Em protesto contra o abuso e assassinato de membros do Falun Gong, médicos e técnicos de saúde simulam uma acção de colheita de órgãos num fictício campo de trabalho chinês, em frente à sede da presidência em Taipei, Taiwan. Abril de 2006. (Getty Images)

 

Um dos maiores especialistas mundiais na indústria da colheita forçada de órgãos da China disse ao Congresso americano em Maio do ano passado que o Partido Comunista chinês pode estar a matar até 50.000 prisioneiros em campos de concentração por ano, com o fim de “colher” os seus órgãos e comercializá-los no mercado negro.

Ethan Gutmann – um investigador sénior da China que estuda na Victims of Communism Memorial Foundation e que é co-autor de trabalhos de referência sobre o assunto como “Bloody Harvest” e “The Slaughter”, sublinhou que cada indivíduo saudável morto poderá produzir dois ou três órgãos, o que significa que a China estaria a vender até 150.000 órgãos destas vítimas.

Gutmann testemunhou sobre estes crimes, juntamente com vários outros peritos – incluindo Enver Tohti, um cirurgião do Turquistão Oriental que afirma ter sido forçado a extrair órgãos de um prisioneiro político em 1995 – numa audiência organizada pelo Deputado Chris Smith (R-NJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso, intitulada “Colheita Forçada de Órgãos na China: Examinando as provas”.

A audiência seguiu-se à publicação de provas de que a China está a matar pessoas saudáveis para vender os seus órgãos no mercado negro a compradores milionários. Um estudo publicado em Abril por investigadores da Universidade Nacional Australiana (ANU) chega ao ponto de acusar a China de

“execução por remoção do coração”.

 

 

Na última meia década, a China construiu uma rede de mais de 1.000 campos de concentração no Turquistão Oriental ocupado, a sua região mais ocidental e lar da maioria dos membros do grupo étnico uyghur; utilizando essas tenebrosas infra-estruturas para torturar, doutrinar, escravizar, violar e matar uyghurs e outros membros de minorias religiosas e étnicas. Os chineses não negam a existência dos campos, mas afirmam que são “centros de formação profissional” onde os povos tidos por Pequim como atrasados aprendem competências profissionais para competir na economia chinesa moderna.

Citando entrevistas com sobreviventes dos campos de concentração, Gutmann disse ao Congresso que os testemunhos indicam que a China analisa clinicamente as vítimas dos campos de concentração de forma a verificar se os seus órgãos são viáveis para transplantes e aqueles que passam o teste desaparecem rapidamente.

“Há dois tipos de pessoas que deixam os campos de concentração mais cedo: O primeiro são os jovens, com cerca de 18 anos de idade. O anúncio de que estão ser ‘graduados’ é muitas vezes feito durante o almoço, perante o aplauso de guardas e presos. Mas a ‘graduação’ é um eufemismo para os trabalhos forçados, muitas vezes numa fábrica no leste. A idade média do segundo grupo é normalmente de 28 ou 29 anos – a fase exacta de desenvolvimento físico que o estabelecimento médico chinês prefere para a colheita de órgãos. Após testes médicos, os escolhidos neste grupo desaparecem a meio da noite.”

Os depoimentos de testemunhas de cerca de vinte acampamentos são espantosamente consistentes e relatam entre 2,5% a 5% de desaparecimentos anuais para a faixa etária de 28 anos. Gutmann acrescentou que:

“Se partirmos do princípio que em qualquer momento desde 2017, há aproximadamente um milhão de Uyghurs, Cazaques, Quirguizes e Hui nos campos, a minha estimativa é de que 25.000 a 50.000 detidos estão a ser executados para recolha de órgãos, em cada ano.”

Gutmann e Tohti observaram ambos nos seus testemunhos que os aeroportos chineses têm vias expressas para o trânsito de órgãos e que este fenómeno parece mais notório nos aeroportos do Turquistão Oriental. Gutmann declarou que acredita ter identificado pelo menos um provável receptor de órgãos perto de Xangai, com ligações a Aksu, localidade do Turquistão Oriental onde está instalado o mais importante hospital da Província de Zhejiang. Gutmann observou que

“os transplantes de fígado desse hospital aumentaram 90% em 2017. Os transplantes de rins aumentaram 200%.”

O perito apelou ao mundo livre para cortar todos os laços com a indústria de transplantes chinesa e proibir os médicos nativos com laços com a indústria de cooperarem de qualquer forma com os seus homólogos ocidentais.

“Esta catástrofe foi criada por Pequim, mas foi continuamente permitida por um punhado de médicos ocidentais que pensavam poder montar o dragão chinês e regressar a casa como se tudo fosse normal. Não conheço os mecanismos políticos que podem inverter isso. Mas o precedente é claro. Precisamos de abolir todos os contactos ocidentais com a indústria de transplantes da China continental. Nenhum cirurgião chinês de transplantes nas nossas revistas médicas, nas nossas universidades e nas nossas conferências. E um congelamento de todas as vendas de equipamento cirúrgico, desenvolvimento farmacêutico e testes, na China”.

Tohti narrou a sua experiência como jovem cirurgião em 1995: arrastado para um local de execução em massa, foi forçado a cortar rapidamente o coração de um prisioneiro político morto à sua frente. Referiu-se ao Turquistão Oriental como “um gigantesco laboratório humano a céu aberto” e acusou os chineses de utilizar os prisioneiros uyghur não só para a colheita de órgãos vivos, mas também para copiosos testes com armas nucleares e biológicas.

“Um antigo Coronel, Ken Alibek, do laboratório do Exército Vermelho russo no Cazaquistão, relatou no seu livro que os chineses podem ter testado armas biológicas em Xinjiang em 1980. Lembro-me que muitos estudantes se atrasaram para a inscrição devido a uma epidemia no sul de Xinjiang”.

Durante a audiência, o congressita Chris Smith (R-NJ), que preside à Comissão dos Direitos Humanos, apelou a um

“esforço concertado imediato para acabar com esta prática bárbara – não só na China, mas também pelos seus facilitadores globais.”

Smith introduziu legislação no ano passado, a “Stop Forced Organ Harvesting Act”, para sancionar indivíduos envolvidos na colheita forçada ou no tráfico de órgãos de prisioneiros políticos. O projecto lei exige também que o Departamento de Estado e os Serviços de Saúde americanos forneçam relatórios anuais sobre o fenómeno, para que os legisladores possam saber quem sancionar e que outras acções tomar.