Não será razoável conjecturar que a Apple ou a Samsung coloquem no mercado, a curto ou médio prazo, os seus primeiros computadores quânticos, para consumo de massas. E mesmo que isso aconteça dentro de uma ou duas décadas, já não nos servirá de grande coisa a todos aqueles que não vão ter aptidão técnica ou recursos educacionais para dominar o seu funcionamento e as suas potencialidades. Que, pelo menos nas primeiras gerações da tecnologia, serão muitos.

Além de tudo o mais, os computadores de processador quântico vão transformar o Sapiens 1.0 no Sapiens 2.0. E, o mais certo, é que nessa altura o conceito de computador já tenha sofrido bastantes alterações, de tal forma que não seja uma máquina exterior ao corpo, mas antes um complemento cibernético da arquitectura humana.

Seja como for, o processo científico e industrial da cibernética segundo o Princípio da Incerteza está a dar os seus primeiros passos. A ideia central é tirar partido de fantasmáticas “anomalias” do comportamento das partículas como a superposição e o entanglement, de tal forma que o actual código binário multiplique a sua produtividade na ordem dos milhares percentuais. A diferença entre um bit e um qubit é que um bit ou é zero ou é um. Um qubit pode ser, no mesmo momento, zero e um. Mais: pode ser o zero e o um de outro qubit. Isto levanta todos os potenciais que podemos imaginar, em termos de capacidade de processamento. E, também, do que será capaz de fazer a inteligência artificial na segunda metade do século XXI (para o bem e para o mal, como sempre).

Não se trata de uma revolução para agora, independentemente do que possam dizer os mais optimistas. Existem grandes dificuldades ao nível da coerência energética das partículas e é preciso trabalhar consistente e afincadamente em múltiplas frentes tecnológicas para que um computador quântico esteja à venda, a um preço de classe média, numa Worten perto de si, caro leitor. Para que caiba em cima ou em baixo da sua secretária. Para que consiga ser completamente imune ao ambiente do seu escritório. Para que consiga manter estáveis temperaturas abaixo do zero absoluto.

E para ilustrar o argumento serve o Q System One, o primeiro computador quântico da IBM.

 

 

É um caixote com 3x3x3 metros que na verdade não caberia no seu escritório, caro leitor, e que não tem ainda grande préstimo porque não devem existir mais que umas cinco mil pessoas no mundo que saibam operá-lo e porque aquilo que consegue fazer não supera, neste momento, o que faz um Apple topo de gama dez vezes mais pequeno, dez mil vezes mais barato e bastante mais amigável.

Mas atenção: A IBM conseguiu criar um modelo técnico que garante estabilidade e estanquidade, permitindo que o sensível e gelado ambiente de processamento quântico – que exige total isolamento e temperaturas sub-polares – não seja contaminado ou perturbado. Este é um passo muito significativo para a industrialização da tecnologia. E, como o vídeo em baixo bem demonstra, nos anos 50 do século passado também era necessária uma sala enorme para manter a funcionar um computador com um centésimo da capacidade de processamento de um smartphone actual.

Por isso, vamos deixar os peritos trabalhar, e ver o que é que sai daqui. Sem nunca nos esquecermos que este género de tecnologias de alta complexidade e poder incalculável podem ser utilizadas contra valores, direitos e liberdades que consideramos essenciais. E constituir até uma ameaça à natureza humana.