O Frei Edward Meeks é um padre católico da Ordem da Cadeira de S. Pedro, fundador da Igreja do Cristo Rei em Towson, no estado de Maryland. O seu percurso é curioso porque começou como pastor protestante, abdicou para voltar à vida secular e, em 2012, fez-se ordenar como clérigo católico.

As homilias do Frei Edward Meeks são geralmente desassombradas e o discurso deste padre heroico não reconhece os limites impostos pelo fascismo que domina o debate público e os cânones que condicionam o discurso religioso. Se todos os padres fossem, mesmo que minimamente, articulados e valentes como este, a Igreja Católica não se encontraria certamente no processo decadente que hoje se regista. Cada homilia deste homem é uma pedrada no charco da mediocridade. Um exercício de coragem e lucidez.

Neste artigo, o ContraCultura destaca quatro homilias entre as muitas que o frade carrega no seu canal do Youtube.

 

Sobre a fragmentação da sociedade americana.

“Como podemos caracterizar uma cultura em que um homem pode ser formal e oficialmente reconhecido como mulher só porque ele assim o diz?”

Nesta primeira homilia, que data de Fevereiro de 2022, o santo homem imprime uma acrescida intensidade ao dedo que gosta de colocar na ferida aberta que é a actual sociedade americana, interrogando retoricamente a sua audiência: como definir uma cultura que transforma homens em mulheres e mulheres em homens através do pobre e volátil recurso da opinião; como definir uma sociedade que promove o aborto, o divórcio, o adultério e a pornografia acima dos valores da família; que vive pacificamente com dezenas de milhares de mortos por overdose de opiáceos (principal causa de morte nos Estados Unidos), que faz o elogio do crime e a crítica da legítima defesa, que anula e persegue e ridiculariza os valores judaico-cristãos que estão na base da sua fundação e do seu programa constitucional?

Como definir uma federação fragmentada pelo ódio racial e dividida por classes que são castas do capitalismo anónimo e corporativo e que se alimenta da putrefacção dos media e das redes sociais, mecanismos de transformação psicopática da realidade, esgotos tóxicos da estupidez humana?

 

O politicamente correcto também é incorrecto e a suscetibilidade gratuita também é ofensiva.

“O ofendido também é ofensivo, não é?”

Numa outra homilia, publicada em Julho de 2021, Meeks recorre a passagens dos evangelhos de Marcos e João para explicar àqueles que se ofendem por tudo e por nada, que estes, na sua sensibilidade politicamente correcta, também são capazes de ser bastante incorrectos e deveras ofensivos. Que esse melindre niilista promove na verdade uma diabólica tirania de cobardes. E que a única redenção possível, a verdadeira saída de emergência desse inferno totalitário, é oferecida pela fé cristã.

 

O exorcismo da mentira.

Assim a justiça retrocede e a rectidão desaparece, porquanto a verdade tombou na praça pública, e a decência já não entra na cidade.
Isaías 59:14

Em Outubro de 2021, Meeks disserta sobre as mentiras que passam a verdades, a um ritmo vertiginoso, num fingimento absurdo que vai contra tudo aquilo que observamos e que sabemos e que acreditamos como verdadeiro, num movimento corruptor que destituiu o fórum público da sua necessária relação com a realidade.

 

Homilia de Natal: o mal absoluto não é ficção.

“Ironicamente, pessoas que afirmam serem guiadas pela razão e pela ciência sustentam algumas das mais irracionais posições morais.”

Nesta incisiva missa natalícia, o padre de Towson aponta os seus recursos retóricos para um dos mais graves problemas ontológicos dos ateístas: como não acreditam em Deus, também não acreditam no Diabo. E considerando que o absoluto bem implica necessariamente um absoluto mal, e que ambos são existencialmente incontornáveis e historicamente demonstráveis, quando desistimos de Deus ficamos, mesmo que inconscientemente, a sós com Satanás, que não precisa da fé para exercer o seu ofício de cinzas.