Apesar de vivermos sem dúvida na era mais pacífica da história universal, apesar de residirmos num dos países mais seguros da Europa e da Europa ser o continente mais seguro do mundo, as pessoas vivem embrulhadas em várias e profundas e complexas camadas de medo.
As pessoas têm, por exemplo, medo do sol. Quando chega o Verão, escondem-se na sombra e chegam à praia às seis da tarde com largos chapéus metafóricos e abundantes pomadas psico-protectoras para evitarem o cancro da pele e doenças várias e imaginárias sem perceberem que a exposição solar é imprescindível à boa condição clínica da humanidade.
As pessoas têm medo da chuva. Têm medo da chuva quando ela cai, porque os produtores de pesadelos do telejornal encarregam-se imediatamente de dramatizar as cheias, anunciar dilúvios globais e ameaçar com apocalipses climáticos. E têm medo da chuva quando ela não cai, porque os produtores de pesadelos do telejornal encarregam-se imediatamente de dramatizar as “secas extremas”, anunciar fomes globais e ameaçar com apocalipses climáticos.
As pessoas têm medo de morrer. Têm um completo e delirante medo de morrer, que vai aumentando concomitantemente com a idade, o que faz absolutamente sentido nenhum: se é verdade que a experiência conta – e de que maneira – essa virtude acumulada só nos ensina a certeza de que se há alguma realmente importante coisa que precisamos de fazer como seres vivos é ter filhos e saber morrer, calmamente, mais tarde ou mais cedo, depois disso.
As pessoas têm medo do mar, têm medo das alturas, têm medo da velocidade, têm medo de voar e têm medo de ir aqui e ali por causa disto ou por causa daquilo. As pessoas têm medo que o céu lhes caia em cima da cabeça e têm medo da solidão e têm medo das multidões e têm medo dos polícias e têm medo dos ladrões. As pessoas têm sobretudo medo – e aqui com alguma justificação – do Ministério das Finanças.
As pessoas têm medo das palavras. Têm medo de dizer o que pensam, e medo de ouvir os pensamentos dos outros. Têm medo de ser inconvenientes e de serem sujeitas às inconveniências dos outros. As pessoas têm medo de serem ofendidas ou agredidas (para as pessoas é mais ou menos a mesma coisa) e têm medo de ofender e agredir. As pessoas tem um medo horrível da verdade. Borram-se todas quando são sujeitas a isso.
As pessoas têm medo de beber um copo a mais, têm medo do bife, têm medo do leite, têm medo do sal, têm medo do açúcar, têm medo das galinhas como das sardinhas; têm medo do chocolate e do gelado de caramelo. As pessoas têm medo de abusar e de serem abusadas. As pessoas têm medo de dar nas vistas e têm medo de passar despercebidas.
E é verdade que neste cardápio do pânico, há muito por onde escolher: pandemias gripais e extinção das abelhas, terramotos e tsunamis, armagedãos termo-nucleares, impactos meteóricos, explosões solares, juízos finais, invasões extraterrestres, eventos sobrenaturais, paranormais e fantasmáticos. Não interessa a fantasia, porque o medo é sempre real: localiza-se na jugular das pessoas e as pessoas não conseguem viver sem jugular e quem tem jugular tem medo.
Aparentemente, as pessoas só não têm medo de serem injectadas com uma terapia genética experimental. De resto, tudo temem.
É claro que todos sabemos ou devemos saber que o medo, em dose sensata, é um instrumento de sobrevivência e até, aqui entre nós, de civilização. Todos sabemos ou devemos saber que é o medo que faz os heróis. E que dá corpo às grandes rábulas da história e da literatura. E que dá sentido à glória. E que é motor da paz, na maior parte dos casos.
Mais ainda assim, caramba, há um momento em que o medo já não é medo. É cobardia pura e dura.
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