The Critical Drinker é um dos mais populares críticos de cinema no Youtube, contando com 1,26 milhões de subscritores. A nomenclatura que escolheu, a forte pronúncia escocesa, o tom decadente e arrastado podem parecer à primeira vista artificiais e pueris, mas trata-se de alguém que sabe do seu ofício, que trabalha desalmadamente (no Youtube só triunfa quem trabalha desalmadamente), que não está nada interessado em passar por intelectual pós-modernista, pelo contrário, e que faz uso de senso, sensibilidade e bom gosto para separar o trigo do joio.
Acontece que nos últimos cinco a dez anos a profissão que escolheu tornou-se extremamente sofrida, porque entretanto as indústrias de entretenimento audiovisual transformaram-se em furiosas máquinas de produzir propaganda woke, autênticas trituradoras da moral e da estética, instrumentos de lavagem ao cérebro das massas que têm como única missão impor uma maneira “correcta” de pensar sobre a história, a sociedade e o indivíduo.
Numa série de ensaios de análise mordaz e comentário lapidar (neste artigo colocamos apenas 5 dos 9 clips do extenso trabalho do youtuber escocês), o crítico explica porque é cada vez mais frequente sair das salas de cinema com aquela sensação de que sétima arte já não é uma arte. Com aquela sensação de que os personagens não têm profundidade, as histórias não tem substância, os actores não têm carisma. Com aquela sensação de que já não há heróis, já não há valores transcendentes que justifiquem as jornadas épicas, já não há qualidade literária nos diálogos, já não há racionalidade nas motivações nem lógica nos comportamentos.
O ensaísta, entre uns valentes shots de whisky, explica bem explicado porque é o espectador fica invariavelmente desconfiado de que a fita que viu não foi criada para o entreter, mas para o doutrinar; não foi filmada para o esclarecer, mas para o confundir; não foi realizada para o elevar, mas para o insultar; não foi produzida para sua fruição, mas para sua condenação.
As indústrias cinemáticas sempre foram na verdade condicionadas ideologicamente, aparelhos propagandistas programados para a convergência da opinião, espécie de incubadoras do pós-modernismo responsável pelo sacrifício da arte no altar niilista do relativismo moral e estético de tudo. Mas hoje, mais do que nunca, deixaram de se preocupar com a subtileza, a criatividade, o cuidado técnico, a qualidade artística, o padrão performativo, a credibilidade narrativa. São oficinas de baixa indústria que trabalham com o único propósito de debitar a ideologia das elites, a agenda globalista das grandes corporações, o novo liberalismo socialista das super-estruturas burocráticas.
Já nem a boa e velha ganância, motor histórico de prosperidade, serve aos radicais que passam hoje por cineastas. Não importa o prejuízo dos filmes que ninguém quer ver, desde que a mensagem seja a correcta, desde que o conteúdo seja devidamente sovietizado. Não importa o fosso cada vez mais abismal entre os críticos arregimentados para aplaudir a desgraça e os públicos que rejeitam a charlatanice. O rei vai nu, mas vai convicto de que a sua nudez, de que o seu ridículo, triunfará sobre a barbárie das massas, reaccionárias e ignorantes. O rei vai nu, mas vai convicto de que o seu impudor triunfará, dada a ausência de alternativas, a falência da iniciativa independente e a extinção mediática da divergência.
A moral das histórias, já não é pensada para inspirar a virtude ou propagar valores altruistas. Ao invés, a filmografia actual que vem de Hollywwod e da Netflix e da HBO e de outros centros de propaganda woke, parece dedicar-se a criar seres humanos fracos, invejosos, preguiçosos, revoltados, arrogantes e inúteis; divididos entre equívocos conceitos de raça e de género e condicionados para transformar rapidamente o mundo num inferno insuportável.
Mais a mais, a partir do momento em que os palhaços ricos de Hollywood começaram a projectar as suas fúteis vidas e as suas insuportáveis opiniões nas redes sociais, começámos a penetrar na esfera aberrante de quem eles são realmente: uma corja de ignorantes e privilegiados e hipócritas e nem por isso especialmente dotados seres humanos. Despidos do glamour do grande ecrã, da cosmética que lhes esconde as rugas da banalidade e da aura de mistério que sempre rodeia os famosos, ficaram a nu com a sua infâmia e a sua mediocridade. E a plateia global percebeu rapidamente que esta gente não interessa a ninguém.
O uso, abuso e exagero desmesurado dos efeitos digitais ou CGI não ajudou nada ao decaimento estético e ético. A desumanização e descontextualização do cinema pelo recurso às tecnologias cibernéticas não tem, como até certa altura foi expectável, contribuído para a qualidade das narrativas, a densidade dos personagens e a criatividade das artes vídeo, muito pelo contrário.
E quanto mais mirabulantes e surreais e pseudo-épicas são as sequências fabricadas, muitas vezes totalmente, no disco rígido dos computadores, mais alienado e indiferente fica o espectador. Os recursos ilimitados da era digital tiveram o efeito de descredibilizar as cenas de acção, de esterilizar as intrigas, de roubar a alma aos protagonistas e de reduzir o conteúdo artístico das cenografias.
Quando vemos aqueles tipos em collants de cores berrantes, ensaiando movimentos sem sentido num palco desnudado de tudo menos da cor do croma, que respeito temos por eles? Que glamour encontramos num super-herói cujos músculos são simulados por um computador? As primeiras vítimas do CGI serão os actores, claro, mas em última análise todos perdemos, porque sempre que nos subtraem a visceral e necessária relação com a realidade, há todo um universo de emoções que se dilui num imenso nada de zeros e uns.
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