Depois de ter sido cancelado pela turba woke e pelos poderes instituídos por causa de um artigo satírico sobre Meghan Markle e de ter pedido desculpa pela sua ousadia – facto que mereceu opinião críitica do ContraCultura – Jeremy Clarkson parece ter voltado a recuperar qualquer coisa parecida com uma espinha dorsal, tendo publicado este sábado no The Sunday Times um explosivo artigo sobre a operação militar que a esquerda woke está a desenvolver no Reino Unido.

Da mesma forma que o Contra foi crítico de Clarkson pela seu humilhante e inútil acto de auto-flagelação pública, também agora devemos elogiar e deixar registo deste momento de redenção e coragem, e o que se segue é uma tradução livre para a língua portuguesa da coluna de opinião que está a incendiar os ânimos em Inglaterra.

 

Estamos no meio de um golpe de estado. Quem está por trás dele?

O meu filho apareceu no outro dia para um jantar de pai e filho, e enquanto ele se agitava à volta do fogão, fazendo uma fritada particularmente crocante, rimo-nos de quem tinha sido banido naquele dia e de quem tinha sido cancelado. E depois, após uma pausa, ele disse com uma cara solene: “Sabe que há uma guerra em curso, não sabe?”

Ele não estava a falar da Ucrânia. Estava a falar de uma campanha da esquerda para obliterar o tecido social e cultural da Grã-Bretanha. E o génio da campanha é que ninguém percebe realmente que o que se está a fazer é muito sério. Rimo-nos enquanto mudam o nome da Escola Primária Sir Francis Drake para algo menos esclavagista. Pensamos que é tudo uma grande brincadeira. Mas não é.

Pense no que normalmente acontece numa operação militar e depois veja o que a esquerda woke fez aqui. Tomou o controlo das nossas estações de televisão e rádio a tal ponto que na semana passada Sophie Raworth disse, na BBC News at Six, com uma cara séria, “E agora ao nosso correspondente LGBT e de diversidade …”.

E a ficção televisiva? Não foi afectada?  Quando foi a última vez que viu uma força policial fictícia a caçar um bando de extremistas muçulmanos? É sempre a extrema-direita. E é a mesma história na comédia. É possível dizermos o que quisermos sobre conservadores como Rishi Sunak e Boris Johnson. Mas se fizermos uma piada sobre os pronomes LGBT ou sobre Greta Thunberg, vão voar troncos de madeira sobre o palco.

No desporto temos por vezes três mulheres a fazer o comentário de um jogo de futebol masculino, e se alguém comentar isto no Twitter, elas são imediatamente destacadas como super-heroínas.

Mas quem é que está por trás do golpe? Quem é que está a ditar as regras? É isso mesmo: não fazemos a menor ideia. O que sabemos é que, tendo tomado o controlo das estações de televisão sem disparar um tiro, os golpistas voltaram a sua atenção, como qualquer exército conquistador, para as escolas. Aqui, entraram completamente em modo Pol Pot, fazendo um trabalho completo de revolução curricular, para que as crianças soubessem que os seus pais eram todos racistas. Para além dos que tinham “preconceitos inconscientes”. Que também eram racistas.

Provavelmente pensa, porque não sabe que esta guerra está em curso, que quando deixar o Joãozinho nos portões da escola ele vai aprender a tabela dos nove nesse dia. Não, não vai. Ele vai aprender que pode na verdade ser uma rapariga, e é por isso que existem distribuidores de pensos higiénicos nos lavabos dos rapazes.

Com tudo isto no seu lugar, eles dirigiram-se à polícia, e aqui fizeram um trabalho tremendo. Porque, tanto quanto sei, quase todos os agentes do Met – para além do número aterrador de pervertidos sexuais – estão agora mais acordados [trocadilho intraduzível com o termo “Woke”]  do que uma raposa assustada.

Quando alguns jovens com cabelo verde se colam à estrada, um grande número de oficiais é despachado para ficar a olhar por eles. E só são retirados do alcatrão se prometerem ir imediatamente atirar sopa às obras de arte do museu que estiver mais próximo.

Mas há mais. Em 2017 uma jovem mulher com Asperger publicou alguns versos de rap em memória do seu amigo de 13 anos, que tinha morrido num acidente de carro. Porque estas letras continham a palavra “nigger”, como muitas canções de rap contêm, a procuradoria dos crimes de ódio decidiu acusá-la. E o juiz, apesar da canção ter sido tocada duas milhões de vezes no YouTube, penalizou a pobre rapariga uma ordem de prisão domiciliária e uma pulseira par ao tornozelo, obrigando-a a pagar 500 libras em custos judiciais, bem como uma sobretaxa de 85 libras para as vítimas. A sentença foi posteriormente anulada.

Ainda pensa que a esquerda tresloucada não está aos comandos? Está até no seu escritório. Se gerir um negócio e descobrir que uma pessoa com um fato de andrógeno tem estado sentada todo o dia a preocupar-se com ursos panda e com que pintura necessita mais de um caldo de rabo de boi, sabe que não pode dizer-lhe absolutamente nada, e muito menos esperar que essa pessoas trabalhe. Porque então eles vão afirmar que a saúde mental dessa pessoa foi afectada e que quem a incomodou terá de ser despedido.

Eles estão zangados consigo, por isso fazem uma queixa, e não há qualquer esperança de sobreviver a isso. O que significa que terá de passar todos os dias durante os próximos meses sentado num banco no parque a alimentar os patos porque não tem a coragem de dizer à sua família que foi despedido por ter usado a palavra “homossexual”, que é agora, pelo que aprendemos na semana passada com um porta-voz do Home Office, um termo clínico.

Chegámos pois a um ponto em que o líder da oposição está tão manietado e assustado que não conseguiu responder quando lhe perguntaram se uma mulher podia ter um pénis. Ele sabe o que aconteceu a JK Rowling quando ela se meteu neste debate. Ele sabe que lá fora, escondido e invisível, existe realmente um exército com a capacidade de retirar da vida pública qualquer pessoa que discorde dos seus pontos de vista cada vez mais militantes.

Pelo menos Arthur Scargill [líder sindical britânico do último quartel do século XX] teve a decência de declarar os seus objectivos em público. Esta malta não o faz. Sentam-se em casa, escondidos na sombra impenetrável do anonimato, inventando novas regras para ludibriar qualquer um e todas as pessoas que consideram indignas. Os Monty Python brincavam com a Inquisição Espanhola, quando assinalavam nela o crime de heresia pelo pensamento. Mas hoje é uma realidade.

E nesta altura eu ia explicar como esta guerra está agora a ser travada contra o nosso chefe de Estado, o Rei Carlos. Mas fiquei sem espaço. Maldição.

 

Ainda bem que o The Sunday Times estipula um limite de caracteres, porque o que Clarkson ia escrever a seguir arruinaria as virtudes do seu texto. Pelos vistos, o popular apresentador de televisão ainda não percebeu que o seu rei, como o seu primeiro ministro, são parte activa do golpe de estado que tanto se esforçou aqui para denunciar. Mas a este ritmo, lá chegará, muito provavelmente.