“Todos os problemas do homem que teme pela sua humanidade se resumem a uma questão: como permanecer livre?”
Stefan Zweig

 

O que fazer quando a teu lado todos calam, todos obedecem;
O que fazer quando os horrores do passado no presente florescem.
O que fazer quando a liberdade da tua juventude se escapa do tempo em que envelheces
E até Cristo parece recusar o grito das tuas preces.

O que fazer quando do lodo da história emerge o mal absoluto
E não tens em ti a coragem para travar esse carnaval dissoluto.
O que fazer quando o argumento totalitário não encontra um travão contraditório
e os carrascos carregam o carvão para o crematório.

O que fazer quando amigos, familiares e pares que amas,
Desertam da trincheira onde lutas sozinho contra as chamas.
O que fazer quando os bois se acomodam, gordos e felizes, no curral do inferno,
conduzidos por mitos antigos ao equívoco moderno.

O que fazer quando a teu lado todos obedecem, todos calam;
O que fazer quando multidões alucinadas se escravizam e encurralam.
O que fazer quando o mundo com que sonhaste infante, se escapa da tua velhice
e até Jesus parece desdizer aquilo que disse.

O que fazer quando a história se repete e ninguém nota
E a tua voz rouca não se houve por entre o ruído da anedota.
O que fazer quando o medo é fabricado pelos que prometem a salvação,
e os carrascos carregam o crematório com carvão.

O que fazer quando estás sozinho perante o abismo
Sem soluções práticas para além do abandono ao alcoolismo.
O que fazer quando te quedas perante a ruína das boas ideias e o triunfo das péssimas,
Num universo sem grandes prémios nem penas máximas.

O que fazer para permaneceres livre quando jazes moribundo
E até o Nazareno parece ter desistido de redimir o mundo.