão localizadas na esfera de influência da Rússia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte, existe na sua forma actual com o objectivo expresso de intimidar e manietar a Rússia. O que começou como um aviso à União Soviética de que os EUA iriam defender os seus aliados europeus contra a agressão militar comunista é agora uma manifestação de soberba, que alienou o Kremlin desnecessariamente.
E porque o antecessor de Biden, Donald Trump, ousou solicitar aos países membros da NATO que aumentassem as suas magras contribuições financeiras para o orçamento da aliança, não mostrando grande interesse em expandi-la e desvalorizando o alegado impulso imperialista russo, os seus opositores adoptaram reflexivamente a posição exactamente oposta: Putin é um perigo claro e imediato, a NATO é indispensável para refrear os seus ímpetos expansionistas e a Ucrânia seria o próximo estado a ingressar na aliança.
Qualquer pessoa que olhe para um mapa e que saiba um pouco da história da Rússia percebe que esta estratégia teria que ser travada por qualquer líder responsável que segure a coroa de Pedro.
Por outro lado, o envolvimento do Reino Unido em vários ataques e acções de sabotagem conduzidos pela Ucrânia na Crimeia, que também pode ser entendido como um acto de guerra, não deixa muitas dúvidas sobre as intenções dos aliados ocidentais.
Acresce que Kiev tem estado a desenvolver todo um programa de acções secretas de desestabilização em território russo desde 2014, tendo em vista o cenário da guerra com Moscovo.
3. “O Ocidente quer obter uma derrota estratégica da Rússia. Isto significa que não querem ter mais nada a ver com a Rússia. Eles querem uma resistência global contra a Rússia”.
Que parte disto contradiz tudo o que a administração Biden, a maior parte do Congresso, e praticamente todos os quadros dirigentes do Pentágono já disseram publicamente?
Vamos partir do princípio improvável que Vladimir Putin retira unilateralmente da Ucrânia e declara uma trégua. Qual vai ser o primeiro país ocidental a propor que sejam retomadas as relações comerciais e de cooperação com a Rússia? Nenhum deles o fará. Todos eles esperam a marginalização duradoura da Rússia, de preferência sem Putin em cena.
4. “[Os países membros da NATO] fecharam os olhos a assassinatos políticos.”
Não há nada nesta frase que possa ser contradito. Como o ContraCultura noticiou na altura, a filha do filósofo russo Alexandr Dugin foi barbaramente assassinada em Outubro de 2022 com uma bomba colocada no automóvel onde seria expectável que o seu pai viajasse, por uma unidade dos serviços secretos ucranianos infiltrados em território russo. O terrorismo sobre civis não recolhe reticências no Ocidente e é apoiado operacional e logisticamente pela CIA e por outros serviços de inteligência ocidentais, apesar das declarações em contrário.
5. “Os Estados Unidos e a NATO instalaram rapidamente bases militares e laboratórios biológicos secretos perto das fronteiras do nosso país”.
Outro facto documentado pelo ContraCultura. Aquela que foi uma teoria da conspiração durante 48 horas passou rapidamente a facto: os Estados Unidos financiaram nada mais, nada menos que 26 laboratórios de pesquisa em armas químicas no território ucraniano. Considerando o que aconteceu em Wuhan, é expectável que o Kremlin permaneça apático perante esta ameaça à segurança dos seus cidadãos?
6. [Os líderes ocidentais] escondem-se por trás de palavras como democracia e liberdade, enquanto instalam valores neo-liberais inerentemente totalitários”.
Mais uma vez, o presidente russo acerta em cheio: de cada vez que Joe Biden fala em salvar a democracia na Ucrânia, por exemplo, o que está realmente a dizer é que é preciso proteger o regime autoritário de Zelensky, de raiz eugénica e globalista de Davos, carregado de nazis e radical LGBTQ, marioneta da CIA e compadre da Comissão Europeia. A população de etnia russa na Ucrânia não vive em democracia. Os jornalistas ucranianos dissidentes não vivem em democracia. Todos aqueles que, durante as revoluções coloridas que ocorreram no país neste século, se opuseram ao neoliberalismo ocidental, não vivem em democracia. Foram perseguidos, exilados, torturados, bombardeados e assassinados. E estes são uma parte muito significativa da população de um país cuja primeira língua, pelo menos até ao desencadear desta guerra, era o russo.
Establishment Media tells us that Putin is an Enemy that must be defeated…at all costs. In his recent speech…he discusses the destruction of churches, religious institutions, nuclear families…and the normalization of pedophilia. So the question becomes…who’s the real Enemy? pic.twitter.com/m9x5uzQ9Cb
— Liz Churchill (@liz_churchill8) February 23, 2023
7. “Vejam o que eles [no Ocidente] fazem com os seus próprios povos: a destruição da família, da cultura e das identidades nacionais”.
Se isto não fosse verdade, o ContraCultura nem teria motivos para existir. É mais que factual que o neoliberalismo globalista odeia o núcleo familiar tradicional, amaldiçoa a cultura e a história dos povos ocidentais e só tem consideração por uma fronteira: a que separa a Ucrânia da Rússia. De resto, para as elites contemporâneas, os valores nacionais e os limites geo-políticos são para eliminar quanto antes.
8. “A perversão, o destrato das crianças e a pedofilia foram normalizados [no Ocidente].”
Facto. Os movimentos LGBTQ, tão queridos dos actuais dirigentes políticos, da imprensa e do capitalismo corporativo, ultrapassaram há muito o âmbito da defesa dos direitos civis e são hoje uma perturbadora máquina de sexualização de tudo, inclusivamente das crianças. Só não vê quem não quer. E quanto à pedofilia, basta dizer que o actual Papa afirmou recentemente que os pedófilos “têm um lugar especial no céu”. Mas, do escândalo Epstein à constante normalização dos actos sexuais com crianças perpetrada pela cultura woke, surgem sinais por todo o Ocidente que corroboram a afirmação de Putin. Até em Portugal.
9. “A Igreja Anglicana está a considerar a ideia de um Deus de género neutro.”
Certo. O ContraCultura já documentou esta nova aberração da igreja inglesa. E Putin podia não ter ficado por aqui. O que não faltam são desvios woke, completamente alienados dos ensinamentos evangélicos, nas igrejas cristãs ocidentais.
10. “Milhões de pessoas no Ocidente percebem que estão a ser conduzidas a um desastre espiritual.”
Completamente. Não é por acaso que os líderes políticos e económicos europeus e americanos estão em guerra aberta com os povos que dirigem. A clivagem entre as elites e as massas que se observa no Século XXI e a crise de representação que se vive nas democracias ocidentais, em que os agentes políticos perseguem agendas, num perverso uníssono ideológico, contrárias aos interesses dos povos que representam, derivam precisamente dessa percepção.
Podemos dizer o que quisermos de Vladimir Putin. Mas não que seja uma criatura irracional. Mas não que recuse defender os interesses dos seus cidadãos e da nação que dirige. Mas não que seja infiel aos valores morais e às tradições culturais que fizeram da Rússia uma potência mundial. E isso é mais do que podemos dizer de qualquer líder ocidental da actualidade.
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