Parece que nos Estados Unidos chegou finalmente o momento zero no processo de levar os censores de Silicon Valley ao necessário critério judicial.

Na quarta-feira passada – numa audiência do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes – antigos executivos de topo do Twitter suaram frio quando um congressista lhes garantiu que tudo faria para que fossem presos por interferência eleitoral. O desconforto dos três inquiridos está a fazer a delícia das multidões, na web.

Esta audiência específica foi convocada para investigar o papel desempenhado pelo governo, especificamente pelo FBI, e pelo Twitter na censura da reportagem do New York Post sobre o dantesco computador portátil que Hunter Biden perdeu em Delaware.

A ex-Directora Jurídica do Twitter Vijaya Gadde, o ex-Conselheiro Geral Adjunto James Baker, e o ex-Chefe Global de Confiança e Segurança Yoel Roth foram grelhados em lume vivo pelos representantes republicanos do Comité, com o Congressista Clay Higgins a informá-los que podem muito bem ser condenados a tempo de prisão por interferirem nas eleições presidenciais de 2020.

“A conclusão final é que o FBI teve o portátil da criminosa família Biden durante um ano. Eles sabiam o que estavam a fazer. Eles sabiam que a fuga de informação iria prejudicar a família Biden. Assim, o FBI usou a sua relação com o Twitter para suprimir a revelação de actos criminosos de Joe Biden, um mês antes das eleições de 2020. Vocês, senhoras e senhores, interferiram com as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América! Com conhecimento de causa e de boa vontade. Essa é a má notícia! Vai ficar pior! Porque esta é a primeira parte da investigação. Mais tarde virá a parte da detenção; os vossos advogados estão familiarizados com isso. Vou gostar de passar cinco horas convosco nos depoimentos que estão por vir.”

 

 

Noutro momento da audiência, a representante Nancy Mace também se entreteu a sovar os ex-executivos, a propósito dos Twitter Files de Elon Musk, que revelam a supressão activa de informação perita sobre a Covid.

“Eu, juntamente com muitos americanos, sofri efeitos a longo prazo da COVID. E não só fui uma doente de longo prazo, como também sofro efeitos secundários da vacina. Não foi a primeira dose, mas a segunda. Agora desenvolvi asma, que nunca mais desapareceu desde que tomei a segunda dose. Tenho tremores na minha mão esquerda. E tenho dores de coração ocasionais que nenhum médico consegue explicar. Já fiz uma bateria de testes. Acho que o trabalho de supressão de informação médica do Twitter é extremamente alarmante.”

Dirijindo-se directamente a Vijaya Gadde, Nancy Mace perguntou:

“Você não é médica, certo? O que é que a faz pensar que tem conhecimentos para censurar dados do CDC reais e precisos?”

Gadde alegou pateticamente que não estava familiarizada com “situações particulares”.

 

 

O representante republicano pelo estado de Ohio, Jim Jordan, acusou os constrangidos censores de serem manipulados pelo FBI, no caso do Computador de Hunter Biden, forçando Yoel Roth a admitir que a reportagem do New York Post não violava nenhuma política do Twitter, mas que tinha sido censurada ainda assim. Disse Jordan em jeito de conclusão:

“Cinco dias depois de vocês terem suprimido a história de Hunter Biden e bloqueado a conta do New York Post, 51 antigos funcionários dos serviços secretos publicaram uma carta em que disseram que ‘a história de Hunter Biden tem todas as marcas clássicas de uma operação de informação russa’. A operação de propaganda foi executada sobre vocês, e depois, por extensão, foi executada sobre o povo americano. E essa é preocupação fundamental”.

 

 

Anna Paulina Luna, uma estrela ascendente da bancada republicana na Câmara dos Representantes, não perdeu a oportunidade de fazer tremer mais um bocadinho o já trémulo painel de inquiridos:

“Esta é uma acção conjunta entre o governo federal e uma empresa privada para censurar os americanos e violar a Primeira Emenda. O que todos vocês estavam a fazer é altamente ilegal, e quero que saibam que serão responsabilizados.”

 

 

A propósito do fecho de contas por motivos ideológicos, prática corrente do Twitter quando os apparatchiks presentes na audiência exerciam funções de direcção na empresa, a representante republicana Lauren Boebert fez-lhes a pergunta que milhões de utilizadores sempre quiseram fazer:

“Quem é que pensam que são?”

Boebert prosseguiu no mesmo tom de representação populista, que lhe é característica:

“Posso contactar o Elon e a sua equipa, e posso saber o que aconteceu, e posso sentar-me aqui hoje e responsabilizar-vos a todos por isso. Estou zangada pelos milhões de americanos que foram silenciados por causa das vossas decisões, por causa das vossas acções, por causa da vossa conivência com o governo federal. Eles não conseguem contactar o Elon. Eles não podem sentar-se aqui hoje e responsabilizar-vos”.

 

 

O presidente do Comité, James Comer do Kentucky, destacou Tweets de Roth no passado, em que chamava “nazis” aos republicanos.

 

 

A representante pela Geórgia Marjorie Taylor Greene disse a Roth, sem conseguir disfarçar a repugnância:

“Proibiu permanentemente a minha conta, mas permitiu a pornografia infantil por todo o Twitter”.

 

Perante este festival de merecidíssimas bengaladas, os comissários soviéticos encolheram-se muito, alegaram desconhecimento dos casos pontuais ou negaram qualquer acto errado ou ilegal. Mas é duvidoso que até eles estejam convencidos disso.

James Baker disse não se lembrar de ter falado com o FBI enquanto trabalhava no Twitter, e negou ter agido de forma ilegal, naquela que é, pelo que sabemos dos Twitter Files, uma grosseira mentira ao Congresso, penalizável por lei:

 

 

Yoel Roth tentou argumentar, para espanto generalizado, que a censura no Twitter sob a sua vigilância ajudou até a proteger a liberdade de expressão enquanto lamentou que a conta conservadora LibsOfTikTok ainda esteja activa no Twitter:

Está por descobrir um tratado de ética que explique como é que alguém consegue simultaneamente defender a censura e apresentar-se como campeão da liberdade do discurso.

E entretanto, do outro lado da trincheira: